segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ARTIGO (RMR)

UMA ELEIÇÃO E QUATRO LIÇÕES
Rui Martinho Rodrigues*

Tivemos uma eleição caracterizada pela disponibilidade do eleitorado, que mudava de direção de um dia para o outro, e, mais uma vez, o crescimento exponencial das candidaturas do tipo "chapa branca", nos últimos dias da campanha.

Além disso, a reeleição dos titulares de governo tornou-se menos tranquila, como um raro dado novo. Vitórias apertadas, cercadas de mudanças de expectativas, não foram comemoradas, pelo menos em Fortaleza, onde não se ouviu o tradicional troar de foguetes nos ruidosos festejos dos vitoriosos.

Qual o significado disso tudo?

A disponibilidade do eleitorado sugere falta de raízes políticas. O eleitorado não se sente representado e apoia uma candidatura hoje para largá-la amanhã e voltar a apoiá-la no dia seguinte.

O crescimento exponencial das candidaturas oficiais não é novidade, não surpreende. O eleitorado, desiludido, desencantado com todos os partidos e líderes, atirou todos eles na vala comum do descrédito. Afinal, o descontentamento expresso nas jornadas de junho não teve resposta. Sem opção, o eleitor vende o voto.

O crescimento subitâneo das candidaturas oficiais resulta do fato de que os administradores de campanha deixam para soltar o dinheiro nos últimos dias. Abrir o cofre cedo enseja oportunidade ao concorrente, que pode vir depois e comprar o voto já vendido. Há também um fato conhecido: o cabo eleitoral, que recebe o dinheiro, gasta todo o numerário e então vai pedir mais.

Resta saber os motivos do crescimento em exame ser especialmente das candidaturas oficiais. A resposta é simples: a “viúva” tem mais dinheiro. Geralmente ela paga por pessoa interposta. O preposto geralmente é uma empresa. Quase sempre verbas lhe são repassadas via licitação de obras públicas ou algo assemelhado.

Inobstante a influência da pecúnia, a reeleição já não se mostra tão tranquila, valendo o mesmo para as candidaturas abençoadas pelos governantes. Isso significa que a desilusão do eleitor, e a sua revolta, inflacionou o preço do voto.

As investigações da Polícia Federal e as denúncias do Ministério Público Federal, com o uso da lei lamentavelmente apelidada como “delação premiada” (deveria ser lei da recompensa pela cooperação com a Justiça) parecem ter moderado o uso dos “propinodutos”, pelos quais escoa o dinheiro da erário.

Não esqueçamos que as tentativas de reeleição, assim como as candidaturas palacianas, têm um certo sabor de referendum a que se submetem os governos. O país dos péssimos serviços públicos, da inflação, da dívida crescente, e cujos noticiários políticos se confundem com os noticiários policiais, tal é a proliferação de escândalos políticos, não surpreendem os resultados cada vez mais apertados das candidaturas oficiais.

Vitórias apertadas, obtidas no contexto de “viradas” de última hora, não foram comemoradas ao som dos fogos de artifício e buzinaços. A eleição tinha tudo para ser emocionante. Foi, porém, das mais frias. O significado se radica na militância paga e no desinteresse do eleitorado desiludido.

*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10

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