UMA ELEIÇÃO E QUATRO LIÇÕES
Rui Martinho Rodrigues*
Tivemos uma eleição caracterizada pela
disponibilidade do eleitorado, que mudava de direção de um dia para o outro, e, mais uma vez, o crescimento exponencial das candidaturas do tipo "chapa
branca", nos últimos dias da campanha.
Além disso, a reeleição dos titulares de governo
tornou-se menos tranquila, como um raro dado novo. Vitórias apertadas, cercadas
de mudanças de expectativas, não foram comemoradas, pelo menos em Fortaleza,
onde não se ouviu o tradicional troar de foguetes nos ruidosos festejos dos
vitoriosos.
Qual o significado disso tudo?
A disponibilidade do eleitorado sugere
falta de raízes políticas. O eleitorado não se sente representado e apoia uma
candidatura hoje para largá-la amanhã e voltar a apoiá-la no dia seguinte.
O crescimento exponencial das
candidaturas oficiais não é novidade, não surpreende. O eleitorado, desiludido,
desencantado com todos os partidos e líderes, atirou todos eles na vala comum
do descrédito. Afinal, o descontentamento expresso nas jornadas de junho não
teve resposta. Sem opção, o eleitor vende o voto.
O crescimento subitâneo das
candidaturas oficiais resulta do fato de que os administradores de campanha
deixam para soltar o dinheiro nos últimos dias. Abrir o cofre cedo enseja
oportunidade ao concorrente, que pode vir depois e comprar o voto já vendido. Há
também um fato conhecido: o cabo eleitoral, que recebe o dinheiro, gasta todo o
numerário e então vai pedir mais.
Resta saber os motivos do crescimento
em exame ser especialmente das candidaturas oficiais. A resposta é simples: a
“viúva” tem mais dinheiro. Geralmente ela paga por pessoa interposta. O
preposto geralmente é uma empresa. Quase sempre verbas lhe são repassadas via
licitação de obras públicas ou algo assemelhado.
Inobstante a influência da pecúnia, a
reeleição já não se mostra tão tranquila, valendo o mesmo para as candidaturas
abençoadas pelos governantes. Isso significa que a desilusão do eleitor, e a sua revolta, inflacionou o preço do voto.
As investigações da Polícia Federal e
as denúncias do Ministério Público Federal, com o uso da lei lamentavelmente
apelidada como “delação premiada” (deveria ser lei da recompensa pela cooperação
com a Justiça) parecem ter moderado o uso dos “propinodutos”, pelos quais escoa
o dinheiro da erário.
Não esqueçamos que as tentativas de
reeleição, assim como as candidaturas palacianas, têm um certo sabor de referendum a que se submetem os
governos. O país dos péssimos serviços públicos, da inflação, da dívida crescente, e
cujos noticiários políticos se confundem com os noticiários policiais, tal é a
proliferação de escândalos políticos, não surpreendem os resultados cada vez
mais apertados das candidaturas oficiais.
Vitórias apertadas, obtidas no
contexto de “viradas” de última hora, não foram comemoradas ao som dos fogos de
artifício e buzinaços. A eleição tinha tudo para ser emocionante.
Foi, porém, das mais frias. O significado se radica na militância paga e no
desinteresse do eleitorado desiludido.
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