O PMDB
Rui Martinho Rodrigues*
O PMDB é a “Geni” da política. Patrimonialismo,
fisiologismo, clientelismo, são a ele associados. A corrupção e os vícios
morais de alguns dos seus líderes colaram nele. A falta de organicidade,
doutrina e programa é outra crítica a ele dirigida.
A falta de organicidade é ausência do abominável
centralismo. A falta de definição doutrinária enseja liberdade interna e evita
a “cegueira dos paradigmas”, de que fala Thomas Kuhn em seu opus Magnum “A estrutura das revoluções
científicas”, que leva a erros graves e impossibilita a autocrítica.
As políticas econômicas heterodoxas
têm levado ao desequilíbrio das contas públicas e outros males, mas os seus mentores
não aprendem as lições, porque têm convicções arraigadas.
Convictos são impermeáveis à razão, têm
percepção seletiva. Os vícios não são oficializados no PMDB porque o partido
não tem organicidade nem é centralizado. Quando seus membros são flagrados o
partido não os trata como heróis. Hipocrisia? Certamente, mas esta é um tributo
que o vício paga à virtude. Pior é o cinismo de outros, que representa o total
desprezo pelas virtudes cívicas, acoimando-as de moralismo, ingenuidade,
udenismo ou moralismo.
O PMDB não se apresenta como detentor
do monopólio das virtudes cívicas. Não engana. Não apresenta uma solução geral
e irrestrita para os problemas sociais. Não faz pose de superioridade moral e
intelectual, porque lhe falta a “solução” de um suposto problema fundamental,
do qual derivam todos os males. Não se
sente legitimado para a prática de torpeza, e por não ser messiânico não
adota a ética situacional ou finalista (teleológica), que acaba sendo mero
oportunismo. O desastre é o resultado do messianismo e do reducionismo
fundamental, incompatíveis com a alegada superioridade intelectual dos “puros”
e “sábios”.
A presunção de superioridade fabrica “sábios”
com ou sem estudo, com simples chavões. O PMDB não tem isso. A corrupção nele
não é orgânica, porque ele não é um partido orgânico. A falta de um projeto
total para a sociedade afasta a vocação totalitária. Falta-lhe o programa de
engenharia social e antropológica, raiz de todo totalitarismo.
O partido em exame não tem apenas
defeitos. Tem humildade, em face do senso comum. O eleitor não se lhe afigura
alienado. À falta de uma suposta consciência esclarecida e de um projeto de
reengenharia social e antropológica, o PMDB se curva reverente diante da
vontade do eleitor. Veja-se o encaminhamento dado por ele à questão da
maioridade penal, como exemplo paradigmático de sua resiliência democrática, no
acatamento da opinião dos simples, essência da democracia.
Não sendo o maior partido, nem estando
na chefia do Executivo, o PMDB consegue a hegemonia do Congresso. Não sendo
oposição nem governo consegue ser mais oposição do que a pálida oposição formal
e governar mais do que o Governo, dando uma lição de sabedoria política. E nenhum
partido tem autoridade moral para censurar-lhe os graves e numerosos vícios. Ao
recuperar as prerrogativas do Congresso, pode sugerir a saudável solução
parlamentarista.
*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Titular Emérito de sua Cadeira de nº 10
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