quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CARTA DE DESCARTES GADELHA

Prezados confrades,

Senti-me honrado por vocês lembrarem de meu nome para possível participação no elenco de retratistas que realizarão o panteão dos Patronos dessa nossa magistral Academia de saberes.

Penso que essa ideia de construir 40 retratos em estilo formal por uma equipe selecionada vai marcar a história da nossa cultura artística, portanto um grande tento.

A retratística pictórica é um dos gêneros mais difíceis e complexos das artes plásticas, porque além da técnica formal o autor tem que dominar a “fisiognomonia”, ramo da psicologia que trata dos traços fisionômicos relacionados ao caráter e à personalidade do retratado; então, saber pintar bem não é o suficiente.

Portanto, como vocês sabem, um retrato pintado (diferentemente da foto, que apenas sugere a imagem da superfície) é uma espécie de depoimento e confissão do retratado e também uma prospecção da sua alma. Assim, o retratado é “desnudado” pelas pinceladas do pintor, o qual deve ser um perspicaz capturador de sentimentos.

Dessa forma, o pintor retratista é um decodificador dos sentimentos identitários de uma personalidade, através da técnica retratística. Mas essa possibilidade somente pode acontecer com a pessoa ainda viva, claro. É o tal retrato posado presencial. A história da arte nos mostra que antes da fotografia todas as pinturas de retratos conhecidas têm esse viés de profundidade psicológica.

Após o advento da fotografia, e coincidentemente com a grande demanda  de retratos oficiais, os pintores passaram a utilizar a fotografia como método auxiliar para realizar suas obras. Entretanto, esse momento é um marco divisor na história da retratística, o que atualmente é fácil de notar: antes da fotografia os retratos eram assombrosamente psicológicos e de grande vitalidade, lembrando que um retrato feito nessa época necessitava de várias seções de poses que chegava a demorar até um mês. Muito cansaço.

Após a fotografia, a preocupação em copiar apenas a “topografia” facial tornou as figuras endurecidas como ícones sem alma. O genial pintor Rembrandt, passou quase toda a sua vida, também, fazendo autos retratos, que são testemunhos psicológicos de várias épocas de sua vida.

No caso da ACLJ, a maioria dos homenageados já desencarnou. Nesse caso o artista se vê obrigado a apelar para vários recursos auxiliares, tais como: fotografias em épocas diferentes, biografias, tendências e preferências existenciais, informações afetivas de familiares etc. O artista apela para qualquer possibilidade que possa auxiliá-lo. Contanto que o retrato tenha a força e a vitalidade psicológica do retratado. Na hora do aperreio o pintor apela até para a macumba, contanto que o retrato fique razoavelmente correto.

Vejamos como essa arte é complexa: apesar de toda parafernália em profusão de novos recursos tecnológicos altamente sofisticados da civilização da imagem, como o tal foto shopping, nenhum desses instrumentos é capaz de capturar a alma de ninguém. Entretanto, um pincel com gotas de tinta e sensibilidade desnuda qualquer alma. Eis a retratística.

Particularmente eu não sei pintar bem retrato a partir de foto. Quando assim o faço, por uma necessidade, demando grande esforço, mesmo assim o retrato me sai um tanto artificial, contudo, em se tratando de uma iconografia como essa do Panteão dos Patronos da ACLJ, muito me honra o convite que alegremente aceito.
 
Entretanto, gostaria de sugerir que esse magnífico trabalho fosse composto por pintores de gabarito, os quais cito: Prof. Ernani Pereira, Prof. Pedro Eygmar,  Prof. Fernando França, Prof. Vlamir de Souza, Pintor Raimundo Neto, Pintor Dornelles, Prof. B. Melo e o Prof. Anquises. Esses,  conheço bem, são competentes. Mas a ACLJ, naturalmente, irá convidar os artistas que assim lhe convier. Acredito que essa ideia seja de grande valia para nossa cultura. 

Descartes Gadelha 

Descartes Gadelha
Pintor, Desenhista, Escultor, Carnavalesco, Músico, Folclorista, Compositor
Artista cearense de projeção internacional
Membro Benemérito da ACLJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário