Rui Martinho Rodrigues*
O presidente Evo Morales, da Bolívia,
fez um pronunciamento dirigindo-se aos militares daquele país, imiscuindo-se na
política interna do Brasil. Ameaçou lançar o exército boliviano contra nós.
Bastaria que o Congresso Brasileiro ou o Poder Judiciário entendessem haver
motivos suficientes para defenestrar a presidente Dilma do Poder, para que o
“poderoso” exército boliviano nos invadisse.
A ingerência nos nossos assuntos
internos já seria descabida. A ameaça, porém, mistura ridículo com uma grave
afronta diplomática, e advertência a ser considerada. Ridículo: a Bolívia não
tem condições materiais de invadir nem o complexo da Maré, no Rio de Janeiro,
ainda que este fosse na fronteira do Estado “ameaçador”. Uma afronta: é uma
declaração de um chefe de governo, completamente intolerável do ponto de vista
político e diplomático. Advertência a ser considerada, por várias razões.
Milícias de movimentos políticos que se apresentam como “movimentos sociais”, organizada dentro das nossas fronteiras, recrutando brasileiros, já foram citadas como uma força capaz de decidir por meios violentos a crise política vivida pelo nosso país. Já houve líder de organização aparelhada que convocou os seus militantes e simpatizantes a recorrer às armas com o mesmo objetivo da declaração do presidente boliviano (coincidência?).
Tais milícias, organizadas aqui mesmo,
poderão encontrar na Bolívia uma fronteira de apoio: refúgio, meios logísticos,
principalmente na fronteira de Rondônia e do Acre. Pior: a ameaça não tem o
perfil da Bolívia. Morales se mostrou arrogante porque conta com apoios na
UNASUL. Venezuela, bem mais armada do que a Bolívia, ansiosa por encontrar um
inimigo externo, para desviar a atenção dos seus problemas internos, se somam às
FARC e a outros governos do continente, alinhados com o governo de Caracas.
Os demais países não preocupam. Mas a
organização narco-revolucionária tem algum potencial. Pode criar problemas,
principalmente nos vales dos rios Iça, Japurá, Negro e Solimões.
Passaram-se os dias. Nada se fez. Protesto
do governo brasileiro, pedido de explicações, um pronunciamento da Presidente
Dilma, já que a resposta deveria ser dada no mesmo nível hierárquico da manifestação
do governo de La Paz. Nada. Presidência da República brasileira, ministérios
das Relações Exteriores e da Defesa, todos se omitiram.
A resposta dada por
Floriano Peixoto aos ingleses, quando estes perguntaram como receberia uma
intervenção daquela potência na guerra civil que então se travava no Brasil, bem
poderia ter sido repetida. O Marechal de Ferro disse simplesmente que receberia
tal intervenção a bala. Mas, nem os chefes dos grandes comandos situados na
fronteira ameaçada quebraram o silencio.
A omissão é eloquente. A ameaça a ser
considerada é aprovada por setores situados na alta hierarquia do governo
brasileiro. Outros estão intimidados. Não se justifica o silêncio que envolveu
até as organizações da sociedade civil. Esta é sabidamente aparelhada. Mas as
lideranças e partidos, inclusive os que se dizem de oposição, guardaram
inexplicável silêncio.
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