UMA ESTÓRIA DE NADA
Aluísio Gurgel*
Era uma vez o nada
Nada nada fazia
De tanto nada fazer
Nada acontecia
Um dia um ponto surgiu
No meio do nada parado
Nada fez que não viu
E continuou descansado
O ponto cresceu um pouquinho
E nada nem se mexeu
Esse nada não é de nada
Pensou o tal pontinho
E outro tanto cresceu
Foi crescendo, crescendo, crescendo
E nada de nada se ouviu
Ficou enorme, tão grande
Que pronto, nada engoliu
Mastigou nada todinho
Quebrou em mil pedacinhos
Depois deu um arroto
E foi dormir sossegado
Com sua barriga cheia
De nada alimentado
Enquanto ele dormia
Tudo acontecia
Nada havia acabado
Nada em seu sonho surgiu
Assim, despreocupado
Cresceu, cresceu, cresceu
E engoliu o ponto safado
Pois nada nunca morreu
Nada nunca tem fim
Nada é inacabado.
Geniais os versos do estimadíssimo Dr. Aluísio Gurgel, utilizando o "nada" como pretexto. Este vocábulo presta-se muito bem como mote para poemas. Eu próprio, juntamente com o Remo Figueiredo Filho, na ocasião em que havia poucas aulas na Faculdade de Direito da UFC, fizemos, certa vez, um soneto - eu os quartetos e ele os trísticos - a respeito de "fazer nada", intitulado ÓCIO, tendo como destaque o emprego de anáforas.
ResponderExcluir"Fazer nada é forjar em forno frio,/ É fazer fé na fronte dos malucos;/É atiçar lamparina sem pavio/ E duvidar da liquidez dos sucos.
Fazer nada requer regar o rio,/ Remar -à ré no rastro dos caducos./ É cegamente acreditar num fio/De masculinidade nos eunucos.
Fazer nada, por final, amigo/ É o cogitar em certas ilações:/ Na certeza iminente de perigo/ Que a lazeirenta fome dos leões/ Costuma produzir nos corações/Que os cardiopatas conduzem consigo."
Parabéns, Dr. Aluísio. Sabe julgar, também, os bons versos!