A PROPÓSITO DE CONTRASTE, SONETO PARADIGMÁTICO DE
Pe. ANTÔNIO TOMÁS
Pe. ANTÔNIO TOMÁS
Vianney Mesquita*
A
mocidade na velhice é o anseio impotente de um coração que quer romper os
tecidos atrofiados, para dar pulos em pleno ar. (CAMILO CASTELO BRANCO).
Lavo
a alma e enxagúo o espírito, regado com a pureza artística desta vertente
informativa – o jornal eletrônico da Academia Cearense de Literatura e
Jornalismo. (V.M., em 5 de
julho de 2015).
Em
5 de julho transato, escrevi neste medium
a crônica Pingos de Arte e Ciência,
lance no qual me comprazi com enaltecer a maioria dos autores cujas matérias
aqui circulam, numa demonstração patente de que o Sodalício mantenedor da folha
sob atenção é objeto da consideração dos seus leitores no concernente aos
proveitos que traz à ciência, à cultura, ao jornalismo e a outras vertentes do
saber.
Remeto-me,
por oportuno – e novamente – agora, à matéria intitulada Esqueci o
Título, da colheita de Assis
Martins, escrita no capricho, com ares de bom humor (no seu primeiro tempo),
inteligência e preparo em todo o seu decurso.
Seu
escrito professoral sossega na relação senescência-senilidade, inexorável porto
onde abicam as naus daqueles que logram transpor a juventude. A crônica do
escritor Assis Martins – conforme pode rever o leitor – foi objeto de
judicativo comentário da editoria do jornal, quando reproduziu, com raro senso
de ocasião, o vínculo jovem-velho e esperança-desengano, tão excelentemente
configurado no decassilábico português do Sacerdote-poeta acarauense, Padre
Antônio Tomás, cujos 146 anos de nascimento decorrem agora, no próximo dia
catorze.
O
celebrado versificador coestaduano foi o primeiro Príncipe dos Poetas
Cearenses, mercê de suas composições elevadamente edificantes, como, e.g., Verso e Reverso, acerca de temáticas
humanas e humanitárias, vazadas em pés de medida tecnicamente perfeitas,
obsequentes às grades determinadas pelos tratados de versificação, o que, em
adição ao seu precioso estro, resulta em peças artística e (também) moralmente
apreciáveis, feito um dos maiores sonetistas da Língua Portuguesa.
Esse
autor, que jamais publicou um livro – decerto por falta de oportunidade – foi o
primeiro sonetista por mim conhecido, no começo dos ’50, quando cursava o
Primário, com a Professora Eunice Leite, na Escola Paroquial Mons. Tabosa, na
Palmácia bucólica da minha meninice. Foi quando, pela volta primeira, tomei
gosto por essa craveira compositiva, mediante a qual elaborei alguns
quadri-trísticos, decassilábicos e heptassilábicos. Neste sistema de ictos –
sete acentos – publiquei, em 2004, ... E
o Verbo se fez Carne (Sobral: Edições UVA), no chamado cordel clássico, composto no gradil no sonetilho, isto é, sextilhas
setessilábicas.
Hoje,
por conta da ensancha de leituras de que se aproveita, no fastígio da rede
mundial de computadores, mesmo os autores menos conhecidos outrora aparecem nos
media eletrônicos, distintamente de
períodos mais recuados, quando a cultura literária estava apenas nos suportes
de papel, particularmente naqueles circulantes pelo País por intermédio das
boas editoras, as quais procediam à devida distribuição comercial.
Lembro-me
do fato de que, estando no Rio de Janeiro, em formação em serviço na TV
Educativa – Sistema Nacional, assistia a um desses programas de variedades
culturais e informativas da própria emissora, no final dos ’80, quando um
telespectador posto no ar recitou os dois extraordinários quartetos de Contraste, ao passo que indagou à
produção sobre seu autor, pois sequer o nome sabia, e pediu para que alguém
complementasse o soneto declamando os trísticos.
Após
solicitar as informações aos sintonizantes – e até para a Academia Brasileira
de Letras a apresentadora telefonou – sem resultado, decidi complementar,
recitando os tercetos. Admitido, então, ao estúdio, onde o programa era
desenvolvido ao vivo, forneci os
dados pretendidos e disse:
Então nós enxergamos claramente/ Como a existência é
rápida e falaz./E vemos que sucede, exatamente,/
O contrário dos tempos de rapaz:/Os desenganos vão
conosco à frente/E as esperanças vão ficando atrás.
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