MARIA VAI COM AS OUTRAS
Vicente Alencar*
Esse Rio de Janeiro, que completa seus 450 anos de
história e glória, é realmente enorme, maravilhoso, aberto aos mais diversos
assuntos, fatos até mirabolantes, notícias extraordinárias, enfim, Capital do
Bem Viver, pois todos estamos sob a égide da alegria, não contando com as
dificuldades, tão comuns em todos os lugares do mundo, e que todos conhecemos.
Que se danem os Governos por não saberem coibir
violência, trânsito difícil, problemas arrepiados, enfim, momentos que aparecem
para transtornar, mas são todos contornados pela sabedoria de nossa gente. Mas,
não estamos querendo falar sem dizer, nem contar nada a respeito de problemas
sociais, pois, nestes 450 anos, o que nos interessa aqui é a história, a
beleza, as riquezas naturais. O nosso dia a dia, com calor ou sem calor, com
muito sol ou muita chuva, estamos todos caminhando, firmes, para momentos cada
vez melhores.
E, nesta esteira do tempo, pois "o passado não
passa", como afirmava o escritor cearense Eduardo Campos (não confundir
com o saudoso pernambucano candidato a Presidência da República, em 2014), nós
nos reportamos a esse passado, maravilhoso e sagrado, que nos deu a expressão
"Maria vai com as outras".
Todos, ou quase todos no Brasil, conhecem esse uso,
que existe desde que o Império esteve por aqui. E nasceu em um dos locais mais bonitos
dessa Cidade Maravilhosa, como afirma a Marchinha. Exatamente, quando aqui
viveu Dona Carlota Joaquina, mulher de Dom João VI, que se deslocava até
o Cosme Velho, para tratar do seu problema de pele, nas águas amigas,
agradáveis e ferruginosas que existiam em fontes das mais conhecidas, e todos
denominaram, desde a primeira presença de Dona Carlota, de "A Bica da
Rainha".
Em sua companhia seguia, sempre, Dona Maria – A Louca
e, com ela, o seu séquito de Damas, aquelas mulheres que a atendiam, em todos
os desejos e queixumes, nos seus bons momentos e maus humores. Dona Maria
"não era flor que se cheirasse" e, por isso mesmo, conhecida como uma
pessoa de personalidade (!) difícil. Era muito comentada, em todo o Rio e no País.
"Maria vai com as outras" é justamente a
expressão popular nascida da sabedoria do povo, aquele que tudo sabe dizer no
momento em que lhe interessa, com muita graça, encanto e até humorismo.
"Maria vai com as outras", numa alusão àquelas escravas e outros
serviçais, acompanhando a Rainha Mãe, onde ela estivesse. E na
"Bica", aí sim, não seria diferente.
A Bica da Rainha ficou famosa por todo o sempre. Muita
coisa que diz respeito ao Império fixou-se na história, ajudando,
inclusive, ao turismo, embora alguns desconheçam tantos e tantos fatos que se registraram
por aqui.
Mas, em 1938, a Bica da Rainha ganhou denominação
oficial, por iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, com o seu devido tombamento. São passados, neste 2015, nada menos que
77 anos do registro do fato.
Amante do Rio de Janeiro e do Brasil, preocupado com
nossas coisas, nossa história e nossa gente, já estive na Bica da Rainha.
Atraído pelas conversas, fui até lá, como também, a Portugal. Pertinho do
Rocio, fui ao Teatro Dona Maria para conferir um pouco de sua história.
Aqui, nesse meu Rio de festas, de amigos e de amores,
li e vi de perto uma poesia da minha amiga Lydia Simonato, publicada, há algum
tempo, na Antologia Verso e Prosa – VIII
Arte, em Laranjeiras & Cosme Velho, organizada por ela e pela notável
Juçara Valverde, denominada Bica da Rainha. Está contida ali, na página 35, e
diz bem da história dessa expressão ,que ficou para sempre: "Maria vai com
as outras".
* Vicente Alencar
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
1º Vice-Presidente da ALMECE - Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará.
Secretário Geral da Academia Fortalezense de Letras
Membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa,
da Academia Cearense de Retórica e da
Sociedade Cearense de Geografia e História
Titular da Cadeira nº 27 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo
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