PARTIDOS COLORIDOS
Por Paulo Maria
de Aragão*
Há
os que absolutamente nada sabem de democracia e muito menos por ela se
interessam, mas são espertos negociadores de voto. Ora, se despendem fortunas, é porque irão se locupletar durante o mandato.
E não tem fim o círculo vicioso. Invariavelmente, a maioria dos candidatos trata esse
intenso negócio, envolvendo bens materiais, favores, promessas de emprego,
distribuição de cestas básicas, dinheiro vivo e até abastecimento de água nas
comunidades que dependam dos carros-pipas. O povo como partícipe do delito não
se indigna com essa corrupção grossa, que permeia a república.
Desse modo, o grande desafio
para a Justiça Eleitoral permanece sendo o combate do abuso do poder político ou econômico, que se manifesta ostensivamente como crime
de índole política e que é visto por seus autores como prática natural.
Deveras, a prática é tão arraigada que ainda são recorrentes os currais
eleitorais,
onde massas incultas e não incultas, temerosas da perda do sustento,
votam, submissas, de acordo com a vontade do “padrinho”.
Com efeito, a dinâmica dos interesses
corrompidos pelo dinheiro e pelo poder rege os espaços da política,
evidenciando um contexto vazio de verdadeiros ideais. Isso resulta na distância
entre o discurso proclamado e a ação dos personagens envolvidos; o falso
idealismo na defesa de causas essenciais: saúde,
educação e segurança.
Não é preciso aguçar o raciocínio para
compreender a razão de sermos condenados à sina de eternos habitantes do
pântano da bandalha: a
cada dia um novo escândalo, quando imputados, são inocentes – nada sabem, nada veem – e quem os acusa é leviano. O buraco não
tem fundo. Como se esperar coerência, dignidade e respeito dos que irão dirigir
as instituições?
De tanto se falar em mercancia com o mandato eletivo, voltam à memória as quermesses que angariavam
fundos nas animadas festas das igrejas para obras sociais, as quais
tinham como ponto alto a eleição da rainha do partido encarnado
ou da do partido azul. Votos eram vendidos conforme a preferência do eleitor e
o edil oportunista comprava mais de um partido no intuito de fazer futura média
eleitoral.
Malgrado o salutar cenário, esse – no
mau sentido –
guarda paralelo com o mercado
infausto da compra e venda de voto, e esse mercado é ostensivo e deita raízes no sistema.
Diante deste eterno faz-de-conta de soberania exercido pelo sufrágio, talvez a solução estivesse no mundo da
fantasia: reinventar as eleições nos moldes da rainha das quermesses
paroquianas.
Ganhava o partido
arrecadador de maiores recursos financeiros durante as festas que se estendiam
de uma semana a quinze dias, enfeitadas com as bandeirinhas coloridas
partidárias. As prendas arrecadadas também se vendiam no leilão, até a coroa da
rainha. Em resumo, o apurado, verdadeiramente, destinava-se a um propósito
benemérito, e todos afinal se confraternizavam. Talvez fosse melhor...
(*) Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ
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