quarta-feira, 9 de setembro de 2015

NOTA DA AUTORA - Oiticica - Romance (MN)

OITICICA – Romance
Editora Chiado – 2015*
Mara Nóbrega**

Quando fui receber este livro com as devidas correções gramaticais e estilísticas, feitas por um conhecido profissional da área, o escritor Vianney Mesquita, docente da Universidade Federal do Ceará, fiquei felicíssima, porém, a igual tempo, profundamente triste.

Se, por um lado, meu revisor teceu elogios ao que escrevi, de outra parte, me advertiu das dificuldades que poderia encontrar, no instante no qual pedi orientações sobre como fazer para publicar um romance de cariz regional por intermédio de uma editora de cobertura nacional no plano do Brasil. A fim de me ajudar, apontou o segundo caminho, caso eu assim resolvesse publicá-lo de maneira independente. Forneceu-me nomes de três editoras e se dispôs ao que eu precisasse.
 
Antes de sair da sala, porém, insisti mais uma vez no assunto de enviá-lo a uma editora que pudesse apreciar a estória e – quem sabe – levá-la ao lume.

A resposta dele, entretanto, me soou como verdade absoluta e saí pensando em como faria para seguir este improvável e último conselho. Talvez esta fosse outra forma de tentar me mostrar o quão árdua poderia ser a trilha até à publicação. A ele agradeço por isso, pois entendi exatamente o que pretendeu dizer. Só que segui ao pé da letra.

Pacientemente, o Prof. Vianney Mesquita falou, sorrindo uma maneira de seu livro ser lido por algum editor, e – quem sabe – ser publicado, é se algum escritor brasileiro renomeado, como, por exemplo, Ariano Suassuna, escrever a apresentação ou mantiver contato com uma casa publicadora recomendando a edição.

Em dois dias eu já havia entrado em contato com o assessor do Intelectual paraibano no Recife. Perguntei se poderia enviar ao mestre Ariano uma cópia do meu livro a fim de que o lesse. Este, de pronto, me forneceu a direção para a entrega.

Escrevi-lhe um bilhete, ajuntando-o ao volume. Sem rodeios, pedi que ele me desse uma opinião e, caso gostasse, escrevesse o Prefácio.

Aconteceu que o pacote foi extraviado e só chegou ao destino vinte dias depois. Na minha angústia, insisti tanto por notícias com o assessor que, no dia em que ele soube haver aportado o original às mãos de Ariano Suassuna, enviou-me um correio eletrônico: Acabo de saber que Ariano recebeu seus escritos.

Pronto! A sorte estava lançada. Será que iria gostar? Iria prefaciá-lo? Eram muitas as dúvidas.

O Destino, entretanto, não me deixou saber.

No dia seguinte ao e-mail, vi pela televisão a matéria dando conta de um acidente vascular cerebral sofrido pelo Escritor e aduzindo que havia sido admitido a hospital. Fora submetido a uma cirurgia. Não demorou muito e soubemos da triste nota do seu falecimento.

Caetana – como ele chamava a morte no sertão – o havia levado. E com ela ninguém negocia; mas, sabes, Senhora? Deixaste uma brechinha por onde pude entrar e me segurar. Concedeste-me o benefício da dúvida, e decidi acreditar no melhor.

Um dia após sua partida, ocorrida em 23 de julho de 2014, me peguei pensando nesse mestre de forma curiosa. Sinto-me ligada a ele, quando reflito que este livro não foi o primeiro, mas pode ter sido o derradeiro que Ariano folheou. E isto para mim é o bastante.

Agora, quando ouvir algo ringindo procedente lá de Cima, vou acreditar que é ele se balançando numa cadeira de palhinha a contar causos. Acho que o céu está ficando interessante...

E se você, leitor, estiver em contato com este texto, é porque alguma teimosa editora aceitou o desafio e resolveu publicar o tal romance.

Vou experimentar, então, uma felicidade só, pensando no que a gente é capaz quando se acredita com plena fé.


**Mara Nóbrega 
Pedagoga e 
escritora cearense


*Matéria eviada por Vianney Mesquita

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