terça-feira, 14 de outubro de 2014

CRÔNICA (RV)

O HOMEM BULDOGUE
Reginaldo Vasconcelos*

O homem come sozinho na mesa. Come como um buldogue. E me olhou um olhar gordo de buldogue, pálpebras a meio pau, desinteressado no resto, subitamente interessado em meu interesse curioso sobre seu modo de comer. Desvio a vista num reflexo... Por instinto, os buldogues mordem quando alguém lhes olha a comida.

Ele volta ao prato como movesse a cauda, nítido ar de satisfação. A pizza é enorme e a noite é uma criança. É um comilão. Agita o catchup como quem faz um coquetel e espalha no prato com requintes de perversidade.

Firma garfo e faca, levanta os cotovelos para retalhar. Joga cerveja no copo em forma efervescente, que se desfaz em espuma. E bebe, e come, e amassa o guardanapo no bigode, movendo as formas do rosto.

Chama o garçom com a mão esquerda, sem soltar o garfo, olha de relance e baixa a vista à mesa novamente. Fala com ele mastigando. Vê que eu olhava novamente, disfarço... tive a impressão de que ia latir. Mas continua comendo, e eu estarrecido com a sua fome canina.


Não estou feliz e estou meio bêbado, enquanto observo e escrevo. Tenho problemas no momento. Espero a minha sorte, enquanto vejo o homem buldogue que devora cerveja, que mastiga uma pizza gigante com muito azeite e muito apetite.




*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

   

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