O IMPASSE
Rui Martinho Rodrigues*
Os entes públicos estão devendo cada
dia mais. Consumidores e empresas também. Os investimentos públicos estão
próximos de zero e os particulares idem. A recessão chegou. A dívida cresce
mais do que o PIB há um quarto de século. A nossa indústria está encolhendo e
não tem competitividade. Estamos vivendo acima das nossas possibilidades,
considerando a produtividade as dimensões da nossa economia. O déficit primário aponta gastos maiores do que as receitas. Não é possível viver acima das possibilidades
indefinidamente.
É preciso investir. Para investir é
preciso ter poupança, contrair dívidas ou atrair investidores. Não existe um
quarto caminho. Atrair investidores exigiria a superação dos preconceitos
ideológicos. Portos, aeroportos, estradas, centrais elétricas e inúmeras outras
oportunidades de atração de investimentos privados estão a espera de
oportunidade. Mas este é um caminho bloqueado pela barreira ideológica e a
falta de definição de regras do jogo.
Contrair mais dívidas ainda é
possível, mas a um custo cada vez mais alto. A dívida tende a fugir ao controle
do governo.
A formação de uma poupança própria
para investir é um caminho de duas faces. Uma delas exigiria redução de
despesas. Precisaríamos buscar um novo ponto de equilíbrio, um padrão de vida
menor.
Não sobrará dinheiro para
investimentos sem sacrifícios. Mas não há clima para tanto. Nem lideranças, nem
partidos, nem organizações da sociedade estão propondo nem inclinados a aceitar
sacrifícios. Não se vislumbra redução das despesas públicas, até porque elas
são quase inteiramente rígidas. Dispositivos legais e até constitucionais
forçam o crescimento das despesas, ajudados pelos grupos de pressão
politicamente organizados.
Restaria a outra face do caminho da
formação de poupança própria para investir: o aumento de receitas. Isso foi
feito nos últimos 25 anos. A carga tributária era baixa, favoreceram o
crescimento das receitas. Mas não foi suficiente. A dívida cresceu. Agora a
carga tributária é alta e já não é fácil aumentar as receitas.
O ambiente político se caracteriza
pela falta de liderança e pela falta de propostas minimamente lúcidas. Propor
sacrifícios parece suicídio político. A sociedade parece continuar iludida. A
ilusão é alimentada pelos poucos anos de sucesso da política de frouxidão nos
gastos. O fato de que alguns anos depois cheguem as contas e com elas o
fracasso da política milagrosa não é suficiente para nos trazer de volta a
realidade. Há sempre uma desculpa. Culpamos alguém e até a corrupção serve para
preservar a ilusão do almoço sem conta. Mas não basta
combater a corrupção.
Não sejamos ingênuos. O que temos é um
impasse. A sabedoria popular diz que o que não tem remédio remediado está. A
inflação poderá se transformar, não na solução, mas no desastre que rompe o
impasse desvalorizando contas e o déficit. Ninguém assumirá o ônus de propor e
aprovar medidas antipáticas. E os especuladores seriam responsabilizados pela
alta de preços. Voltaríamos aos tempos sombrios da década de oitenta.
Ouro Preto – MG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário