O Açude
Castanhão perde água
Cássio Borges*
Com o título acima, no
conceituado Blog do Roberto Moreira, no último dia 25 de novembro, foi publicada
matéria tecendo comentários oriundos de uma “informação do DNOCS” de que “A
grande Fortaleza consome 1,2 bilhão de m3 de água por ano”, valor este que
corresponde a uma vazão da ordem de 42 m3/s, aproximadamente.
Primeiro, tem-se que averiguar
se essa fonte do DNOCS é credenciada para fornecer este tipo de informação,
pois, pelo visto, acredito que não. Tal informação é destituída de
fundamentação técnica do ponto de vista da hidrologia, uma vez que a Região
Metropolitana de Fortaleza consome algo em torno de 8,50 m3/s. O problema é que
há tempos tem-se observado que os técnicos responsáveis pela gestão dos
recursos hídricos do Estado do Ceará, quando se referem ao Açude Castanhão, não
sabem separar a vazão de consumo da vazão evaporada no espelho d´água daquele
reservatório.
Já ouvi técnicos ligados à área
de recursos hídricos do Estado do Ceará afirmarem, dezenas de vezes, que a
vazão regularizada do Açude Castanhão é de 30m3/s, simplesmente baseados no
rebaixamento do nível da água no seu reservatório de um volume (médio)
equivalente a 2,6 milhões de metros cúbicos por dia. Na
realidade, este volume representa a soma da vazão liberada pelo açude por
suas comportas e da que é evaporada para a atmosfera. Se a vazão da primeira
for, por exemplo, 10 m3/s, a parte evaporada deve ser 20 m3/s. (Este valor de
10 m3/s foi referido pelo conceituado engenheiro Hypérides Macedo, em recente
conferência no Senado Federal). No final deste artigo, farei algumas
considerações sobre a vazão regularizada do Açude Castanhão visto que este tipo
de informação não se encontra em nenhuma literatura técnica oficial ou
extraoficial, seja do DNOCS, seja do Governo do Estado.
No meu entendimento, há uma
enorme lacuna no que diz respeito às características hidrológicas do Açude
Castanhão. Lamento que a população cearense, a cada dia, esteja sendo mal
informada sobre um assunto de vital importância para o nosso Estado, porque não
dizer, para a nossa Região. Para se ter uma ideia do que estou dizendo, há uns
quatro meses, numa entrevista de televisão vi dois ex-secretários de recursos
hídricos do Estado do Ceará, não saberem responder a seguinte pergunta do
jornalista Arnaldo Santos, no seu programa Visão Política: “Qual a vazão regularizada
do Açude Castanhão?”. Pior do que o silêncio dos dois foi a resposta de uma
engenheira do DNOCS, que também fazia parte da entrevista, ao dizer que “a vazão
regularizada do Açude Castanhão é de 30 m3/s”. E ficou por isto, porque os
outros dois entrevistados permaneceram em silêncio. Oportunamente, voltarei a
este assunto.
Assim, como na década de 90
advoguei a tese da democratização da água quando se pensou na construção
pontual da megabarragem do Castanhão, quase na foz do Rio Jaguaribe, também sugiro
a “democratização” das discussões em torno da gestão dos recursos hídricos no
Estado do Ceará.
Ex-Diretor do DNOCS
Membro da ACLJ
Membro da ACLJ
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