O HOMEM BULDOGUE
Reginaldo Vasconcelos*
O homem come sozinho na mesa. Come como um buldogue. E me olhou um olhar
gordo de buldogue, pálpebras a meio pau, desinteressado no resto, subitamente
interessado em meu interesse curioso sobre seu modo de comer. Desvio a vista
num reflexo... Por instinto, os buldogues mordem quando alguém lhes olha a
comida.
Ele volta ao prato como movesse a cauda, nítido ar de satisfação. A
pizza é enorme e a noite é uma criança. É um comilão. Agita o catchup como quem
faz um coquetel e espalha no prato com requintes de perversidade.
Firma garfo e faca, levanta os cotovelos para retalhar. Joga cerveja no
copo em forma efervescente, que se desfaz em espuma. E bebe, e come, e amassa o
guardanapo no bigode, movendo as formas do rosto.
Chama o garçom com a mão esquerda, sem soltar o garfo, olha de relance e
baixa a vista à mesa novamente. Fala com ele mastigando. Vê que eu olhava
novamente, disfarço... tive a impressão de que ia latir. Mas continua comendo,
e eu estarrecido com a sua fome canina.
Não estou feliz e estou meio bêbado, enquanto observo e escrevo. Tenho
problemas no momento. Espero a minha sorte, enquanto vejo o homem buldogue que
devora cerveja, que mastiga uma pizza gigante com muito azeite e muito apetite.
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