O GALO CANTOU DE MACHO
Paulo Maria de
Aragão*
De tão machista, além de insensato, um indivíduo matou o galo só por ele
haver cantado fino numa madrugada. O galináceo não foi poupado nem mesmo na
incerteza de que o cocoricar “desmunhecado” continuaria nas noites seguintes. O
sujeito era ainda refratário ao adágio: “Na casa onde a mulher manda, até o galo canta fino”.
A intolerância, em certas circunstâncias, faz-se imperiosa, como é o
caso de muitos políticos comparáveis a vírus contagiosos que grassam devido à
passividade da cidadania. Em um país que tem grande parte da população
semi-analfabeta, o crescimento é travado, e essa triste realidade há de ser
vista e combatida sem os óculos cor-de-rosa da fantasia. A ignorância não pode nutrir
massas, como nos tempos de César.
O uso consciente do voto é a arma letal para fazer frente à compra de
cadeira parlamentar, prática dolosa e ilícita, pois quem investe quer retorno. Ademais, a falação demagógica é cansativa e sem
originalidade; salva-se como atração circense, dada a desfaçatez da flatulência
verborrágica, mas há quem goste do horário eleitoral,
das discussões patéticas, como “Adão tinha ou não tinha umbigo?”.
Outro caso repulsivo foram os gastos nas construções milionárias e
excessivas de estádios na Copa. Contribuintes pagaram preço alto pelo evento, e
poucos puderam ver os jogos, apesar da isenção de impostos conferida à FIFA e às
parceiras. O Rio, maquiado, ficou mais “lindo”, mendigos deixaram o cenário e, só
após o evento, retornaram ao status quo. A sociedade
capitalista cria o progresso, mas também a indigência nas cidades e procura
escondê-la.
O
adeus do Brasil à Copa, com um futebol medíocre, não foi imerecido. O velho clichê de “Pátria de Chuteiras”, país do
carnaval, afora outras toleimas, conserva mentes escravizadas pela
ignorância, além da cultura de tirar proveito de tudo. Um país erige-se com educação, saúde, segurança, prosperidade econômica e
uma população honesta, trabalhadora e não parasitária
que não dependa de programas de inclusão social.
Muitos “lavaram a égua” com o superfaturamento de obras e o desvio de dinheiro
público. O Estádio Mané
Garrincha, em Brasília, custou R$ 1,4 bilhão (valor oficial), o mais caro
do mundo por assento, o qual, provavelmente, se converterá em um dos elefantes
brancos. Alguns setores já estão quebrados, não por vandalismo, mas pela
péssima qualidade do material utilizado, fruto de uma fiscalização hilária, se
não fosse delituosa.
Além dos desmandos da Copa, a FIFA usou e abusou da plenipotência,
deixando acocorado o governo. Aqui fez pousada como competente e ética, sem o ser
e, ao seu modo, cantou de galo: “Quem manda aqui sou eu!”. E mandou
mesmo. O seu secretário-geral, Jérôme Valcke, chegou a dizer
que os brasileiros teriam de levar um chute no traseiro
por causa do atraso nas obras.
No entanto, se ela cantou de galo, foi porque não a fizeram capão, nem lhe cortaram os esporões, sequer a mandaram cocoricar alto no seu poleiro.
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