quinta-feira, 25 de setembro de 2014

ARTIGO (PMA)

O GALO CANTOU DE MACHO
Paulo Maria de Aragão*

De tão machista, além de insensato, um indivíduo matou o galo só por ele haver cantado fino numa madrugada. O galináceo não foi poupado nem mesmo na incerteza de que o cocoricar “desmunhecado” continuaria nas noites seguintes. O sujeito era ainda refratário ao adágio: “Na casa onde a mulher manda, até o galo canta fino”.

A intolerância, em certas circunstâncias, faz-se imperiosa, como é o caso de muitos políticos comparáveis a vírus contagiosos que grassam devido à passividade da cidadania. Em um país que tem grande parte da população semi-analfabeta, o crescimento é travado, e essa triste realidade há de ser vista e combatida sem os óculos cor-de-rosa da fantasia. A ignorância não pode nutrir massas, como nos tempos de César.

O uso consciente do voto é a arma letal para fazer frente à compra de cadeira parlamentar, prática dolosa e ilícita, pois quem investe quer retorno. Ademais, a falação demagógica é cansativa e sem originalidade; salva-se como atração circense, dada a desfaçatez da flatulência verborrágica, mas há quem goste do horário eleitoral, das discussões patéticas, como “Adão tinha ou não tinha umbigo?”.

Outro caso repulsivo foram os gastos nas construções milionárias e excessivas de estádios na Copa. Contribuintes pagaram preço alto pelo evento, e poucos puderam ver os jogos, apesar da isenção de impostos conferida à FIFA e às parceiras. O Rio, maquiado, ficou mais “lindo”, mendigos deixaram o cenário e, só após o evento, retornaram ao status quo. A sociedade capitalista cria o progresso, mas também a indigência nas cidades e procura escondê-la.  

O adeus do Brasil à Copa, com um futebol medíocre, não foi imerecido. O velho clichê de “Pátria de Chuteiras, país do carnaval, afora outras toleimas, conserva mentes escravizadas pela ignorância, além da cultura de tirar proveito de tudo. Um país erige-se com educação, saúde, segurança, prosperidade econômica e uma população honesta, trabalhadora e não parasitária que não dependa de programas de inclusão social. 

Muitos “lavaram a égua” com o superfaturamento de obras e o desvio de dinheiro público. O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, custou R$ 1,4 bilhão (valor oficial), o mais caro do mundo por assento, o qual, provavelmente, se converterá em um dos elefantes brancos. Alguns setores já estão quebrados, não por vandalismo, mas pela péssima qualidade do material utilizado, fruto de uma fiscalização hilária, se não fosse delituosa.

Além dos desmandos da Copa, a FIFA usou e abusou da plenipotência, deixando acocorado o governo. Aqui fez pousada como competente e ética, sem o ser e, ao seu modo, cantou de galo: “Quem manda aqui sou eu!”. E mandou mesmo. O seu secretário-geral, Jérôme Valcke, chegou a dizer que os brasileiros teriam de levar um chute no traseiro por causa do atraso nas obras.

No entanto, se ela cantou de galo, foi porque não a fizeram capão, nem lhe cortaram os esporões, sequer a mandaram cocoricar alto no seu poleiro.


(*) Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

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