quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CRÔNICA - Como Uma Tarde no Circo (RV)

COMO UMA TARDE NO CIRCO
Reginaldo Vasconcelos*

Tenho dito em outras oportunidades que a primeira vez que vi Ciro Ferreira Gomes foi em entrevista na TV, ele ainda jovem político em Sobral, pontificando com aquela segurança e com aquela desenvoltura que lhe são peculiares. Fiquei muito bem impressionado. 

Nesse tempo Ciro já saíra da fase semi-hippie que se diz que ele viveu, fazendo e vendendo artesanato – segundo reza a lenda urbana – e já se formara em Direito, segundo imagino, enveredando pela veia política da família, no início, pela porta da esquerda.

Pensei comigo mesmo, e devo ter comentado com a família, que aquele rapaz que pontificava na TV tinha futuro. Tasso Jereissati deve ter visto a mesma entrevista e tido o mesmo pensamento, pois algum tempo depois apareceu com ele na sua mochila partidária. Até fazê-lo prefeito de Fortaleza e Governador do Ceará.

E eu ainda acho que, se fosse mais comedido no verbo, Ciro poderia chegar a ser um grande presidente da República, mercê de sua inteligência privilegiada – ele que já foi tudo nas políticas local e nacional, mas que, desgraçadamente, fala demais, e por isso mesmo sempre retorna à ninguendade.

Paulo Maluf, por exemplo, é hoje uma velha ruína do que foi, mas é outro que teria sido o maior estadista brasileiro – no caso dele, se tivesse mais probidade e espírito público. Intelecto brilhante, magnetismo irresistível, grande inteligência emocional, entretanto com passagem pela cadeia, e com prisão decretada fora do território brasileiro. Paciência. Ninguém é perfeito. Lesse esta crônica Ciro Gomes certamente diria: “Me compare com uma porca que eu lhe dou os bacorinhos” – como fez no programa Roda Viva, da TV Cultura, há alguns anos, em relação a Antônio Carlos Magalhães.
  
Mas assistir a uma nova entrevista do ex-governador Ciro Gomes é sempre uma experiência radical, que por alguma razão me lembra um daqueles espetáculos circenses que extasiavam a minha infância. “Gostoso como uma tarde no circo” –  já dizia a propaganda de um achocolatado anunciado nessa época. 

Afirmações arriscadas como as manobras no trapézio, colocações vertiginosas como os volteios das motocicletas no globo da morte, observações surpreendentes como os pássaros que o mágico faz saírem da cartola.

Agora ele é elegante e fluente como o cavalo árabe que evolui no picadeiro, e de repente irreverente e desbocado como o palhaço e os seus disparates. Ciro sai das mais empoladas equações econômicas e políticas, citando de memória números, cifras, estatísticas, e de repente aplica palavreado chulo e mesmo escatológico, a cada vez desculpando-se para a câmara, mas reincidindo várias vezes.

Na semana passada me deleitei com ele discorrendo na TV sobre a situação política atual, diante de três jornalistas sudestinos, certamente já ensaiando uma nova pré-candidatura à Presidência da República. Respeitável público! Vai começar o espetáculo!

Entra em cena um Ciro Gomes sempre bem falante, desta vez conduzindo um canhão de festim que lança pétalas de rosas, e na outra mão a sua velha metralhadora giratória, que de repente dispara mísseis explosivos sobre os mesmos alvos que incensara havia pouco, produzindo enigmas profundos sobre suas reais opiniões.

Por exemplo, em certo momento de suas falas Ciro afirma que a Presidente Dilma é uma pessoa séria, inatacável, de conduta ilibada, que ele conhece muito bem, e que Lula da Silva seria talvez o maior Presidente que esta República conheceu. Mas, em outro momento da mesma entrevista, provocado pelo entrevistador, diz não saber por que razão Lula indicou Dilma Rousseff à sucessão, e que o Governo dela é uma tragédia nacional.

Mais na frente, indagado sobre o mesmo Lula que elogiara, Ciro afirma que o problema deste é o dinheiro. Acrescenta que o ex-presidente, que ele já qualificara antes como um gênio da administração pública, acumulou milhões na própria conta bancária, frisando que este nem precisaria de reunir fortuna, pois sequer lhe cobram a conta quando frequenta restaurantes. Diz que os filhos do Lula ficaram ricos durante o mandato do pai, e que os filhos dele mesmo, embora ele tenha estado no poder, são uma simples “modista” e um fotógrafo modesto.

Como é possível entrar para a História como o maior Presidente do País sendo um ladrão de verbas públicas, que promove o enriquecimento ilícito dos filhos, e que faz eleger uma pessoa absolutamente incompetente para a sua sucessão, provocando uma tragédia nas finanças nacionais – eis uma coisa que somente um raciocínio esquizofrênico ousaria tentar explicar – a não ser sob a lona e sobre o picadeiro de um circo, com suas artísticas gambiarras ilusórias.  

Na melhor concepção “rouba, mas faz”, Ciro considera que, embora tendo promovido a próprio enriquecimento e a fortuna da família, Lula teria realizado uma grande obra na Presidência da República, em virtude dos programas sociais que implantou, tirando milhões de pessoas da pobreza.

Espantoso enfim que alguém tão vivido, tão ilustrado e bem informado como Ciro Gomes não perceba que todos esses programas sociais e políticas inclusivas, que renderam ao PT um magnífico dividendo eleitoral, não tiveram de fato um objetivo humanitário consequente, e que tudo isso também faz parte da causa da tragédia administrativa e financeira que ele mesmo denuncia.

Está claro que essas medidas populistas somente teriam sustentabilidade se paralelamente estivessem garantidos a estabilidade da moeda, o crescimento do PIB, o nosso bom conceito internacional, o crescimento econômico, a expansão do emprego, enfim, a saúde financeira do País. Agora estamos todos vivendo uma crise sem precedentes, condenados a um grave processo recessivo, e os pobres são os primeiros a sofrer as consequências. 

Em suma, o que diz Ciro Gomes não é para entender e acreditar, mas para a gente ouvir se divertindo, gostosamente, com aqueles sustos e emoções de estar no circo, ante os lances estapafúrdios do espetáculo. 




Caro Reginaldo

Também acho que o ex-ministro Ciro Gomes é uma grande personalidade. Vi-o na televisão, na OAB Nacional em Brasília (e gravei), há cerca de oito anos, defendendo com brilhantismo o Projeto de Integração do Rio São Francisco, num auditório onde também estavam o então Senador Antônio Carlos Magalhães e o ex-governador de Sergipe, João Alves Filho.

O auditório estava lotado de políticos, técnicos  e pessoas contrários àquele empreendimento, porém sem nenhum deputado cearense  presente.

A propósito, até hoje não  tinha visto ninguém dizer, de forma tão coerente, o que você disse neste seu artigo sobre os programas sociais do governo:  

Essas medidas populistas somente  teriam sustentabilidade se, paralelamente, estivessem garantidas a estabilidade  da moeda, o crescimento do PIB, o nosso conceito internacional, o crescimento econômico, a expansão do emprego, enfim, a saúde financeira do País”.  

Na realidade, são justamente esses programas sociais uma das causas “da tragédia administrativa e financeira  que o País está atravessando”. Parabéns! Cássio 





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