domingo, 1 de fevereiro de 2015

ARTIGO (VM)


ARCÁDIA NOVA PALMACIANA
Palmam qui meruit ferat
 Vianney Mesquita


A grandeza duradoura e a força fecunda das nações estão no desenvolvimento independente das elevadas ideias humanas e na cultura superior. (GIOSUÉ CARDUCCI. * Valdicastelo di Pietrasanta –  YLucca – 27.07.1835; Bologna, 16.02.1907).


Os professores Francisco Antônio Guimarães (UFC), Iolanda Campelo Andrade (SEDUC) e eu (UFC) estamos pensando em orientar a instituição de uma academia científica e literária na nossa cidade-pátria, Palmácia, a cuja frente estarão, conforme nosso desiderato e no primeiro momento, os concidadãos ali residentes, oportunidade em que se elegerá, por consenso, o (a) primeiro (a) árcade novo (a) seu (sua) presidente.


A finalidade é ajuntar os conterrâneos – em encontros mensais ou em outra periodicidade a ser acertada quando da elaboração de estatuto e regimento – que se distinguem em escritos literocientíficos no nosso Estado, no âmbito das atividades científicas e librárias, com vistas a conceder ao Município uma movimentação cultural à eminência dos tempos atuais, no mesmo patamar de progresso experimentado, na seara do conhecimento e das artes, por outras municipalidades brasileiras, configurada na atuação das diversas academias do gênero ocorrentes no País, nas mais variadas castas de manifestação.

Consoante intenção expressa pelo líder da Comissão, Prof. Guimarães (por mim configurado no escrito publicado aqui neste medium no dia 2 deste mês, Palmaciano da Gema), reunir-se-á, ab initio, um grupo de cinco ou seis palmacianos, com vistas a iniciar o planejamento desse propósito, sendo o primeiro encontro em Fortaleza, e, na sequência, proceder a outras audiências, de que participem mais pessoas, na própria Sede do Município, materializando-se, por fim, nosso propósito.

Nessas reuniões, cogitamos em preparar toda a armação legal e arcabouço funcional da Arcádia Nova, como a seleção dos imortais e seus patronos e patronas – pensamos em 40 cátedras  os cargos e funções, estatuto e regimento, registo oficial, bem assim exercer outras providências requeridas para levar a efeito um ato deste jaez, sem voos elevados nem tímidos rasantes, mas algo factível, que não demande sacrifícios e, tampouco, expresse irresoluções, pinçando as pessoas certas, com a coadjuvação – e sem prejuízo da sua instituição  da Academia Ameliana  de Letras (leia-se Professora Risoleta Muniz).


POR QUE ARCÁDIA, NÃO ACADEMIA

Em primeiro lugar, o intento é recuperar a noção de Arcádia, em uma de suas acepções, antiga associação de poetas dos Dezessete e Dezoito, como, por exemplo, a Arcádia Lusitana, fundada em 1756, em Lisboa, por Dom Diniz da Cruz e Silva, Manuel Nicolau Esteves Negrão e Teotônio Gomes de Carvalho; e a Arcádia Ultramarina (anterior a 1769), instituída no Rio de Janeiro e da qual foram árcades (acadêmicos), dentre outros, Padre Domingos Caldas Barbosa, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Manuel Inácio da Silva Alvarenga, José Basílio da Gama e Cláudio Manuel da Costa – coincidentemente, componentes da Conjuração Mineira – cujos correspondentes nomes arcádicos eram, respectivamente, Lereno Selinuntino, Eureste Fenício, Alcino Palmireno, Termindo Sipílio e Glauceste Satúrnio.

Não demora informar o fato de que também a Padaria Espiritual (30.05.1892), moto literário cearense de grande significação cultural e histórica, usava pseudônimos, semelhantemente à Arcádia, como, por exemplo, os “padeiros” Antônio Sales (Moacir Jurema), Lívio Barreto (Lucas Bizarro), Temístocles Machado (Túlio Guanabara), Adolfo Caminha (Félix Guanabarino) e Sabino Batista (Sátiro Alegrete).

Arcádia Nova porque já existiu em Lisboa, fundada em 1890, pelo Primeiro Conde de Pombeiro, Dom Pedro Castello Branco da Cunha, a Nova Arcádia, da qual foram árcades, com diversos outros, Manuel Maria Barbosa I’Hedois du Bocage (Elmano Sadino), Belchior Manuel Curvo Semedo Torres de Sequeira (Belmiro Transtagano), José Agostinho de Macedo (Elmiro Tagideu) e Nuno Álvares Pereira Pato Moniz (Olino).

Em adição, o título Arcádia Nova Palmaciana tenciona denotar o aspecto de novidade, ao substituir a batida designação de academia, mais de cinquenta somente em Fortaleza, afora aquelas em curso noutros municípios, cingindo-nos apenas ao Ceará, ao pretendermos, também, o elastecimento do universo de seus motivos institucionais, de sorte a não suceder, como ocorria ao tempo do Arcadismo, quando os árcades dos séculos XVII e XVIII adotavam nome de pastores na simbologia poética, idealizada na vida campestre, e privilegiavam quase somente a poesia.

Arcádia Nova Palmaciana porque, localizada em município de ecúmeno rural, assenta bem na denominação original, de viés campesino e pastoril, entretanto, a pretensão é a de que funcione como laboratório e campo de prova de ideações literárias e científicas cultuadas por seus árcades novos  a designação dos futuros imortais – a fim de que suas ideias e obras sejam propaladas, com a pretensão camoniana segundo a qual Cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar o engenho e arte.

