A FRONTEIRA DA
TRANSMISSÃO DO SABER
Aluisio Gurgel do Amaral Júnior*
Aluisio Gurgel do Amaral Júnior*
Muito provavelmente veremos o fim da sala de aula como a
conhecemos na atualidade. Ela será substituída por uma sala virtual acessível
através do aparelho de telefonia móvel. O estudante simplesmente plugará o fone
de ouvido e assistirá o conteúdo "on line" esteja onde estiver. O
professor terá o conforto da sua casa para preparar o material pedagógico e
transmiti-lo a qualquer momento, sem necessidade de sincronia -- as aulas
estarão à disposição do estudante assim ele queira e seu tempo de estudo será
de sua responsabilidade. Eventuais dúvidas serão esclarecidas através de
videoligações via "skype", "FaceTime" ou outro aplicativo
que esteja na moda no futuro. Até aqui a realidade projetada parece muito bem
arranjada, mas falta uma ponta importantíssima do nó que deve ser adequadamente
atada: o sistema de titulação do estudante. Como o estudante será certificado
em seus estudos?
Talvez a maior ruptura do sistema esteja precisamente aí. A educação deixará de ser o sistema rentável que atrai o interesse da iniciativa privada. Completaremos um ciclo inevitável e retornaremos à idéia da antiga professorinha do bairro, mas com características que atribuirão aos professores do futuro alguns "superpoderes" até então inimagináveis, por assim dizer. O professor do futuro avaliará seu aluno diretamente junto ao portal da educação. Ao final do curso, vale dizer, completada a carga horária da sua disciplina, o aluno experimentará aprovação ou não. Aprovado, será certificado no seu registro; reprovado, será encaminhado a outro professor para repetição do programa da disciplina. Sua titulação advirá do apostilamento virtual do número de disciplinas em suficiência para a aquisição do título. Será mais ou menos assim tanto no ensino fundamental, quanto no ensino médio ou superior.
Talvez a maior ruptura do sistema esteja precisamente aí. A educação deixará de ser o sistema rentável que atrai o interesse da iniciativa privada. Completaremos um ciclo inevitável e retornaremos à idéia da antiga professorinha do bairro, mas com características que atribuirão aos professores do futuro alguns "superpoderes" até então inimagináveis, por assim dizer. O professor do futuro avaliará seu aluno diretamente junto ao portal da educação. Ao final do curso, vale dizer, completada a carga horária da sua disciplina, o aluno experimentará aprovação ou não. Aprovado, será certificado no seu registro; reprovado, será encaminhado a outro professor para repetição do programa da disciplina. Sua titulação advirá do apostilamento virtual do número de disciplinas em suficiência para a aquisição do título. Será mais ou menos assim tanto no ensino fundamental, quanto no ensino médio ou superior.
A adoção do novo paradigma educacional importa na admissão
da telefonia móvel como seu fundamento essencial, algo que as operadoras já
sabem desde que se iniciou o processo de pavimentação da estrada da informação.
O problema consistia na redução dos custos das pesquisas para comportar
miniaturização, altas velocidades e temperaturas elevadas. A equação de difícil
solução era atingir altas velocidades de transmissão de dados em nanoespaços
sem que a colisão de partículas elevasse a temperatura e inviabilizasse o
processo. Hoje em dia tal dificuldade já se acha completamente superada e tudo
coincide com a instalação de cabos óticos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em
que as pesquisas apontam vertiginosa elevação da capacidade de negociação de
dados via satélite. Tomados em conjunto, estes elementos desenham o inevitável
futuro da educação através da telefonia móvel.
Por óbvio, a socialidade da sala de aula dará lugar a um
novo tipo de socialidade que ainda está em construção, mas que já manifesta
suas primeiras características -- hoje pela manhã, alguém que havia perdido um
aparelho de telefonia móvel já havia adquirido outro, já havia recuperado o
número e reclamava da sensação de solidão e desalojamento social que
experimentou durante o tempo em que permaneceu "fora do ar." Em
seguida, sabendo que sou do tempo que antecede à telefonia móvel, não fez
qualquer cerimônia para me perguntar como fazíamos para ajustar horários uns
com os outros, marcar encontros e tudo o mais. Naturalmente caiu em espanto
quando informei que não tínhamos outro meio senão a telefonia fixa e que, antes
dela, éramos capazes de mandar recados por bilhetes, cartas e até através dos
programas diários nas rádios locais de assídua audição. Pois é a esta nova
socialidade nascida e crescente a que me refiro. Apenas para concluir, o
professor será pago pelo Poder Público e terá uma carreira específica e nobre,
como deve ser!
*Aluísio Gurgel do Amaral Jr.
Juiz de Direito, Professor, Músico, Escritor
Titular da Cadeira de nº 14 da ACLJ
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