O GOVERNO E A
CRISE
Arnaldo Santos*
Iniciamos hoje, nesse espaço de opinião do Semanário
da Zona Norte, uma série de três artigos, abordando as várias percepções e os
rebatimentos da crise ético-moral e político-econômica que paralisou o País e
desorientou a Nação.
Analisaremos agora o problema sob o ponto de vista da
política, no contexto externo e interno, com suporte nos últimos episódios
protagonizados pelo governo, e as reações da sociedade nacional manifestas nas
ruas das cidades brasileiras.
No segundo, nos reportaremos ao papel das instituições
ante este estado tão crítico, com foco na atuação do Congresso Nacional, no
período pré-impeachment. No terceiro
e último, formularemos algumas sugestões e propostas políticas, na perspectiva
da democracia no século XXI.
Um olhar sobre o contexto político externo
contemporâneo evidencia uma ação política, liderada por dois líderes mundiais
com poder e influência global, repleto de símbolos como reflexos das mudanças
reclamadas pelas sociedades no século que corre.
O mais midiático ocorreu na última semana, com a visita
do Presidente Barack Obama a Cuba, após 58 anos desde o rompimento diplomático
e embargos econômicos, impostos pelos Estados Unidos, desde a tomada do poder
por Fidel Castro.
As mudanças promovidas pelo Papa Francisco no âmbito
da Igreja Católica, rompendo dogmas e criando outros paradigmas, como inclusão
da comunidade homossexual, a aceitação de métodos contraceptivos em algumas
situações, e a punição de alguns, até então intocáveis bispos e cardeais,
envolvidos em escândalos de pedofilia, são emblemáticas desses novos tempos.
Os
avanços que se observam em parte do mundo, no Brasil se traduzem num agudo
retrocesso moral e ético sem precedentes, erodindo a democracia e suas
instituições, desorientando a Nação e fragilizando a esperança da juventude no
estabelecimento de um país melhor.
O que torna essa realidade ainda mais grave é a falta
de perspectiva, já que não se vislumbra no curto prazo, uma porta de saída para
superação da crise, em face da inexistência de lideranças confiáveis para
conduzir o País, visto que, em maior ou menor grau, a elite dirigente, no
Congresso e no Governo Executivo, está toda contaminada pela endemia da "corruPTopatia".
Um chefe de Estado, para ter condições de governar um
povo, precisa reunir algumas precondições de legitimidade, dentre as quais
confiança e credibilidade das instituições e da sociedade, além de apoio
popular e político, absolutamente imprescindíveis.
Pelo clima observado no lugares públicos, e a julgar
pelas novas descobertas da operação lava-jaNto, que a cada dia mais
surpreende, o atual governo parece já não reunir mais nem uma dessas condições
preliminares.
Em ultrapasse aos aspectos éticos e morais (imorais, mesmo!) que já são muito
graves, a taxa de desemprego de 9,5%, divulgada pelo IBGE, um défice
orçamentário de quase cem bilhões proposto pelo Ministro da Fazenda, a
renegociação das dívidas por estados e municípios, agravando ainda mais o
descontrole das contas, faz o governo sucumbir diante de um Congresso que corre
célere com um processo de impeachment.
Não por acaso, parte do próprio PT, e o PMDB, já
ensaiam em seus laboratórios de política e corrupção uma vacina de autoimunização
para fugir das suas responsabilidades pela crise.
É pelo diálogo que se edificam pontes de saída das
crises; a Presidente perdeu essa opção.
AS INSTITUIÇÕES E A CRISE
Olhando para a intensificação do diálogo político no
mundo, no artigo anterior abordamos a falta de confiança e de credibilidade do
governo brasileiro, o retrocesso em suas práticas de governança, além da sua
incapacidade de dialogo com a sociedade.
A reflexão de hoje será sobre o que entendemos como
ações fora da curva das nossas instituições e de alguns dos seus membros, seja
por omissão ou por uma postura dissonante com as expectativas da nação.
