DIFERENTES
SEMELHANÇAS
Arnaldo
Santos*
As eleições deste ano estão permeadas de simbolismos com vários e
importantes significados históricos, só possíveis em uma sociedade com
características tão singulares como a brasileira. O primeiro deles é o fato de a
eleição estar sendo disputada entre duas mulheres, e, como todos sabemos, no
Brasil a mulher ainda ocupa um espaço pouco significativo na política, apesar
do seu largo espectro, e de a legislação eleitoral prever um percentual mínimo
de trinta por cento reservados para elas. Os últimos números das pesquisas
estão a indicar que pela primeira vez teremos uma eleição disputadíssima entre
duas mulheres, e nem os mais experientes pesquisadores e cientistas políticos
são capazes de prever o resultado. Mas os símbolos não se esgotam aqui.
Além de mulher, uma é negra (e nem preciso falar do preconceito racial),
de esquerda, ambientalista respeitada internacionalmente, de origem pobre como
o ex-presidente Lula, só tendo sido alfabetizada quando tinha 18 os anos. A
outra também tem origem de esquerda, é militante desde muito jovem, lutou
contra a ditadura, foi presa, torturada e foi a primeira mulher eleita para a
Presidência do Brasil.
A História brasileira não registrava até aqui um panorama nem parecido
com esse, e mesmo os mais renomados historiadores, cientistas políticos e
sociólogos não poderiam prever que a democracia brasileira, em tão pouco tempo,
evoluísse ao nível que se nos apresenta nestas eleições. Se esses aspectos são
relevantes para a nossa história política, mais importante ainda é observar que
essas singularidades assumem um caráter sociopolítico que perpassa a disputa
meramente eleitoral, para quebrar um paradigma de tradição machista e de
polarização entre o PSDB e o PT, que predominou até aqui durante os últimos 20
anos, desde a primeira eleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mesmo incorporando todos esses valores históricos-políticos, culturais, eleitorais
e sociais esses aspectos não são, ou pelo menos não devem ser, os únicos
definidores nem das eleições e muito menos do que é substantivo para o futuro
do país, pois quando analisamos o que representa em essência o conteúdo de cada
uma das propostas que as principais candidatas apresenta, os eleitores com
menor grau de criticismo, e que formam o maior contingente, encontram
significativas dificuldades em fazer sua opção, pois ambas não apresentam
grandes diferenças em seus programas, exceção feita à proposta de autonomia
jurídica ao Banco Central apresentada por Marina Silva, e esse não é um tema
que desperta o interesse da maioria, embora seja extremamente importante.
Como gestor absoluto da moeda, o BC atua para manter a estabilidade
macroeconômica, através das ações de política monetária, gerenciando as taxas
de juros para manter a inflação sob controle – ou seja – quando os preços sobem
e pressionam a inflação, o BC sobe os juros, e vice-versa.
Como a meta de inflação é definida pelo governo, a candidata Marina
entende que sem essa autonomia o BC não tem independência, e atua sob influência
política da Presidente Dilma – ou Presidenta, como prefere ela mesma.
A propósito, o primeiro BC no mundo a incorporar esse regime de
autonomia jurídica foi o Banco Central da Inglaterra, onde o seu presidente atual é um
Canadense, contratado mediante um processo de seleção internacional pela análise
de currículo, e não por indicação política. Mas será que o que funciona na Inglaterra,
funcionaria no Brasil?
*Arnaldo Santos
Jornalista
Doutor em Ciência Política
Titular da Cadeira de nº 13 da ACLJ
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