sexta-feira, 10 de abril de 2015

ARTIGO (RV)

UM TRANSATLÂNTICO 
VAI A PIQUE
Reginaldo Vasconcelos*


“Nem Deus afunda o Titanic!”. Afirmação atribuída à empresa White Star Line, proprietária e operadora do transatlântico inglês RMS Titanic, o maior navio de passareiros do mundo na época, que naufragou em 1912, na sua viagem inaugural.     


O Brasil atual me parece a paródia de um transatlântico à deriva no oceano, meio adernado, o qual se imaginava inafundável. A “comandanta” da nave imensa dá sinais de não saber o que faz, como confessadamente não sabia o que fazia quando abonou negócios ruinosos na Petrobras – Ministra de Minas e Energia, depois Presidente do Conselho de Administração da empresa, finalmente Presidente da República.

Antônio Palocci disse certa vez, quando ainda era ministro de Lula, “que não se pode dar um ‘cavalo de pau’ no Titanic”, para significar que as mudanças estruturais e conjunturais requeridas pelo povo, e prometidas pelo Governo, não poderiam ser operadas de repente. Isso foi um belo paralogismo: o uso de uma premissa válida para levar a uma conclusão equivocada.

Ora, Palocci foi talvez o primeiro grande timoneiro do navio da era Lula a ser lançado ao mar, o qual foi posto na prancha de desembarque pelo modesto caseiro de uma mansão alugada por ele, para reuniões espúrias entre quadrilheiros da República, e para bacanais com notórias cortesãs brasilienses.

Palocci, ao cair nas águas revoltas do escândalo financeiro, nadou desesperadamente para longe, e buscou uma ilha deserta, fora do cenário político. Teve melhor destino que outros prestigiosos marinheiros do lulismo que bateram com os costados na cadeia.  

Claro que o transatlântico do Brasil que Palocci comandava naquela época não podia fazer “cavalo de pau”, mas também não pretendia fazer a curva da moralidade lentamente, ao contrário do que o Governo prometia.

O navio do Governo seguiu reto, e acelerado, rumo aos mais deslavados desmandos financeiros, queimando meio por cento do PIB em medidas populistas, que não solucionaram de fato a pobreza e a ignorância nacionais, mas que foram muito úteis como combustível eleitoral, movimentando um imenso hélice propulsor, feito de mentiras oficiais e de falsas estatísticas.

Aloprados, Correios, Dólares na Cueca, Celso Daniel, Mensalão, Portugal Telecon, Rosemary Noronha, Erenice Guerra, Obras da Copa Superfaturadas, por fim o Petrolão, escândalos e mais escândalos que se fossem todos relacionados aqui nos tornaríamos tediosos.

Mas “a casa caiu”, como se diz na linguagem dos bandidos. Na nossa analogia náutica, o navio está à deriva, fazendo água, com os ratos magros do porão pensando em fugir, sem terem aonde, e os ratos gordos do convés tentando subir pelos mastros, ainda confiantes na gávea da mentira repetida, e nas boias salvadoras da “injustiça” brasileira.

Foram patéticos os depoimentos de Sérgio Gabrielli e de João Vacari à CPI da Petrobrás. Suas bocas repetindo os mantras da inverdade e do absurdo, ensinados por seus mentores políticos e por seus advogados, enquanto o seu olhar destilava ora cinismo, ora vergonha, dependendo da pergunta que era feita, de todo modo estampados no rosto a culpa indisfarçável e o pavor tenebroso do castigo

  *Reginaldo Vasconcelos
     Advogado e Jornalista
             Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ 

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