De comum acordo, ainda que não seja decisão definitiva, escolhemos preliminarmente a divisa romana da Arcádia Nova, para discussão entre nossos pares palmacianos, Palmam qui meruit ferat, que significa Quem ganhou a palma que a possa conduzir. A expressão veste como luva o topônimo de nosso Município, pois assenta direito no significado de “Palmeiras”, logo depois, a instâncias de Dom Antônio de Almeida Lustosa, transmudado para “Palmácea” e, na sequência, por corruptela, Palmácia. A palma, folha de palmeira, é símbolo de vitória e será conduzida por quem a obteve, aqui, no caso da Arcádia Nova Palmaciana, no terreno do saber – literatura e conhecimento ordenado pela metodologia científica, locus tomado como trilha para a instituição perfazer.

No mundo, algumas instituições adotaram este moto, em especial no derradeiro quartel do século XVIII, quando, em 1798, depois de vencer Napoleão Bonaparte na batalha do Nilo ou da baía de Abukir, costa do Egito, o Almirante britânico Horácio Nelson avocou a si o lema Palmam qui meruit ferat, expressão ajuntada ao seu brasão de armas. Outro exemplo é a Universidade do Sul da Califórnia, instituída em 1880, que perfilhou a insígnia em 1908.

No que concerne ao escudo da Arcádia Nova, a sugestão é a efígie da deidade latina Fortuna, cuja correspondente na mitologia helênica é Thyke, a qual, entre outras alegorias, como a personificação da boa fortuna, do acaso, do capricho e da sorte, traz a ideia da divindade tutelar responsável pela prosperidade e riqueza de uma cidade.

Então, a expectativa é de que, com a instituição da Arcádia Nova Palmaciana (Palmam qui Meruit Ferat), possa a cidade de Palmácia acompanhar, sob o espectro da Ciência e da Literatura, e, em médio tempo, as importantes comunas brasileiras, fazendo-se conhecida no País como berço de literatos e homens e mulheres de Ciência ontem e hoje atuantes, porém obscurecidos pela falta de publicidade de suas obras e pesquisas, existentes em profusão, como, por exemplo, a palmaciana Professora Maria Grasiela Teixeira Barroso, há poucos anos falecida, que conta mais de cem obras editadas, não apenas no Brasil, em livros, capítulos de volumes, trabalhos defendidos em congressos e eventos afins, fundadora e docente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

Saberão o palmaciano e o Ceará culto o fato de que a Cidade dispõe, não somente, daqueles poucos literatos-cientistas que se encontram nos verbetes relativos à nossa Terra, em sítios na rede mundial de computadores, como o enorme Vicente de Paulo Sampaio Rocha, o poliglota José Rebouças Macambira, o escritor de obras jurídicas José Damasceno Sampaio, os escritores Rocildo Muniz, Júnior Holanda e Iolanda Campelo.

Procedemos, no momento, a essa atualização dos escritores e obras palmacianos, para conformar, por exemplo, o verbete “Palmácia” na obra de referência Wikipedia, com fontes oficiais, contendo datas, editores, quantidades de páginas e ano, de sorte que vai o consulente comprovar as multíplices obras de Francisco Antônio Guimarães (UFC), Prof. Dr. Robério Telmo Campos e Prof. Dr. Kilmer Coelho Campos (seu filho) da UFC, cada qual com mais de duas dezenas de obras científicas; dos irmãos Coelhos Teixeiras – Francisco José (Dudé), ex-ministro da Integração da Dilma Roussef, e Inês (IFE-CE); dos irmãos Campos de Mesquita – Teobaldo, Pedro Eymard, Jarbas e Vianney – ajuntando os quatro cerca de 120 obras, das quais vinte e tantos livros; bem como da Professora da Universidade Federal do Maranhão, Maria Eufrásia Campos, dentre outros.

De tal modo, enxergamos na instituição da Arcádia Nova Palmaciana uma providência que faltava na nossa comunidade literocientífica, a fim de movimentar os haveres culturais, educacionais, literários e científicos da nossa Terra, mui especialmente, ao se adotar a ideia de deixar na direção da Arcádia, nos seus primeiros anos, aqueles literatos e adeptos do conhecimento ordenado, que residem na Cidade.

Afinal, quem ganhou a palma é quem deverá conduzi-la.

Palmam qui meruit ferat.


*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista  

Um comentário:

  1. É isso, conterrâneo Vianney, vamos elevar nossa terrinha com a criação de uma Arcádia, pois temos compatrícios literatos-cientistas dignos de enaltecê-la e você é um deles.

    Façamos a nossa parte! Divulguemos as inúmeras obras de nossos conterrâneos e assim estaremos elevando Palmácia, tornando-a conhecida no País e no mundo por seus feitos literários e científicos, bem como estaremos a estimular novas tendências, visto ser comprovado que se escondem entre as serras da Terra das Palmeiras, poetas e escritores anônimos esperando uma oportunidade como esta.

    Parabenizo você, pelo belíssimo artigo e também o Secretário-Geral e membro da decúria desta tão conceituada Academia, Dr. Reginaldo Vasconcelos, pela maravilhosa ilustração, onde vejo explanadas imagens da minha pequenina Palmácia. Obrigada!

    Estarei à inteira disposição por tudo que estiver ao meu alcance para que a Arcádia Nova Palmaciana surja e floresça. "Cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar o engenho e arte" - é pensando positivo e agindo com fé que alcançaremos tão ricos objetivos.

    "Palmam qui meruit ferat".

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