Observando a atuação do STF, no que pese o equilíbrio
com que tem se pautado na maioria das suas decisões, nota-se claramente uma
politização na explicitação de opiniões pela imprensa, e até mesmo nas decisões
exaradas por alguns dos Ministros, notadamente em relação às ações contra o
governo.
Outro fato que tem suscitado debates entre juristas e
professores de reconhecidas escolas de direito do País, e da sociedade em
geral, é a permanecia do deputado Eduardo Cunha, como presidente da Câmara,
depois de tantos recursos interpostos ao STF, inclusive pelo Procurador Geral
da República Rodrigo Janot, com robusta fundamentação dos seus atos delituosos.
Sob o aspecto político, examinado o posicionamento do
Congresso Nacional, percebemos quão longe estamos de uma solução para tirar o
país dessa letargia econômica, com gravíssimos rebatimentos na renda das
famílias pelo agravamento do desemprego, o aumento das desigualdades, além, é
claro, da inapetência dos senhores deputados e senadores para a construção de
um entendimento político em favor da nação.
Quando se analisa o perfil da Câmara e do Senado, sob
a ótica da ética e da moral, a tragédia é, além de mais grave, mais doída, pois
se antes tínhamos “duzentos picaretas”, como disse o ex-presidente Lula, agora
se tem 24 partidos, mais de trezentos Deputados, e umas três ou quatro dezenas
de Senadores, pendurados no “mensalão” e “pixuleco”, segundo revelou a operação
lava jato, com a descoberta da “corruPTopatia”.
Em nosso entender, esses fatos concorrem não apenas
para o prolongamento da crise, mas até para o seu agravamento – isso atende a
satisfação dos interesses mesquinhos da oposição. Ao apresentarmos os fatos com
essa angulação um tanto trágica, o objetivo é chamar atenção do cidadão para
alguns aspectos da crise para além do Palácio do Planalto.
É fato que o governo da presidente Dilma tem
exclusiva responsabilidade pela crise, mas não é menos verdade que as nossas
instituições, especialmente o Congresso Nacional, em agindo com a tradicional e
medíocre pratica política, em nada contribui para construir uma solução como seria
seu dever Constitucional.
Rejeitado nas ruas, sem confiança e credibilidade
junto às instituições e grande parte da população – é como o governo se
encontra, ainda assim é preciso atentarmos para o fato de que o impeachment,
instrumento de controle político-jurídico, constitucional, tramita sob ameaça
de manipulação para satisfazer a lasciva política do deputado Eduardo Cunha,
Presidente da Câmara, e inimigo declarado da Presidente.
O parlamentar e o seu partido (PMDB) já se mostraram
desprovidos de qualquer escrúpulo na defesa dos seus interesses, e sem
compromisso com o país.
A saída do governo anunciada na última semana é a
comprovação de que PMDB, não passa de um partido fisiológico composto por aves
de rapina a espreita para mais um bote ao País.
OS PARTIDOS E
SUA
REPRESENTATIVIDADE
No artigo anterior examinamos as ações fora da curva
do Congresso Nacional e do STF, diante da crise de (des)governo da Presidente
Dilma, em razão da corruPTopatia.
Hoje a reflexão será sobre algumas propostas para a crise em sua vertente
política, na perspectiva da democracia no século XXI.
Iniciamos perguntando aos Deputados e Senadores, por
que teimam em manter uma legislação eleitoral e partidária que já se provou
falha do ponto de vista ético-político, corrupta sob o aspecto eleitoral, e antidemocrática
na perspectiva da participação de novos candidatos, já que, embora não proíba,
tira do cidadão comum a possibilidade de êxito eleitoral nas disputas.
Desde a redemocratização nos anos 90, ficou
demonstrado que os partidos já não mais representam a sociedade brasileira. A
eleição do Presidente Collor pelo inexpressivo PRN, evidenciou essa falta de
representatividade, pois tanto o candidato quanto o partido não tinham qualquer
relação com a sociedade.
