DEPRAVAÇÃO NÃO É ARTE
Paulo Maria de Aragão*
Numa exposição em Londres, já vai algum tempo, o
fotógrafo americano Leigh Ledare chocou visitantes ao expor uma série de
fotografias por ele tiradas da própria mãe, Tina Peterson, ex-bailarina
profissional, fazendo sexo explícito com um jovem. Impensável é a
permissividade a que chegaram. As fotos repulsivas correram o mundo e dividiram
a opinião pública.
Desvio de conduta sexual para uns, para outros uma encenação de arte. Não seria ele um travestido voyeur: "Vejo o desempenho da sexualidade de minha mãe como tendo uma
série de funções, entre elas, desafiar o clima de moralismo e conformismo em
torno dela, como uma forma de proteger-se do seu envelhecimento (...) e
recuperar a autoestima”. Talvez, em última instância, mesmo sem salvar a
própria pele, seria melhor admitir: exibicionista que ofende os pudores materno
e paterno. Enfim, um transtorno da sexualidade, mas psiquiatras, certamente, o designariam como anormalidade
patológica diversa.
O voyeurismo, aceito por muitos como “natural” -
alcance orgástico fora do conhecimento da pessoa cobiçada - não seria a
patologia caracterizadora da exposição pública em comento. Sem conteúdo,
sórdido e alienante, desola o sentimento e a perda de referência do
homem, fazendo-o interagir como robô nas relações sociais, frio e vazio. Da
mesma maneira, visto num museu na Europa, ao atribuir-lhe a condição de difusor
cultural, ao franquear semanalmente um dia de entrada a homens e mulheres nus
em seus recintos.
Os valores constitutivos da personalidade permanecem à deriva do bom senso e não causam mais espécie. A nudez tem seu espaço e beleza para ser explorada como cultura e abstrai-se do incentivo hedonístico, isolada da censura e da falsa pudicícia. É de todo pertinente o que já dizia Eça de Queirós, no ano de 1871, sobre a perda da razão de ser do mundo: “Estamos perdidos há muito tempo/ O país perdeu a inteligência e a consciência moral./ Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada./ Os caracteres corrompidos./ A prática da vida tem por única direção a conveniência”.
Nesse contexto, por mais que se tente ser aberto,
tolerante e sem preconceito, é difícil admitir que um estroina registre o ato
sexual da própria mãe, sob o argumento de demonstração artística. Sodoma e Gomorra, devido à
devassidão e à promiscuidade de seus
habitantes, foram destruídas. Contudo, a
expansão e a libertinagem das bacanais greco-romanas permaneceram encarnadas
nos nossos carnavais, festins licenciosos e particulares.
A intrigante mostra envolve uma mente perturbada,
ligada ao desejo edipiano não resolvido. Com efeito, é difícil de entender ser
ela derivada de culpa inconsciente quando intrincada no recôndito da mente
humana. Seria incogitável admitir que, por trás da inusitada exposição
fotográfica, exista um grande negócio financeiro entre os atores?
(*) Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ
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