sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ARTIGO (CB)

O Açude Castanhão perde água
Cássio Borges*

Com o título acima, no conceituado Blog do Roberto Moreira, no último dia 25 de novembro, foi publicada matéria tecendo comentários oriundos de uma “informação do DNOCS” de que “A grande Fortaleza consome 1,2 bilhão de m3 de água por ano”, valor este que corresponde a uma vazão da ordem de 42 m3/s, aproximadamente.

Primeiro, tem-se que averiguar se essa fonte do DNOCS é credenciada para fornecer este tipo de informação, pois, pelo visto, acredito que não. Tal informação é destituída de fundamentação técnica do ponto de vista da hidrologia, uma vez que a Região Metropolitana de Fortaleza consome algo em torno de 8,50 m3/s. O problema é que há tempos tem-se observado que os técnicos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos do Estado do Ceará, quando se referem ao Açude Castanhão, não sabem separar a vazão de consumo da vazão evaporada no espelho d´água daquele reservatório.

Já ouvi técnicos ligados à área de recursos hídricos do Estado do Ceará afirmarem, dezenas de vezes, que a vazão regularizada do Açude Castanhão é de 30m3/s, simplesmente baseados no rebaixamento do nível da água no seu reservatório de um volume (médio) equivalente a 2,6 milhões de metros cúbicos por dia. Na realidade, este volume representa a soma da vazão liberada pelo açude por suas comportas e da que é evaporada para a atmosfera. Se a vazão da primeira for, por exemplo, 10 m3/s, a parte evaporada deve ser 20 m3/s. (Este valor de 10 m3/s foi referido pelo conceituado engenheiro Hypérides Macedo, em recente conferência no Senado Federal). No final deste artigo, farei algumas considerações sobre a vazão regularizada do Açude Castanhão visto que este tipo de informação não se encontra em nenhuma literatura técnica oficial ou extraoficial, seja do DNOCS, seja do Governo do Estado.

No meu entendimento, há uma enorme lacuna no que diz respeito às características hidrológicas do Açude Castanhão. Lamento que a população cearense, a cada dia, esteja sendo mal informada sobre um assunto de vital importância para o nosso Estado, porque não dizer, para a nossa Região. Para se ter uma ideia do que estou dizendo, há uns quatro meses, numa entrevista de televisão vi dois ex-secretários de recursos hídricos do Estado do Ceará, não saberem responder a  seguinte pergunta do jornalista Arnaldo Santos, no seu programa Visão Política: “Qual a vazão regularizada do Açude Castanhão?”. Pior do que o silêncio dos dois foi a resposta de uma engenheira do DNOCS, que também fazia parte da entrevista, ao dizer que “a vazão regularizada do Açude Castanhão é de 30 m3/s”. E ficou por isto, porque os outros dois entrevistados permaneceram em silêncio. Oportunamente, voltarei a este assunto.

Assim, como na década de 90 advoguei a tese da democratização da água quando se pensou na construção pontual da megabarragem do Castanhão, quase na foz do Rio Jaguaribe, também sugiro a “democratização” das discussões em torno da gestão dos recursos hídricos no Estado do Ceará.


* Cássio Borges
Jornalista e Engenheiro
Ex-Diretor do DNOCS
Membro da ACLJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário