Informação Religiosa
Católica
Antigo Domingo Quasímodo (1)
DOMINGO DA DIVINA
MISERICÓRDIA, OITAVA OU PASCOELA (2)
Vianney Mesquita (3)
Perante a prova suprema – a da Morte – a fé dos apóstolos
havia perigosamente oscilado. Para o homem, a Morte é o desabamento, é o vácuo,
e no vácuo nada se reconstitui. Para Jesus Cristo, no entanto, Morte foi um
princípio – morrera: era, pois, homem. Ressurgiu: é, por conseguinte, DEUS. (IGINO GIORDANI. Y Tivoli, 25.09.1894; † Rocca di Papa, 18.04.1980).
Hoje, 12 de
abril de 2015, flui o Domingo da Misericórdia, coincidente com o derradeiro dia
(o de número oito) da Oitava do Tempo Pascal, que perdura por sete semanas,
desde o Domingo de Páscoa (ou da Ressurreição) – neste ano, 7 do quarto mês - ao
Dia de Pentecoste, palavra significativa de cinquenta, pois perfará a
cinquentena, em 14 de junho/15, contando-se desde a descida do Espírito
Paráclito sobre os Apóstolos.
Sob o ponto de vista histórico, é adequado, também,
externar o fato de se haver definido outro ritual para a Missa, em 1969, ora
vigente, a instâncias do Concílio Vaticano II, que pedira sua revisão, em ato
promulgado pelo Sumo Pontífice Giovanni Battista Montini,
restando conhecido como Missa de Paulo VI.
Convém acrescentar, em complemento, a informação de
que, com origem na edição da Bula Quo
Primo Tempore – “Desde os Primeiros Momentos” - de Pio V (Antonio
Michele Ghislieri), consoante às orientações do Concílio de Trento, tinha curso a Missa no Rito Romano ou
Missa Tridentina, celebrada em Latim, com o sacerdote de costas para os fiéis,
tendo, pois, perdurado de 1570
a 1962, procedente do Breve de São Pio, há pouco
mencionado, isto é, até a segunda edição da grande Assembleia Vaticana (o
Concílio Ecumêmico Vaticano I se deu de 8 de dezembro de 1869 a 18 do mesmo mês
de 1870).
Em adição, também, cumpre exprimir o fato de que,
ainda hoje, em várias paróquias anglicanas da Grã-Bretanha – onde a Igreja foi
separada (não fundada, como se diz, erroneamente) por Henrique VIII - o
Sacrifício da Missa é oficiado em código linguístico do Lácio, de acordo com os
lineamentos do Concílio de Trento (Tirol italiano), realizado de 1545 a 1563,
sem obediência ao rito missiológico
editado por Paulo VI.
Ao vigorante Domingo da Oitava, também, se chama,
nomeadamente noutros países e em línguas correspondentes, Domingo da Pascoela, ou
Pequena Páscoa (do Aramaico pashã = passagem),
como prolongamento da Ressurreição, até derivar no dia de Pentecostes.
Interessante (e curiosa, também) é a antiga
denominação de Domingo Quasímodo, expressão
de emprego anterior ao Decreto Pontifical de 1969, radicada – coerentemente, é bom exprimir - no introito da
Celebração Eucarística da Misericórdia, configurada na antífona do Salmo 117,
ao evocar a Ressurreição de Jesus, conforme comentarei mais à frente.
A dicção “Domingo da Divina Misericórdia” alude à compaixão de Cristo a São Tomé, o Dídimo
(do Grego = gêmeo), o qual, mesmo sem
crer ao não ver, foi por Jesus perdoado. O vocábulo “misericórdia” procede do
Latim miser + cordis, isto é, mísero (em estado lastimoso, indigente,
digno de penúria) + coração. (CUNHA,
A. Geraldo da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua
Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997) .
Como se sabe, esse Apóstolo não acreditou, ab initio, na Ressurreição, dEla só
ficando convencido quando o Mestre apareceu outra vez e lhe mostrou nas mãos os
sinais abertos, segurou-lhe as mãos e introduziu os dedos de São Tomé na injúria
dos pregos. O Dídimo seguiu, arrependido e contrito, a pregar o Evangelho aos
Partos, povo de procedência indo-europeia, e na Índia. Ele foi martirizado em
Calamina (hoje Mylapore), perto de Madras (atual Chennai, capital do Estado indiano
de Tamil Nadu, quarta cidade do País, com cerca de 6 milhões de habitantes).
No decurso da história, São Tomé Gêmeo é o
protótipo dos que somente creem em algo após terem isto examinado de alguma
maneira, como ele pegou, a instâncias de Jesus, as feridas do Cristo. Teve, entretanto,
vida de santo por demais intensa e miraculosa, havendo sido, talvez, o único
dos doze discípulos de Jesus a assistir à Assunção de Maria Santíssima.
O dia de São
Tomé, ou São Tomás (nome procedente dos arameus), é festejado em 21 de
dezembro, venerado que é o (ainda) inexplicado Gêmeo nos países católicos do
Ocidente, bem assim no Oriente, máxime na Índia e na Síria, também lugares onde
operou prodígios.
Retorno ao introito do Salmo 117 – que concedeu
nome ao Domingo Quasímodo - proferido
na Missa da Oitava, principiado com a frase: QUASI MODO geniti infantis, racionabile, sine dolo lac concupiscites
ut in eo crescatis in salutem.
Em tradução livre, significa: Tal como (ou “ao modo de”)crianças
recém-nascidas, desejai o leite espiritual puro, para que, por ele, possais
crescer para a salvação. ( I Pe -
2,2).
.....................................................................................................................
(1) Penso que, entre outros pretextos de natureza
circunstancial, tenha representado peso na mudança o fato de o adjetivo
QUASÍMODO haver restado mais conhecido e popularizado na acepção de monstrengo, de pessoa quasimodal, consoante a personagem
Quasímodo, do celebrado romance do escritor Vitor Hugo, Nossa Senhora de Paris, editado em 1881. Esse protagonista, feio e
corcunda, sineiro da Catedral de Nossa Senhora, na Capital francesa, fora abandonado,
consoante o enredo do Escritor, ainda criança, em um domingo de Páscoa, e
adotado pelo arquidiácono, da inventiva de Vitor Maria Hugo, na Sé de Paris,
chamado Claudio Follo.
(2) Os dados conferidos para este texto procedem de
informações de domínio público.
(3) Vianney
Mesquita é professor da U.F.C., escritor e jornalista. Da Academia Cearense da
Língua Portuguesa e Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário