domingo, 7 de dezembro de 2014

CRÔNICA (RV)

JÁ DEVE ESTAR NO FACEBOOK
Reginaldo Vasconcelos*

Costuma-se dizer, com muita propriedade, que o melhor da festa é o comentário. Os que promovem um evento, bem como os grupos de convidados que dele participem, geralmente se deliciam no outro dia em comentar os sucessos da festa, que vão desde as falhas do cerimonial até a ousadia estilística do vestido de uma determinada convidada, o tropeço desastroso de um garçom, o excesso de um conviva que bebeu demais e resolveu dançar o frevo.

Não há nenhum grande folguedo, por mais bem organizado e regular, que não ofereça ao dia seguinte detalhes burlescos reveladores da falibilidade humana – e é nessa gama de grandes acertos e de pequenos desacertos que reside o encanto das reuniões da sociedade, hoje tão explorados nas redes sociais da Internet.

É voz geral que a 2ª Assembleia Ordinária da ACLJ, ocorrida na última sexta-feira (05/12/14), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC, teria sido a mais agradável, dentre todas as outras promovidas até hoje pelo silogeu, nestes últimos quatro anos, em virtude da boa organização, da beleza dos discursos proferidos, da simpatia da instituição anfitriã e dos que foram alvo de homenagens.

Nessa mesma solenidade tomou posse na dignidade de Membro Benemérito o empresário Beto Studart, o qual, uma vez empossado, promoveu a investidura do executivo Geraldo de Lima Gadelha Filho, Superintendente do Grupo Pague Menos, Membro Honorário da entidade. E houve ainda a outorga da Medalha Governador Parsifal Barroso ao jornalista Lúcio Brasileiro, nos seus 60 anos de jornalismo, saudado pelo acadêmico Fernando César Mesquita, além do descerramento do retrato pictórico do paraninfo da comenda, pelo seu neto, Igor Queiroz Barroso.


Tudo correu sobre rodízios, muito bem azeitados, mercê da atuação impecável da Diretoria de Eventos da FIEC, e do eficiente roteiro cerimonial elaborado pela equipe de acadêmicos que organizou a solenidade, de modo que todas as pequenas falhas ficaram quase imperceptíveis.

Mas o cerimonial da ACLJ se excedeu ao cobrir as 50 poltronas frontais do auditório com a capa identificadora dos assentos de acadêmicos, o que provocou uma hesitação inicial do público presente, retido no fundo da sala, somente ocupando os locais mais à frente por convocação do cerimonialista. Ora, a ACLJ tem apenas 40 acadêmicos titulares, dos quais somente a metade comparece aos seus eventos, por motivos compreensíveis.

Grande parte dos acadêmicos, naturalmente, é constituída de pessoas idosas, que nem sempre têm disposição física para eventos noite adentro, cuja ausência se soma à dos que estejam participando, no mesmo horário, de solenidades importantes em outros pontos da Cidade, em que muitas vezes têm presença imprescindível.  

Ainda entre os imprevistos ocorridos, a dificuldade de exibir as imagens ilustrativas no telão, por trás da mesa de honra, tendo em vista a incidência da luz do projetor sobre os rostos dos que na mesa se assentavam. Graças à habilidade do operador de luz e som do auditório as imagens foram sendo dosadas, de modo a não incomodar os protagonistas da efeméride.
 
O acadêmico Fernando Dantas, tradicional MC da Academia, não identificou um erro gráfico no texto que lia, e ao chamar um dos convidados à mesa de honra lhe trocou o sobrenome, o que foi imediatamente corrigido, mas não sem provocar um pequeno frisson naqueles cujos tímpanos doeram com o engano – mal nominada pessoa tão notória e ilustre e tão querida dos presentes, que sendo muito educada relevou o nosso tropeço.

Por sinal, o empresário Igor Queiroz Barroso, Diretor do Grupo Edson Queiroz, convidado a fazer a entrega da Medalha Governador Parsifal Barroso ao jornalista Lúcio Brasileiro, e a descerrar o retrato do avô para a galeria dos Patronos Perpétuos,  esbanjou simpatia – embora não seja pessoa de risos fáceis, ao contrário da esposa Aline, sempre muito  sorridente. 

Aliás, o empresário Igor Queiroz Barroso protestou discretamente junto à organização da festa por não ter sido ela realizada no prédio da Associação Cearense de Imprensa (ACI), conforme a tradição, pois considera ele aquele seja o cenário ideal para os eventos 
acadêmicos, tendo em vista o caráter histórico do edifício – opinião que denota a sensibilidade cultural do jovem empresário, em defesa da memória da Cidade.

Enquanto lhe tentávamos explicar as razões da excepcionalidade do caso, ele refutava todos os nossos argumentos em silêncio, bem humorado, voltando os olhos para o teto. Até que lhe garantíssemos que nas próximas solenidades voltaremos à ACI. Também protestou o Dr. Igor por termos creditado a viabilização do retrato do avô paterno ao grupo empresarial de que é Diretor, pois que foi de fato iniciativa pessoal sua esse apoio cultural.

O Dr. Lúcio Alcântara, por seu turno, ao proferir um belíssimo discurso de saudação ao novo Benemérito Beto Studart, interrompeu a sua brilhante fala para reordenar os papeis, que acidentalmente misturara. Não perdeu a fleuma, reorganizou as laudas calmamente, e deu sequência  à sua magnífica elocução.

Mas o ponto alto de todo o evento coube ao Senador Cid Carvalho. Na oportunidade de declarar aberta a solenidade, na condição de Presidente de Honra da ACLJ, ao lado do Presidente Executivo Rui Martinho Rodrigues, que ao final declararia o seu encerramento, Cid aproveitou e fez um de seus brilhantes improvisos, intenso, mas sintético.

Cid falou de Beto, de Lúcio, de Parsifal, comovendo a plateia com a sua melhor reminiscência sobre este grande cearense e seu próprio pai, Jader de Carvalho, antagonistas na política, mas amigos – que ao final de sua história se abraçaram. E ao concluir sua canora preleção, registrou que falara de “inxerido” que é, já que lhe competia apenas declarar que a sessão estava aberta – então provocando risadas.

Terminado o evento, entre as pessoas que embarcaram com Cid Carvalho no elevador para subir ao terraço onde ocorreria o coquetel, estava o acadêmico Alfredo Marques, que participa de um programa verrinário na TV, em que faz denúncias acerbas e desanca os desafetos.

Dr. Cid então lhe perguntou: “Você, Alfredo? Será que a sua língua cabe nesse elevador?”. Todos riram, considerando a ironia de que o próprio Cid, em seu programa de rádio, também não tem papas na língua. A propósito, a piada que circulou no coquetel foi que o Senador Cid, naquela solenidade, “falou bem com sempre, mas falou pouco como nunca”.


*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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