domingo, 3 de abril de 2016

ARTIGO - 03 de abril de 2016 - Domingo da Misericórdia (*)



DOMINGO QUASÍMODO
Vianney Mesquita*


Perante a prova suprema – a da Morte – a fé dos apóstolos havia perigosamente oscilado. Para o homem, a Morte é o desabamento, é o vácuo, e no vácuo nada se reconstitui. Para Jesus Cristo, no entanto, Morte foi um princípio – morrera: era, pois, homem. Ressurgiu: é, por conseguinte, DEUS. (IGINO GIORDANI. YTivoli, 25.09.1894; VRocca di Papa, 18.04.1980). 


Hoje, 03 de abril de 2016, flui o Domingo da Misericórdia, coincidente com o derradeiro dia (o de número oito) da Oitava do Tempo Pascal, que perdura por sete semanas, desde o Domingo de Páscoa (ou da Ressurreição) ao Dia de Pentecoste, palavra significativa de cinquenta, pois perfará a cinquentena, em 10 de junho/2016, contando-se desde a descida do Espírito Paráclito sobre os Apóstolos.

Sob o ponto de vista histórico, é adequado, também, externar o fato de se haver definido outro ritual para a Missa, em 1969, ora vigente, a instâncias do Concílio Vaticano II, que pedira sua revisão, em ato promulgado pelo Sumo Pontífice Giovanni Battista Montini, restando conhecido como Missa de Paulo VI.

Convém acrescentar, em complemento, a informação de que, com origem na edição da Bula Quo Primo Tempore – “Desde os Primeiros Momentos” - de Pio V (Antonio Michele Ghislieri), consoante às orientações do Concílio de Trento, tinha curso a Missa no Rito Romano ou Missa Tridentina, celebrada em Latim, com o sacerdote de costas para os fiéis, tendo, pois, perdurado de 1570 a 1962, procedente do Breve de São Pio, há pouco mencionado, isto é, até a segunda edição da grande Assembleia Vaticana (o Concílio Ecumênico Vaticano I se deu de 8 de dezembro de 1869 a 18 do mesmo mês de 1870).

Em adição, também, cumpre exprimir o fato de que, ainda hoje, em várias paróquias anglicanas da Grã-Bretanha – onde a Igreja ânglica foi separada (não fundada, como se diz, erroneamente) por Henrique VIII - o Sacrifício da Missa é oficiado em código linguístico do Lácio, de acordo com os lineamentos do Concílio de Trento (cidade do Tirol italiano), realizado de 1545 a 1563, sem obediência ao rito missiológico editado por Paulo VI.

Ao vigorante Domingo da Oitava, também, se chama, nomeadamente noutros países e em línguas correspondentes, Domingo da Pascoela, ou Pequena Páscoa (do aramaico pashã = passagem), como prolongamento da Ressurreição, até derivar no dia de Pentecostes.

Interessante (e curiosa, também) é a antiga denominação de Domingo Quasímodo, expressão de emprego anterior ao Decreto Pontifical de 1969, radicada – coerentemente, é bom exprimir  no introito da Celebração Eucarística da Misericórdia, configurada na antífona do Salmo 117, ao evocar a Ressurreição de Jesus, conforme comentarei mais à frente.

A dicção “Domingo da Divina Misericórdia” alude à compaixão de Cristo a São Tomé, o Dídimo (do Grego = gêmeo), o qual, mesmo sem crer ao não ver, foi por Jesus perdoado. O vocábulo “misericórdia” procede do Latim miser + cordis, isto é, mísero (em estado lastimoso, indigente, digno de penúria) + coração. (CUNHA, A. Geraldo da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997) .

Como se sabe, esse Apóstolo não acreditou, ab initio, na Ressurreição, dEla só ficando convencido quando o Mestre apareceu outra vez e lhe mostrou nas mãos os sinais abertos, segurou-lhe as mãos e introduziu os dedos de São Tomé na injúria dos pregos. O Dídimo seguiu, arrependido e contrito, a pregar o Evangelho aos Partos, povo de procedência indo-europeia, e na Índia. Ele foi martirizado em Calamina (hoje Mylapore), perto de Madras (atual Chennai, capital do Estado indiano de Tamil Nadu, quarta cidade do País, com cerca de 6 milhões de habitantes).

No decurso da história, São Tomé Gêmeo é o protótipo dos que somente creem em algo após terem isto examinado de alguma maneira, como ele pegou, a instâncias de Jesus, as feridas do Cristo. Teve, entretanto, vida de santo por demais intensa e miraculosa, havendo sido, talvez, o único dos doze discípulos de Jesus a assistir à Assunção de Maria Santíssima.

O dia de São Tomé, ou São Tomás (nome procedente dos arameus), é festejado em 21 de dezembro, venerado que é o (ainda) inexplicado Gêmeo nos países católicos do Ocidente, bem assim no Oriente, máxime na Índia e na Síria, também lugares onde operou prodígios

Retorno ao introito do Salmo 117 – que concedeu nome ao Domingo Quasímodo - proferido na Missa da Oitava, principiado com a frase: QUASI MODO geniti infantis, racionabile, sine dolo lac concupiscites ut in eo crescatis in salutem. Em tradução livre, significa: Tal como (ou “ao modo de”)crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual puro, para que, por ele, possais crescer para a salvação. ( I Pe -  2,2).



(*) Penso que, entre outros pretextos de natureza circunstancial, tenha representado peso na mudança o fato de o adjetivo QUASÍMODO haver restado mais conhecido e popularizado na acepção de monstrengo, de pessoa quasimodal, consoante a personagem Quasímodo, do celebrado romance do escritor Vitor Hugo, Nossa Senhora de Paris, editado em 1881. Esse protagonista, feio e corcunda, sineiro da Catedral de Nossa Senhora, na Capital francesa, fora abandonado, consoante o enredo do Escritor, ainda criança, em um domingo de Páscoa, e adotado pelo arquidiácono, da inventiva de Vitor Maria Hugo, na Sé de Paris, chamado Claudio Follo.


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