segunda-feira, 6 de outubro de 2014

DISCURSO (VM)

ODE A RAIMUNDO HOLANDA FARIAS
Vianney Mesquita*


Saudade: olhos que ficam numa margem a contemplar aquilo postado no lado oposto. (BONINI, Iside M.).


Consoante sugere Iside Bonini, a saudade são os olhos quedados numa margem, a contemplar aquilo postado no lado opósito.

Isto me conduz a referir à ideia de que, a despeito de demandar mais de dois anos e meio do trânsito do nosso homenageado para dimensão mais do que terrena, sua lembrança radica sempre mais viva na retenção imaginativa de seus amigos, ex-alunos, correligionários e admiradores, ao se refletirem, dia a dia, na imagem de uma personalidade prototípica de um excecional e humano ser.

Este é um estribilho perene, solfejado incessantemente pelos seus circunstantes. Constitui o refrão ininterrupto dos apreciadores e seguidores do seu caráter intacto, não acessível ao deslustre da indignidade, no âmbito familiar, na contextura amistosa e no contorno público. Continua a espelhar comportamentos modelares e delinear atitudes nas quais se distingue a estampa de PESSOA, na mais depurada acepção que esta unidade de ideia possa denotar.

Assere tal insofismável realidade a preciosa feição de sua descendência – configurada em Luís Alfredo, Karla e Lucy Anna – e sua linhagem extensiva de nora, genros e netos – a qual, procedente dele e de Dona Célia Gadelha Farias, reúne aquelas mesmas crianças que conheci na casa da Vila União e no sítio Catolé. Agora, entretanto, sob decorrência natural da vida transcursa na normalidade e no esmero educacional da ambiência doméstica e pedagógica, os filhos estão profissionalizados e mourejam nos mais dignos ofícios funcionais. Isto porque – a instâncias da responsabilidade que soi presidir os pais perfeitos – transitaram pelas melhores escolas, frequentaram as mais distintas academias – como nossa UFC, por exemplo, e aportaram a um cais seguro, onde a educação e a instrução, submissas aos ditames da Ciência e da Ética, são os garantes da continuidade desse estatuto educacional, logrado a custo de comportamentos familiais tão consentâneos como os que Dona Célia e o Professor Raimundo Holanda acharam de perfilhar.

A pessoa plural que sua imensa aleia de admirantes reverencia neste livro, protagonista de incontáveis exemplos conhecidos de todos, resulta paradigmática, decorre especular, hajam vistas as posições irretocáveis, sob o espectro da moral e do recato, assuntas no decorrer de toda a rota por ele esquadrinhada durante os quase 74 anos em que esteve entre nós, conforme se pode divisar neste volume.

O Professor Raimundo Holanda Farias, homem, professor e administrador público-acadêmico de enorme visão, é, por conseguinte, baluarte, peça de considerável valor histórico da nossa Universidade Federal do Ceará.

Eis por que seus amigos e apreciadores se ajuntaram e, sob a mão direita da Doutora Karla Adriana Farias Vieira, fizeram este registro de demarcado merecimento para o roteiro da memória educacional superior do nosso Estado, particularizando a UFC.

Este volume, por conseguinte, constitui uma coleção de consignações expressas por seus amigos e circunstantes, que com ele operaram trabalhos diversos, notadamente numa sucessão de estádios de amadurecimento e consubstanciação da nossa Academia, mormente no que concerne às ações de administração e extensão universitárias, esta que se tornou, pela Lei 5540/1968, indissociável do ensino e da pesquisa.

Os consultantes experimentarão, pois, a oportunidade de asserir, em especial os que não privaram da sua amizade e companheirismo trabalhista, o fato de que o Professor Raimundo Holanda foi um docente e administrador acadêmico de ilimitadas aptidões, tendo desempenhado, de sobra e a contento, assinalados papéis na UFC, à qual serviu com sobrado zelo e inaudita competência.

Ponto de destaque ocorreu com sua eleição para reitor da Instituição, por parte da comunidade universitária, não havendo logrado assumir a Reitoria em decorrência de fenômenos feridos a contrapelo de sua vontade e de seus correligionários, fato, aliás, que a família e os de sua relação decidiram, por proveitoso, aterrar, em vantagem das relações sociais esclarecidas.

Este livro, de autoria plural, tem uma peculiaridade: é que, em decorrência da multiplicidade de elocuções e maneiras de os articulistas se manifestarem, é claro, não é possível a unidade estilística, porquanto são múltiplas as expressões do pensamento, todavia, mesmo assim, elas retratam, com a maior fidelidade, a personalidade e o vigor laborante de Raimundo Holanda Farias, ao deixar para os fastos da UFC uma quadra registrada, in albo signanda lapillo, para emprego e usufruto de quem é conferido o trabalho de tocar a progressão da existência institucional.

Autores de peso, como o ex-reitor, Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto, e Professores Sulamita Vieira/Célio Lima – além de meus preclaros amigos, professores Agamenon Tavares de Almeida, José Everardo Sobreira e Carlos Henrique Ximenes - trazem textos denotativos, em meio a muitos, do verdadeiro contributo do Dr. Raimundo Holanda Farias à nossa evolução universitária, em complemento à sua maneira de operar pacificamente, sem arengas nem pressa, jeito de fazer que individualizou seu modus operandi e legou exemplo para os que trabalham na UFC ou subsequentemente aqui adentraram.

Creio representar distinção enorme, para os vários articulistas deste livro, a ensancha de fazer chegar ao público um punhado de classificados registros, em ato creditado ao imenso administrador, Professor Jesualdo Pereira Farias. É fato consabido, este dirigente-mor, no momento, é reconhecido como reitor dos mais preeminentes, em trabalho e descortino, da memória da Instituição, numa excepcional quadra pela qual transita a Universidade Federal do Ceará, feita, hoje, uma das maiores potências acadêmicas do País, em todos os aspectos de sua atuação, agora a cobrir a quase totalidade das regiões do Ceará, com seus programas de ensino, extensão e busca científica.

O Professor Jesualdo Farias, divisando os benefícios desta publicação, autorizou a edição, providenciada pelo CETREDE, por via das diligências do Prof. Francisco de Assis Melo Lima, autoridades universitárias às quais a família do Professor Holanda – por meu intermédio – externa sentidos agradecimentos.

O nome, a memória e as preleções do sábio docente refletido na edição a que me refiro, em lidar com pessoas as mais díspares em personalidade e modos de se comportar, estão, seguramente, preservados nas páginas deste livro, cujos autores aportaram ao seu recheio estremes escritos denotativos do vigor administrativo, extensionista e pedagógico, que presidiu ao caráter do Professor Raimundo Holanda Farias, razão primordial do subtítulo desta peça editorial, da lavra da Doutora Karla Adriana Holanda Farias Vieira, configurada no Tributo ao mestre que ensinou fazendo.


Falei. Muito obrigado.
*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

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