UMA ELEIÇÃO DO BARULHO
Wilson Ibiapina*
Clidenor de Freitas Santos, presidente do IPASE no governo
de João Goulart, candidatou-se a prefeito de Teresina, na eleição de 1954. Na
campanha, distribuía arraia-papagaio, mas só com a linha. Quando a meninada perguntava
pelo rabo ele dizia: “Peça ao Agenor”. Era seu adversário, que acabou
ganhando.
Além dessas histórias que entraram no folclore político, as
campanhas do passado eram marcadas por slogans e marchinhas que identificavam
os candidatos e que até hoje soam na cabeça dos eleitores mais antigos: “O
homem da vassoura vem aí...” ou “Bote fé no velhinho/ Ele sabe o que faz...”.
Essa, agora, realmente, foi uma eleição atípica, a
começar pelos nomes de alguns candidatos, dignos de entrar na história pela excentricidade,
pela extravagância. São exemplos, Botelho Pinto, candidato a
deputado estadual pelo PSC do Rio; o petista baiano Cara de Hamburger e o
cearense Zé Macedo Acorda Cedo, do PTN. Os aventureiros apareceram em
todos os Estados. Agora, são famosos, artistas, atletas que chegam de
paraquedas para disputar o voto.
Em 1950, a imprensa de Fortaleza noticiava a chegada à
capital cearense do Diretor da Divisão de Administração do Sesi, no Rio. Dr.
Antônio Horácio Pereira, candidato a deputado federal. Foi considerado pela
imprensa como pioneiro. Foi o primeiro paraquedista a desembarcar por lá, com a
mala cheia de dinheiro para trocar por votos. O jornalista Ciro Saraiva lembra
que, em Quixeramobim, o aventureiro foi recebido pelos pais dele, Raimundo
Cristino e dona Amanda, que ganhou logo uma nota de mil cruzeiros, daquelas que
exibia a efígie de Pedro Álvares Cabral. Dona Amanda preparou-lhe um almoço de
galinha guisada. A partir daí, em toda eleição, dona Amanda lamentava: “Antônio
Horácio não apareceu mais. Só foi eleito uma vez. Outros Antônios continuam por
aí, sem projeto, pedindo voto.
Na eleição de 2014 houve uma campanha sórdida, como a
chamou Aécio Neves. O corpo a corpo que tomou conta das redes sociais entre
candidatos e eleitores acabou com muitas amizades e foi preciso a
intervenção do TSE para acalmar os ânimos. O cientista político Marco Aurélio
Nogueira disse, em entrevista à Época, que o baixo nível da campanha refletiu a
desqualificação dos partidos.
Estiveram, também, na mira dos críticos as pesquisas dos institutos
de opinião, que caíram em descrédito. O jornalista Augusto Nunes colocou
lá no blog dele, na Veja: “Proponho aos amigos da coluna que esqueçam as sopas
de algarismos espertos servidas pelas fábricas de porcentagens. Como se viu no
primeiro turno, todas se tornam intragáveis depois da abertura das urnas. ”E fez
cálculos para mostrar que os institutos de pesquisas erraram”.
A urna eletrônica afastou a possibilidade de fraudes, como
as que ocorriam no tempo das cédulas individuais. No interior as mocinhas, à
serviço dos coronéis, pediam ao matuto para ver a chapa que ele ia colocar na
urna. Inocentes, eles entregavam a cédula que era beijada, deixando marcas de
batom que anulavam o voto. Diz a lenda que em muitas cidades, o eleitor já
recebia a chapa dentro de um envelope para ser colocado na urna.
– Em quem eu to votando, coronel?
– Cala a boca! Tu não sabe que o voto é secreto?
A urna eletrônica fez desaparecer também a contagem manual
dos votos e com ela as histórias de juízes corruptos:
– O juiz daqui é corrupto? – pergunta um candidato, querendo mais votos para se eleger.
– O juiz daqui é corrupto? – pergunta um candidato, querendo mais votos para se eleger.
– É, mas já foi comprado.
História de jacaré comer a urna que caiu no rio quando
era transportada de barco no Norte do País, nunca mais vai ser ouvida.
Num passado recente, a apuração só começava no dia seguinte à eleição. A
polícia e fiscais dos partidos passavam a noite pastorando as urnas. O
resultado, que levava semanas, hoje sai quase na mesma hora, no mesmo dia, tudo
via satélite, computador. Infelizmente, só a segurança que a informática tem
dado ao pleito, não é suficiente. O conselheiro digital dos congressistas
americanos, Adam Sharp, constata que a tecnologia evoluiu, mas os políticos
continuam os mesmos.
*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
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