PESSOAS DA MINHA CONVIVÊNCIA - I
PALMACIANO DA GEMA
Vianney Mesquita*
Não
largues o teu amigo, tampouco o amigo do teu pai; e não entres na casa do teu
irmão no dia em que estiveres aflito. Melhor é o vizinho ao pé do que o irmão
ao longe. (PROVÉRBIOS, 27-10).
No derradeiro dia de
2014, quarta-feira, à semelhança de Fernando de Azevedo, intelectual mineiro,
autor, entre dezenas, do livro Figuras do
meu Convívio, decidi iniciar uma série de escritos a respeito das minhas
amizades no âmbito frequentado, sem incluir, por pretextos manifestos, a
mulher, os filhos, parentes de terceiro grau na linha horizontal, chamados
vulgar e equivocamente de primos legítimos, e outras pessoas nas trilhas
ascendentes e descendentes classificadas pelo Direito de Família.
Embora apenas nascido
em Fortaleza, no dia 9 de setembro de 1950, o professor universitário, biólogo
e engenheiro de operações, móvel deste escrito, Francisco Antônio Guimarães, é
palmaciano de núcleo e coração, filho de Napoleão Guimarães e Cely Guimarães,
uma das filhas do Mestre Juca, e bisneto da minha madrinha de batismo, figura
por demais conhecida na Palmácia de mais idade.
Falo de Dona NENEN
SALU (Sebastiana), mulher do “Seu” Salu – Salustiano Ribeiro Guimarães, avô do
citado Napoleão, de D’Artagnan e Aramis, então dono da Bica – parteira que pegou a maioria dos meninos nascidos adiante
dos anos 1940, até, tirante engano, os ’70 da centúria passada, a quem todos
chamavam Mãe Nenen.
Apesar de núcleo
populacional muito exíguo, bastante atrasado sob o prisma econômico-social,
feito distrito de Maranguape (do qual se emancipou no dia 28 de agosto de 1957,
pela Lei número 3.779, sancionada pelo Governador Paulo Sarasate Ferreira
Lopes), vim travar conhecimento com o Guimarães apenas nos anos ’60. Isto
porque residíamos na Vila Campos e
eles na Bica. Também, naquele tempo,
os dois “bairros” guardavam distância considerável, e ainda pelo fato de os
meninos de então serem bastante presos (diversamente de hoje), ainda tratados
no rasto das narrações sobre crianças procedidas pelos escritores conterrâneos,
de Poitiers-França, Marc Augè e Michel Foucault.
Após a meninice
garrida e adolescência inocente, tanto ele quanto eu viemos morar em Fortaleza,
de modo que era raro o contato, a não ser nas festas de São Francisco, que quase
sempre terminavam em 4 de outubro, dia do Santo de Assis, quando nos
divertíamos, passeando na roda gigante, assistindo aos circos, andando na ola
do Zé Bias, comendo língua-de-mulato na banca da Dona Rita Pinheiro e tentando
arrematar no leilão, com o dinheiro contado, lisos como muçum ensaboado, sem
conseguir levar sequer uma galinha assada. Certa vez o leiloeiro, o Sr. José
Ibiapina Barbosa, amigo de nossos pais e avô da sua mulher, Michelle (Guimarães
ficara viúvo da médica, doutora Vânia), filha do Chico e sobrinha da Dr.a Mary
Lane Rebouças Barbosa (nome de solteira), descobriu, publicamente, que o nosso
dinheiro estava contado, pois não prosseguíamos no lance quando chegava ao
limite, o que nos envergonhou, sobremodo.
Perdemos um pouco o
contato e fomos nos topar somente em 1977, ambos como docentes da Universidade
Federal do Ceará – ele na Biologia e eu na Comunicação – e, quando nos
encontrávamos, rememorávamos as gaiatices do Paulino Inácio, pessoa muito
interessante e inteligente, que fez até um hino do Palmácia Sport Club (“Os
nossos jogadores entram em campo,/ Chico Flor com a pelota na mão,/ Na zaga
Antônio Quinto e D’Artagnan;”... “O Paulino, Tiano, o Chico do Júlio são de
abafar...”/ “Faltam o Gilson e o Edmar. /Neste futebol qua qua qua qua...”) e
imitava o Nezinho da Carolina, como ninguém.
A respeito do irmão do
Napoleão, seu tio D’Artagnan – pai do “nego” Ronaldo – que era beque do PSC,
muito ruim e faltoso, “seu” Mechico, marido da Dona Idelzuíte, certa vez
perguntou, muito falante que era: “Titônio, por que seu tio D’Artagnan pratica
um futebol tão equivocado?”
Foi excepcional aluno
do “Sete de Setembro”, nos tempos do Dr. Edilson Brasil Soárez como
diretor-proprietário, bem como do Colégio Santo Inácio, dos Jesuítas, quando
conheceu o então padre e hoje amigo de nós dois, professor doutor André
Haguette, também da UFC.
Nesses colégios, ele
era conhecido como o “garoto internacional”, pois em todas as férias ia para o
Estrangeiro. Nas de julho, ia a Piracicaba, São Paulo e Buenos Aires (em visita ao Rocildo, à Nenen
Sabino e à Dona Maria Querubina), enquanto nas de janeiro e fevereiro jamais
deixava de ir ao Japão, visitar o “Seu” Neno, e ao Canadá, rever o Raimundo
Silva e o Cauby, cunhado do jornalista conterrâneo, Paulo Tadeu Sampaio de
Oliveira.
Não era mais, porém, o
Titônio, hipocorístico de todos conhecido, mas o afamado Professor Guimarães,
cuja habilidade e inteligência o conduziram a ser autoridade na Instituição –
monitor, coordenador de curso, chefe de departamento, vice-diretor, diretor de
centro, pró-reitor de Administração e hoje (31 de dezembro de 2014), há nove
anos, é Presidente da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, pertencente à
UFC, a qual dirige com proficiência e máximo zelo, sendo estimado por todos os
seus stakeholders.
Ele só não foi reitor
porque jamais quis, e é a ele que o atual Magnífico, Prof. Dr. Jesualdo Pereira
Farias, dos componentes da Alta Administração da UFC, ouve primeiro, quando
quer tomar uma grande decisão institucional. Componho, levado por ele, o
Conselho Curador da mencionada FCPC e sou seu assessor direto.
Diz o Matias Neto, seu
irmão, que, além da mulher, Michelle Barbosa Guimarães, que eu chamo
Viscondessa do São Sebastião e Baronesa da Timbaúba (duas localidades da
Palmácia), ele tem duas “namoradas”: o Francisco Custódio Rebouças Barbosa – o
“Chico Biquara”, irmão do Aníbal e filho de Dona Jésica e “Seu” Custódio – e o
Professor José Matias Filho, seu tio (do Guimarães), casado com a sobrinha
Zuleika, irmão de Dona Cely, que, desde menino, na Palmácia, todos chamam
Zequinha, também professor da Universidade Federal do Ceará, pois ambos são
pessoas extraordinariamente boas, e a quem ele, Guimarães, dedica dedicação,
carinho e reconhecimento.
Dos seus irmãos,
conheço apenas três – o Vavá (sem-verniz, não!) - o citado Neto e a Ana Cely,
casada com o João Bosco, filho de Manassés Campelo e primo da minha cunhada
Ângela, neta do
Manassés e do José
Tavares, e mulher de meu irmão, Fabiano.
Pontos altos são
nossas viagens, que passamos a fazer desde 2009, principalmente à Europa, às
vezes até duas por ano, juntamente com minha mulher, Socorro Mesquita, alguns
dos meus irmãos e suas mulheres e a Michelle, esposa dele, não havendo curtição
melhor. Já fomos à Cartagena de las Índias, e a outras ilhas do Caribe
colombiano, onde nos deliciamos com a natureza e a bonomia e atenção desses
sul-americanosanos, que adoram os brasileiros e detestam os argentinos.
Fazemos, nesses périplos, fotos hilariantes, que curtimos eternamente. São
inesquecíveis essas viagens.(Ah uma onça!).
E, ainda achamos
dinheiro! Ele encontrou mil dólares nos lagos chilenos e eu achei 450 Euro (não
tem plural), no chão do Aeroporto de Orly. Diz ele que o negócio é andar de
cabeça baixa, olhando para o chão. Compositor que é e tocador de violão, anima
as viagens, até com músicas que compôs para o Carnaval da Palmácia, como A Turma do Vai-quem-quer, por exemplo,
que é belíssima.
Não misturamos nossas
atividades profissionais, mas saindo dali, o clima é só de alacridade.
Este, pois, é o
primeiro personagem das Figuras do meu
Convívio, amizade que muito me honra e conquista, desde os tempos de
menino. É uma felicidade!
No dia 9 de setembro
de 2010, no Mar Báltico, a bordo de um transatlântico, entre as terras da
Finlândia e da Suécia, a caminho de São Petersburgo (Rússia), compus para ele o
soneto adiante.
GUIMARÃES SESSENTÃO
Procedente de cepos palmacianos,
Expressão da progênie Guimarães,
Dona Cely é, hoje, dessas mães
A celebrar teus exitosos planos.
A família, os amigos, os teus manos,
Sob um coro de arcanjos guardiães,
São fiéis escudeiros, escrivães
Da narração desses sessenta anos.
Em culto aberto a inúmeras vitórias,
Não obstante alguns – muitos! – reveses
Os tronos cantam árias, estribilhos.
Sempiternos compartes destas
glórias,
Com substrato em venturosas teses,
Sejam Michelle e os teus cinco
filhos.
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