A FEBRE DA SIMPLIFICAÇÃO
Reginaldo Vasconcelos*
Na década de 60
do Século XX se previa que o homem do ano 2.000 teria a cabeça crescida e a
musculatura atrofiada. Naquele tempo se referia a esse remoto fim de século
para significar o futuro distante.
Essa previsão
defluia da ideia de que a tecnologia evoluiria tanto que as pessoas iriam usar
muito mais o cérebro que a estrutura muscular. Foi mais uma projeção científica
da época que não se confirmou na realidade. Nada de cabeçorras e raquíticos.
Paralelamente à
tendência de se diminuir o esforço físico na rotina diária, por meio da
crescente automação, na modernidade disseminou-se pelo mundo todo o culto ao
corpo ginástico, tanto quanto se fazia nos tempos olímpicos da Grécia Antiga,
da Roma de Spartacus, do medievo das justas e torneios. Hoje, quem é sedentário na vida profissional se torna um fisicultor, um desportista, ou pelo menos um caminhador diletante, nas manhãs e mas tardes, pelas vias urbanas e rurais.
Por outro lado,
no que tange ao cérebro, esse, sim, tem sido cada vez mais poupado de suas
funções originais, quando se procura hodiernamente simplificar ao máximo o
aprendizado e o raciocínio. A começar pela hiperespecialização, em que cada um
tem que saber o máximo, mas sobre o mínimo possível. Todo o resto do Universo não interessa.
Por exemplo, antigamente,
no mundo todo, os garotos estudavam latim e grego, para conhecerem a fundo as raízes
do idioma. Hoje, como o último artigo do acadêmico Wilson Ibiapina neste Blog
sinaliza, sobre a nova tentativa de alteração ortográfica, a ideia é enterrar as raízes, esquecer os detalhes, passar o
conhecimento no filtro do menor esforço, de modo que somente o mínimo essencial seja conhecido
e aplicado.
A cabeça não
cresce, pois o mundo ficou simples e óbvio, com o computador substituindo o cérebro,
enquanto os corpos bem nutridos e exercitados
ganham estatura e belas proporções. Enquanto isso o sistema digestivo da pessoa
moderna se amofina, em razão das rações concentradas, das carnes maturadas, dos
alimentos sem fibras, das farinhas refinadas, das poções artificiais pré-digeridas.
Não resta muita coisa para os processos químicos do estômago, e para a missão funcional
dos intestinos.
Pelo andar da carruagem poderíamos até prever, com a mesma ousadia dos antigos, que no ano 3.000 as
pessoas, microcéfalas e corpulentas, farão remover cirurgicamente as próprias vísceras
gástricas, para almoçar apenas uma pílula, que será absorvida imediatamente ao
ser colocada sob a língua. O sexo, por sua vez tão complicado, tornar-se-á unicamente virtual.
Os símbolos de carinhas, os tais "emotions", farão a comunicação escrita, é a comunicação oral certamente será, enfim, monossilábica.
Os símbolos de carinhas, os tais "emotions", farão a comunicação escrita, é a comunicação oral certamente será, enfim, monossilábica.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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