AMIGOS
Reginaldo Vasconcelos*
No trânsito da cidade avisto ao sol o amigo velho que
sumira no baralho do tempo, e lhe aceno em regozijo. Haviam-me dito que
morrera. Que fadiga!
Numa outra esquina, certa noite de sábado, volto exausto do
trabalho e encontro no semáforo um outro amigo, o qual simplesmente me sugere
que lhe siga o automóvel.
Em pouco tempo somos vários, e depois de um tempo incerto
somos risos, reunidos, após fechar o bar, na penumbra do playground de um posto de gasolina que não fecha, bebericando e
esperando o sol nascer.
─ Minha atual mulher
foi casada com um político, e o nosso filho nasceu num dia de eleições ─ comenta um chato.
─ Isso é uma mulher ou
uma urna eleitoral? ─ o bêbado que
cochilava na cadeira acorda e instiga o outro. Troça, rusga, mágoa.
─ Tudo bem, foi mau, estava brincando...
Gozação, alegria. Ainda estou vivo.
(Do livro O Passado Não Passa - Vênus Gráfica e Editora - 2005)
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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