quinta-feira, 3 de setembro de 2015

CRÔNICA - A propósito de Contraste (VM)


A PROPÓSITO DE CONTRASTE, SONETO PARADIGMÁTICO DE 
Pe. ANTÔNIO TOMÁS
Vianney Mesquita*


A mocidade na velhice é o anseio impotente de um coração que quer romper os tecidos atrofiados, para dar pulos em pleno ar. (CAMILO CASTELO BRANCO).

Lavo a alma e enxagúo o espírito, regado com a pureza artística desta vertente informativa – o jornal eletrônico da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. (V.M., em 5 de julho de 2015).


Em 5 de julho transato, escrevi neste medium a crônica Pingos de Arte e Ciência, lance no qual me comprazi com enaltecer a maioria dos autores cujas matérias aqui circulam, numa demonstração patente de que o Sodalício mantenedor da folha sob atenção é objeto da consideração dos seus leitores no concernente aos proveitos que traz à ciência, à cultura, ao jornalismo e a outras vertentes do saber.

Remeto-me, por oportuno – e novamente – agora, à matéria intitulada Esqueci o Título, da colheita de Assis Martins, escrita no capricho, com ares de bom humor (no seu primeiro tempo), inteligência e preparo em todo o seu decurso.

Seu escrito professoral sossega na relação senescência-senilidade, inexorável porto onde abicam as naus daqueles que logram transpor a juventude. A crônica do escritor Assis Martins – conforme pode rever o leitor – foi objeto de judicativo comentário da editoria do jornal, quando reproduziu, com raro senso de ocasião, o vínculo jovem-velho e esperança-desengano, tão excelentemente configurado no decassilábico português do Sacerdote-poeta acarauense, Padre Antônio Tomás, cujos 146 anos de nascimento decorrem agora, no próximo dia catorze.

O celebrado versificador coestaduano foi o primeiro Príncipe dos Poetas Cearenses, mercê de suas composições elevadamente edificantes, como, e.g., Verso e Reverso, acerca de temáticas humanas e humanitárias, vazadas em pés de medida tecnicamente perfeitas, obsequentes às grades determinadas pelos tratados de versificação, o que, em adição ao seu precioso estro, resulta em peças artística e (também) moralmente apreciáveis, feito um dos maiores sonetistas da Língua Portuguesa.

Esse autor, que jamais publicou um livro – decerto por falta de oportunidade – foi o primeiro sonetista por mim conhecido, no começo dos ’50, quando cursava o Primário, com a Professora Eunice Leite, na Escola Paroquial Mons. Tabosa, na Palmácia bucólica da minha meninice. Foi quando, pela volta primeira, tomei gosto por essa craveira compositiva, mediante a qual elaborei alguns quadri-trísticos, decassilábicos e heptassilábicos. Neste sistema de ictos – sete acentos – publiquei, em 2004, ... E o Verbo se fez Carne (Sobral: Edições UVA), no chamado cordel clássico, composto no gradil no sonetilho, isto é, sextilhas setessilábicas.

Hoje, por conta da ensancha de leituras de que se aproveita, no fastígio da rede mundial de computadores, mesmo os autores menos conhecidos outrora aparecem nos media eletrônicos, distintamente de períodos mais recuados, quando a cultura literária estava apenas nos suportes de papel, particularmente naqueles circulantes pelo País por intermédio das boas editoras, as quais procediam à devida distribuição comercial.

Lembro-me do fato de que, estando no Rio de Janeiro, em formação em serviço na TV Educativa – Sistema Nacional, assistia a um desses programas de variedades culturais e informativas da própria emissora, no final dos ’80, quando um telespectador posto no ar recitou os dois extraordinários quartetos de Contraste, ao passo que indagou à produção sobre seu autor, pois sequer o nome sabia, e pediu para que alguém complementasse o soneto declamando os trísticos.

Após solicitar as informações aos sintonizantes – e até para a Academia Brasileira de Letras a apresentadora telefonou  sem resultado, decidi complementar, recitando os tercetos. Admitido, então, ao estúdio, onde o programa era desenvolvido ao vivo, forneci os dados pretendidos e disse:

Então nós enxergamos claramente/ Como a existência é rápida e falaz./E vemos que sucede, exatamente,/

O contrário dos tempos de rapaz:/Os desenganos vão conosco à frente/E as esperanças vão ficando atrás.



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