Ava Gardner e
Carlos Augusto
Wilson Ibiapina*
Ayrton
Rocha enviou-me de Fortaleza um CD com músicas selecionadas por ele na voz do
saudoso cantor cearense Carlos Augusto. Ao ouvi-lo lembrei da história, até
hoje não explicada, de que o cantor cearense teria negado fogo num encontro
amoroso com Ava Gardner.
A famosa
atriz norte-americana nasceu em Grabtown, na Carolina do Norte. No livro
biográfico de Frank Sinatra, escrito por Bill Zehme, foi apresentada como a
“mulher-criança e deusa libertina, de olhos cor de esmeralda e pés descalços,
que fora casada com Mickey Rooney, Artie Shaw” e que quase leva Frank Sinatra à
loucura. Aos 26 anos já era uma estrela de primeira grandeza.
Nos anos
50 era vendido no comércio um copo longo para uísque com três inscrições: na
marca de uma dose estava escrito mulher, homem para duas doses e, quase na boca
do copo, estava lá: Ava Gardner.
Segundo o
jornalista norte - americano Bill Zehme, da revista Esquire, Ava “flertava bem,
fumava muito, adorava esportes sanguinários, xingava bem, gostava de espaguete,
de sexo e sabia colocar o dedo direitinho na ferida”.
Ela
desembarcou no Rio em 1954 para promover seu filme Condessa Descalça. Estava
com 34 anos e no auge da carreira e da fama. O Rio de Janeiro que sempre se
desmanchou aos pés de celebridades, na época ainda mais provinciano do que
hoje, enlouqueceu com a chegada da atriz.
Fazia
pouco tempo da morte de Getúlio Vargas e os agentes de segurança temiam que o
país fosse abalado por uma revolução. O tumulto de fato ocorreu, mas foi
provocado pela presença dela. A confusão começou no aeroporto do Galeão. A
multidão rompeu o cordão de segurança.
Ela se
queixou muito das “mãos bobas”. Depois de muito sufoco e empurra-empurra, Ava
conseguiu entrar num táxi. Mas o carro não dava partida. Ela, nervosa, tirou o
sapato do pé e bateu na cabeça do motorista. E lá se foram rumo ao hotel
Glória.
Ava
Gardner não gostou nada do apartamento que lhe foi reservado. Conta-se que ela
quebrou tudo que havia no quarto depois de discutir com o gerente que a
expulsou de lá. Os jornalistas Sérgio Augusto e Henrique Veltman, que
presenciaram toda a confusão, ajudaram Ava a levar suas malas para o Copacabana
Palace. Foi lá que ele conheceu o cantor cearense Carlos Augusto.
Garotão
bem apanhado, voz bonita, revelado por Ary Barroso, estava fazendo sucesso,
viajando pelo país ao lado de Emilinha Borba. Trabalhava como crooner da
orquestra do maestro Copinha. Cantava no Golden Room do Copacabana Palace. Foi
lá, tomando um drinque, que Ava se interessou por ele.
Apesar da
fama de conquistador, quando a atriz o convidou para ir até o apartamento dela,
ele se intimidou. Ele estava diante do que o cineasta francês Jean Cocteau
chamou de o “animal mais belo do mundo”. Qualquer um tremia, principalmente
sendo escolhido por ela. Assim mesmo, depois de muita insistência, eles
subiram.
O que
aconteceu lá só os dois sabiam, mas a malícia do povo não se contentou com o
silêncio deles. Os fofoqueiros de plantão colocaram a imaginação para funcionar.
Uns diziam que ele negou fogo, brochou e acabou sendo expulso do apartamento.
Há quem jure, como o Ayrton Rocha, que o machão cearense foi lá e domou a fera.
Ava morreu em 25 de janeiro de 1990.
Em sua
autobiografia a estrela escreveu sobre a passagem pelo Rio, mas apenas explicou
o problema ocorrido no hotel. Não dedicou uma só linha sobre qualquer caso
amoroso.
Veja: “A United Artists não tinha nos colocado no
hotel que eu havia pedido, mas sim numa espelunca que cheirava a fumaça e tinha
mais queimaduras de cigarro do que a Carolina do Norte inteira. Por isso me
mudei calmamente para o hotel que eu queria.
Na manhã seguinte, no entanto,
os jornais contaram uma história completamente diferente. Eu tinha chegado
bêbada, fazendo confusões, descalça (era verdade que eu tinha chegado descalça,
pois o salto do meu sapato quebrara quando fui amassada por uma multidão no
aeroporto). Eu destruíra meu quarto, e a gerência do hotel, para provar a
coisa, logo chamou fotógrafos, sem ter outra opção a não ser me expulsar.
O que realmente aconteceu foi
que o hotel, numa espécie de vingança por eu ter decidido me mudar, contratou
um verdadeiro exército destruidor menos de uma hora depois que saí. Quebraram
todos os espelhos, atiraram garrafas de uísque por toda parte, destruíram a
mobília, arrasaram literalmente com tudo.
Nem vamos considerar que eu não
teria conseguido fazer todo aquele estrago mesmo com machados e uma semana para
trabalhar. Todos acreditaram nas manchetes. Nem uma entrevista à imprensa e nem
uma desculpa do governo brasileiro fizeram com que a verdade vencesse a mentira
nos jornais do mundo inteiro.”
Como ela
não se explicou, as histórias ganharam versões. Carlos Augusto teria sido
ameaçado pelos seguranças da atriz, que prometeram castrá-lo caso abrisse a
boca. Ayrton Rocha, que foi contemporâneo dele e de suas irmãs Cleide e Adamir
Moura, duas vozes lindas que fizeram sucesso como as Irmãs Vocalistas, conta
que Ava Gardner e Carlos Augusto foram além de uma noite de prazer. “Tiveram,
sim, um romance de muito uísque e grande paixão.”
Segundo
ele, os dois seguiram do Rio para Buenos Aires, onde teria surgido um fato
novo. O produtor americano de Ava, que viajava com eles, era apaixonado por ela
e ninguém sabia. Na capital argentina, o cara se descontrolou e explodiu seu
ciúme. Atirou em Carlos Augusto que escapou por pouco. Foi quando ele decidiu
retornar, deixando aquela perfeição de mulher e um amor impossível.
Seja como
foi, Carlos Augusto, que morreu em outubro de 1968 aos 36 anos num acidente de
carro perto de Fortaleza, nunca desmentiu nem afirmou essa história que virou lenda
no Rio. Quando lhe perguntavam sobre aquela noite no Copa – comeu? Ele, com
olhar enigmático, apenas esboçava um sorriso, como quem diz: “O que você acha?”.
*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
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