OITICICA – Romance
Editora Chiado – 2015*
Mara Nóbrega**
Quando
fui receber este livro com as devidas correções gramaticais e estilísticas,
feitas por um conhecido profissional da área, o escritor Vianney Mesquita,
docente da Universidade Federal do Ceará, fiquei felicíssima, porém, a igual
tempo, profundamente triste.
Se,
por um lado, meu revisor teceu elogios ao que escrevi, de outra parte, me
advertiu das dificuldades que poderia encontrar, no instante no qual pedi
orientações sobre como fazer para publicar um romance de cariz regional por
intermédio de uma editora de cobertura nacional no plano do Brasil. A fim de me
ajudar, apontou o segundo caminho, caso eu assim resolvesse publicá-lo de
maneira independente. Forneceu-me nomes de três editoras e se dispôs ao que eu
precisasse.
Antes
de sair da sala, porém, insisti mais uma vez no assunto de enviá-lo a uma
editora que pudesse apreciar a estória e – quem sabe – levá-la ao lume.
A
resposta dele, entretanto, me soou como verdade absoluta e saí pensando em como
faria para seguir este improvável e último conselho. Talvez esta fosse outra
forma de tentar me mostrar o quão árdua poderia ser a trilha até à publicação.
A ele agradeço por isso, pois entendi exatamente o que pretendeu dizer. Só que
segui ao pé da letra.
Pacientemente,
o Prof. Vianney Mesquita falou, sorrindo –
uma maneira de seu livro ser lido por
algum editor, e – quem sabe – ser publicado, é se algum escritor brasileiro
renomeado, como, por exemplo, Ariano Suassuna, escrever a apresentação ou
mantiver contato com uma casa publicadora recomendando a edição.
Em
dois dias eu já havia entrado em contato com o assessor do Intelectual
paraibano no Recife. Perguntei se poderia enviar ao mestre Ariano uma cópia do
meu livro a fim de que o lesse. Este, de pronto, me forneceu a direção para a
entrega.
Escrevi-lhe
um bilhete, ajuntando-o ao volume. Sem rodeios, pedi que ele me desse uma
opinião e, caso gostasse, escrevesse o Prefácio.
Aconteceu
que o pacote foi extraviado e só chegou ao destino vinte dias depois. Na minha
angústia, insisti tanto por notícias com o assessor que, no dia em que ele
soube haver aportado o original às mãos de Ariano Suassuna, enviou-me um
correio eletrônico: – Acabo de saber que Ariano
recebeu seus escritos.
Pronto!
A sorte estava lançada. Será que iria gostar? Iria prefaciá-lo? Eram muitas as
dúvidas.
O
Destino, entretanto, não me deixou saber.
No
dia seguinte ao e-mail, vi pela
televisão a matéria dando conta de um acidente vascular cerebral sofrido pelo
Escritor e aduzindo que havia sido admitido a hospital. Fora submetido a uma
cirurgia. Não demorou muito e soubemos da triste nota do seu falecimento.
Caetana – como ele chamava a morte no
sertão – o havia levado. E com ela ninguém negocia; mas, sabes, Senhora?
Deixaste uma brechinha por onde pude entrar e me segurar. Concedeste-me o
benefício da dúvida, e decidi acreditar no melhor.
Um
dia após sua partida, ocorrida em 23 de julho de 2014, me peguei pensando nesse
mestre de forma curiosa. Sinto-me ligada a ele, quando reflito que este livro
não foi o primeiro, mas pode ter sido o derradeiro que Ariano folheou. E isto
para mim é o bastante.
Agora,
quando ouvir algo ringindo procedente lá de Cima, vou acreditar que é ele se
balançando numa cadeira de palhinha a contar causos. Acho que o céu está
ficando interessante...
E
se você, leitor, estiver em contato com este texto, é porque alguma teimosa
editora aceitou o desafio e resolveu publicar o tal romance.
Vou
experimentar, então, uma felicidade só, pensando no que a gente é capaz quando
se acredita com plena fé.
**Mara
Nóbrega
Pedagoga e
escritora cearense
*Matéria eviada por Vianney Mesquita
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