terça-feira, 8 de setembro de 2015

CRÔNICA - Mais Franzonice - (VM)


MAIS FRAZONICE
Vianney Mesquita*

Aprendei de mim, ó flores, o que vai de ontem a hoje; que eu ontem maravilha fui e hoje sombra do que fui não sou. (Félix LOPE DE VEGA y Carpio, poeta e dramaturgo. YMadrid, 25.11.1562 - 27.08.1635).

Tenho na lista dos amigos o cratense Anselmo de Albuquerque Frazão, pessoa de bem, cidadão do melhor caráter, autenticidade a toda prova, dotado de temperamento alegre e jovial, malgrado os noventa, há pouco celebrados, tendo, também, como boa marca o fato de ser torcedor do Fortaleza.

Conheci-o quando adentrei a U.F.C. nas últimas unidades dos ’70, ele já como diretor da Imprensa Universitária, lugar onde permaneceu por cerca de quarenta anos, dos reitorados dos Professores Martins Filho a Hélio Leite.

Estão insertas no folclore da Universidade suas inteligentes tiradas, as nominadas frazonices, consoante cunhadas pelo médico e literato Prof. Dr. Pedro Henrique Saraiva Leão, algumas das quais já contei aqui.

Apesar de haver deixado a I.U. - U.F.C. (num lance desumano da vida), continuava a editar ali o Boletim Mensal do Rotary Club de Fortaleza, conforme o faz há dezenas de anos, como fidelíssimo e abnegado componente.

Ele próprio colhia e impunha arranjo às matérias, porém o artigo de fundo era feito pelo nosso amigo comum, ab imo corde, o itapajeense Prof. Dr. Agerson Tabosa Pinto, também jornalista e docente – ex-diretor da Faculdade de Direito, intelectual de escol, acadêmico atilado, doutrinador jurídico da melhor crase (03.09.1934 – 16.07.2011).

De estudo, intercalo na frazonice o que a canalha udenista da UFC conta a respeito desse editorialista, que era de corpo fornido, bastante avantajado. Narra a patuleia que ele fora vítima de uma mordida animal e se precatava da raiva canina, como se sabe, uma das mais graves zoonoses, recebendo uma longa série de doses intramusculares, na Farmácia José de Alencar e aplicadas, como é de hábito, por um rapaz alegre.

Quando da décima injeção, o gaio enfermeiro notou os músculos receptores do braço direito bastante inflamados, ao que disse:

Ixe, dotô, num dá pra ser nesse não; tá inchado por demais!

Ao descobrir Agerson o outro bração, o faceiro profissional exclamou:

Do mermo jeito, ou até pior! Tem de ser nas nádiga!

Eis que, quando o Dr. Agerson desceu as ceroulas, assomou a retaguarda, e o jucundo rapás saltitou para trás e, garridamente, admirou:

Vala, dotô! Se eu tivesse um trazeiro desse, eu já tava na Lapa, no Ri de Janêro, quetempo! ...

Voltando à vaca fria, já batera dez horas e o Frazão, na Imprensa Universitária, aperreando o Assis Martins para aprontar o Boletim, mas o A.M. falou que tudo estava pronto, faltando somente o editorial, de assinatura do Prof. Agerson Tabosa Pinto, o qual prometera enviar o escrito ainda de manhã.

Com o tempo escasso, pois a reunião do Rotary ocorreria às 13 horas, o Frazão, mais vivo do que rabo de calango, se vexou e ligou para assustar o sueltista, a fim de obter resultado imediato. Foi só no que deu:

– Agerson como preciso do Boletim à uma hora, vou escrever o editorial e botar teu nome, certo ?

Conhecedor em profundidade dos dotes de cultura e prendas redacionais do ex-Sargento Frazão, em menos de meia hora, o Agerson bateu na Imprensa para entregar o suelto.



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