sexta-feira, 3 de agosto de 2018

ARTIGO - Mamãe, Neném Quer Colo (HE)

MAMÃE, 
NENÉM QUER COLO
Humberto Ellery*



O Estado é a grande ficção da qual todo mundo se esforça para viver, às custas de todo mundo. (Frederic Bastiat)



Quando o ser humano finalmente ficou erectus e passou a andar sobre as duas pernas, e como nessa posição a pélvis da mãe não estava preparada para suportar o peso de um feto, a gestação humana foi muito abreviada, o que nos faz nascer inapelavelmente dependentes do colinho da mamãe.

Talvez resida nesse fato o sonho, imanente a todos nós, de transferir a responsabilidade pela nossa sobrevivência ao Estado, ou a outro ser humano mais poderoso e protetor que nos dê o aconchego e a proteção de um colinho.

Suponho que daí surgiram os monarcas absolutistas, a escravidão, e modernamente o Welfare State, o Estado Provedor, ou Estado do Bem Estar Social.

No capítulo 16 do Êxodo vemos os hebreus no deserto se queixando a Moisés e Aarão, que os libertaram da servidão do Faraó e os tiraram do Egito, pois “lá nós sentávamos ao redor das panelas de carne e comíamos pão à vontade”; e olhem que estavam a caminho de Canaã, a terra prometida a eles pelo seu próprio Deus, “terra onde mana leite e mel” (Deuteronômio 26:9), enquanto os “egípcios nos maltrataram e nos impuseram uma dura servidão” (Deuteronômio 26:8). Dá para entender a natureza humana?

Modernamente, a Democracia está trazendo as monarquias mais para perto do povo, ficando a chefia do Estado de maneira quase simbólica com os monarcas, e a gestão do Estado com a classe política. Enquanto as casas reais mais antigas e consolidadas vão assim se modernizando, estados mais jovens têm optado por governos totalmente eleitos pelo povo, quer sejam presidencialistas, quer parlamentaristas.

Surgem nesse quadro grandes estadistas, mas infelizmente farsantes populistas prometendo a todos o céu na terra, onde “farão correr leite e mel”. E a plebe ignara os segue como penitentes em busca da salvação.

Apareceram assim os grandes “Salvadores de Pátria” como Hitler, Mussolini, na vizinha Argentina Perón, e, aqui no Brasil, Vargas, Jânio, Collor e Lula. (Recomendo “Ponerologia-Psicopatas no Poder” do psiquiatra polonês Andrzej Lobaczewski).

A desesperança brasileira, face à formidável crise pós-petismo, atingiu um tal grau de paroxismo que, ao primeiro aventureiro que se apresentou como a antítese do lulopetismo, o próprio antípoda do Lula, acorreu pressurosa e feliz a segui-lo, a aconchegar-se no seu colinho, sem uma simples análise da exequibilidade de suas promessas. Sem ao menos observar que o cidadão é apenas a outra face de uma mesma moeda populista e assumidamente incompetente (mas que só vai nomear gente qualificada; então tá!), sem se dar conta de que, caso seja eleito  (já no 1º turno como acreditam) entraremos num movimento pendular, desde a extrema esquerda até a extrema direita, nos subtraindo a chance de atingirmos o equilíbrio do centro.

Que Dios se apiade de nosotros!





COMENTÁRIO

Brilhante e irretocável o raciocínio e a exposição desenvolvidos pelo culto Humberto Ellery em seu artigo, versando sobre a condição humana e sobre a sua necessidade gregária de viver em grupo, e de neste liderar ou ser liderado, e estes de serem protegidos pelo líder, numa extensão analógica ao sentido maternal de família, tudo antropológica e biblicamente analisado.

É uma maneira interessante de ver as coisas, porém há outras, como na alegoria que tenho feito sobre a questão de um povo ante os seus representantes. Nela proponho imaginar-se um grupo humano primitivo que ocupe uma planície para ali instalar sua nação – edificar, trabalhar, semear, criar, procriar, sobreviver, prosperar – analogia que pode servir para uma cidade, ou para uma província, ou para um país moderno – mutatis mutandis – que o resultado dá no mesmo.

Esse conjunto de famílias elege então, dentre eles, aqueles paredros mais astutos, experientes e instruídos que formularão as leis, aqueloutros que as farão cumprir, uns terceiros que decidirão sobre o interesse comum, que velarão pelas necessidades coletivas, que vão enfim gerenciar a coisa pública – estradas, mananciais, aquedutos, posturas urbanas, segurança. Toda a tribo vai labutar e produzir ciência e cultura, artes e devoções, a engenharia e a medicina, os meios de sobrevivência, os bens de consumo.

Menos aqueles eleitos, concursados ou nomeados, que vão se postar sobre o planalto, dispensados de sobreviver do suor do próprio rosto, porque a sua função nessa colmeia humana imaginária será apenas administrar o bem comum. 

Não edificarão como os pedreiros, não ordenharão como os pastores, não amanharão como os semeadores, não entalharão, fiarão nem tecerão como os artífices que mourejam na planície. Mas, do trabalho de todos estes aqueles viverão, pois perceberão quinhões dos seus tributos.

Então, os servidores públicos de qualquer classe ou categoria precisam se portar com exação e com isenção, sem ambição exacerbada, sob pena de se tornarem parasitas imprestáveis como os Lulas da vida e outros quejandos de triste memória e destino, com os quais Humberto Ellery exemplifica. 

Eles se repetem no tempo, mas, “quem tem medo de sonhar, não dorme; quem tem medo de dejetar, não come”. É preciso tentar sempre os escolher e entronizá-los, assumindo o risco de eventualmente errar, porque é inevitável que vez por outra isso aconteça. 

A experiência indica que se evitem os movidos por paixões ideológicas, mas se priorizem os idealistas verdadeiros. Reconhecer e expungir os militantes socialistas e os cúpidos agentes do capitalismo inveterado  noves fora todos esses, e os vaidosos arrogantes, viciados no cetro da política.   

Enfim, monarcas, políticos, militares, pretores, inspetores, barnabés e amanuenses em geral, estes não são donos do poder, ao contrário do que se tende a presumir ou acreditar, pois o poder continua sendo daqueles cidadãos trabalhadores empreendedores e operários  os quais produzem os chamados bens da vida, que cobrem, vestem, curam e sustêm a sociedade. 

Não podem os homens públicos enganar e enriquecer, tampouco constranger e oprimir os cidadãos, pois estão expostos à mais severa e rigorosa reprimenda do povo quando se desviam dos seus deveres sociais. Ao longo da história, muitos deles têm tido que emprestar os seus pescoços aos machados dos carrascos.  

Reginaldo Vasconcelos

   

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