sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PROSA POÉTICA (PX)


O CARNEIRO
(menino da cidade fazendo “arte” na zona rural) 
(1971) 

Paulo Ximenes*

Tão bem amarrado aquele carneiro
com seus chifres enormes e enrolados.
Que nome ele tinha? Não sei.
Só sei que era ligeiro.
(Ó bichinho mal-encarado!)
Até os vaqueiros atalhavam caminho
para não peitá-lo.
O Terror das Marradas já
botou um boi brabo pra correr,
entortou um aro de bicicleta,
 e derrubou um mourão.
Menino levado da breca,
resolvi desforrar o mundo:
peguei um chicote pimba-de-boi, e
dei-lhe umas quatro boas relhadas.
Pra que, meu Deus?
O infeliz se despregou das cordas
e aprumou na minha direção.
Pernas, pra que te quero!
Toda a criadagem me viu
pávido, voando baixo
sobre cactos e pedregulhos
com o lanígero na minha cola,
pega-não-pega!  pega-não-pega!
Fui ao barro. Era inevitável.
Quando dei fé do mundo, ali
estavam o meu pai e a tia Adalgiza
fazendo por curar meus machucados.
“Foi por um triz!” – disse o capataz.
Ao pôr-do-sol, já o couro do ovino
jazia espichado num canto de cerca. 

(Do livro Anotações de um Ex-Sócio do Náutico)



*Paulo Ximenes
Cronista e Poeta
Titular da Cadeira de nº 12 da ACLJ

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