DELAÇÕES EM CADEIA
Reginaldo Vasconcelos*
A presidente Dilma Roussef ganhou a reeleição em meio a
denúncias de que ela sabia das transações escusas na alta administração da
Petrobrás.
Compra e venda ruinosa de algumas refinarias e
superfaturamento de obras milionárias contratadas com algumas empreiteiras, com
sobrepreço destinado ao partido do governo, bem como a deputados da chamada “base
aliada”, tudo resultando em prejuízo na casa dos bilhões de reais ao erário
nacional.
No meio da campanha ela achou por bem admitir que de fato
aconteceram os “malfeitos” (mal feitos) na gestão da estatal, até aqui negadas
pelo Governo, nas CPIs já instaladas, sobre acusações de um denunciante, Paulo Roberto Costa, prestigiado ex-diretor da Petrobrás que se achava encarcerado.
É que as novas denuncias estão sendo feitas diante do Ministério
Público e da Justiça Federais, defluindo do acordo de delação premiada do
doleiro oficial da corte, Alberto Youssef, que está preso e indiciado, e que
na esteira do primeiro delator quer ir pagar a sua pena em casa.
Todos sabem que um delator nessas condições procura atenuar
sua pena, e ele próprio sabe que agravaria sua situação penal se mentisse – e por
isso inclusive garante que detém provas documentais irrefutáveis. Sendo assim,
era forçoso que, àquela altura, certamente aconselhada pelos seus mentores
políticos, a Presidente candidata tivesse de lhe dar credibilidade.
Mas dias depois “deu-se a melódia”, pois o delator premiado
foi muito mais longe, afirmando taxativamente que a Presidente Dilma Rousseff e
o ex-presidente Lula tinham total ciência e controle sobre os fatos criminosos.
A notícia veio a furo pela última edição da Revista Veja, que
por conta disso foi atacada sem êxito por pretensões judiciais silenciadoras, o
prédio da editora fisicamente agredido por militantes em São Paulo, bancas de
revistas sofreram ameaças para não comercializar os exemplares.
Mas, passada a eleição, o pesadelo não passou. Yousseff vai
continuar falando, e certamente provando tudo aquilo que afirma – de que a
própria Presidente Dilma já reconheceu a veracidade – menos nos fatos que a
atingem de forma grave e indefensável. E a Revista Veja, seguida pelas publicações
congêneres de alcance nacional, vai continuar circulando e cobrindo a delação,
ainda com maior empenho e minudência.
Fazer o que? Dilma Rousseff já afirmara que aprovou um dos negócios
prejudiciais à Petrobrás, quando presidia o Conselho de Administração da
estatal, porque lhe haviam sonegado informações essenciais – o que colocou em
situação desconfortável a arraia miúda envolvida no negócio, funcionários de
carreira na administração da estatal, como Nestor Cerveró e Graça Forster.
Assim, quem sabe, quando a última afirmação do doleiro estiver
cabalmente comprovada, de modo a incriminar a Presidente, ela poderá afinal
desvendar todos os fatos, apontando, em seu benefício, quem seriam os
verdadeiros ou maiores culpados, pois não sendo petista histórica ela poderá indicar
os idealizadores dessas práticas, que em termos partidários certamente estão muito
acima dela na cadeia alimentar.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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