Com os avanços científicos e tecnológicos dos últimos
30 anos, o fenômeno da comunicação online, alterando substancialmente as
relações sociais e as novas formas de organização da sociedade, tornaram os
partidos dissociados dos novos interesses e paradigmas da nação, contribuído
para tornar a política, antiética e corrupta, quando em sua essência a política
deve ter um sentido oposto a tudo isso.
As transformações pelas quais a sociedade brasileira
passou desde a Constituição de 1988, vão da permissão para utilização de
células tronco para fins científicos, a interrupção da gravidez de bebês
anencéfalos, passando pela união homoafetiva, etc.
Por que insistir em uma forma de organização
político-partidária, que além de não mais representar a sociedade com seus
novos paradigmas socioculturais, impede a renovação da representação
legislativa, perpetuando no poder verdadeiras castas de fariseus hipócritas,
corrompendo todas as estruturas éticas e morais do poder, e ainda subtrai
bilhões e bilhões do povo brasileiro pela corrupção?
Para não ficarmos apenas na reflexão crítica sobre a
falência do modelo em vigor, sugerimos com urgência um debate sobre a
formulação de um novo modelo de representação política, consoante com a
sociedade civil e suas organizações, já que o Congresso Nacional provou não ter
interesse em alterar o status quo.
O momento é oportuno para que com mesma ênfase e
entusiasmo que parte da sociedade tem ido as ruas protestar contra o governo e
pedir o impeachment da Presidente Dilma, um bom começo seria incluir nessa
pauta uma reforma político-partidária e eleitoral, que contemple um novo modelo
de representação.
Uma legislação que permita que os estudantes
secundaristas e universitários, pelas suas várias organizações, como a UNE e os
DCEs, possam apresentar candidatos para o legislativo e o executivo. Assim teríamos
a renovação da representação política da sociedade, e novas lideranças
surgiriam com esse novo modelo.
O mesmo valeria para as associações comunitárias,
sindicatos dos trabalhadores e empregadores, associações e comunidades
religiosas, afinal os parlamentos estão cheios de representantes desses
seguimentos, via partidos, em geral de aluguel. Esse debate é urgente.
COMENTÁRIO:
Lendo suas propostas, meu caro amigo, e envolvido pela incredulidade que atualmente permeia as nossas mais sagradas crenças, ante o rolo compressor da degeneração ética e da explosão desenfreada e inconsequente das paixões, lembro-me de um taciturno e lúcido professor do Curso de Jornalismo da UFC, Heitor Faria Guilherme que, a seu tempo (mais de vinte anos), prevendo dias difíceis, proclamava aos mais chegados, com um certo ceticismo: “Temo que, se necessária uma revolução séria neste País, teremos que importar os revolucionários”. Passamos seus temores a limpo?
Geraldo Jesuino.
Lendo suas propostas, meu caro amigo, e envolvido pela incredulidade que atualmente permeia as nossas mais sagradas crenças, ante o rolo compressor da degeneração ética e da explosão desenfreada e inconsequente das paixões, lembro-me de um taciturno e lúcido professor do Curso de Jornalismo da UFC, Heitor Faria Guilherme que, a seu tempo (+ de vinte anos), prevendo dias difíceis, proclamava aos mais chegados, com um certo ceticismo: -“Temo que, se necessária uma revolução séria neste País, teremos que importar os revolucionários”.
ResponderExcluirPassamos seus temores à limpo?
Lendo suas propostas, meu caro amigo, e envolvido pela incredulidade que atualmente permeia as nossas mais sagradas crenças, ante o rolo compressor da degeneração ética e da explosão desenfreada e inconsequente das paixões, lembro-me de um taciturno e lúcido professor do Curso de Jornalismo da UFC, Heitor Faria Guilherme que, a seu tempo (+ de vinte anos), prevendo dias difíceis, proclamava aos mais chegados, com um certo ceticismo: -“Temo que, se necessária uma revolução séria neste País, teremos que importar os revolucionários”.
ResponderExcluirPassamos seus temores à limpo?