IMPASSE E OPORTUNIDADE
Rui Martinho Rodrigues*
Seca no Sudeste é crise hídrica. No Nordeste já não se fazem secas como antigamente, da forma descrita por Rodolpho Theophilo, com multidões de retirantes e epidemias. Desmobilizada a economia rural, a seca não desemprega quem não trabalha. As epidemias dantescas foram afastadas pela imunização. Açudes, poços e cisternas atenuaram as mortes por desidratação; e a irrigação amenizou o sofrimento do que restou da agropecuária.
A indústria se vale dos
grandes açudes e poços profundos. O colapso do abastecimento de Fortaleza não
mais se repetiu depois do Castanhão e do canal para transposição de bacias. A
eletricidade, suprida pelo São Francisco, Boa Esperança e Tucuruí e com o
suplemento dos ventos, tem resistido às secas, não se sabe até quando.
No Sudeste a “crise
hídrica” não tem precedente. Abastecer mais de vinte milhões de habitantes e
matar a sede de um enorme parque industrial, nas cabeceiras dos rios, onde eles
ainda não apresentam grandes volumes, é um desafio ciclópico. É o caso de São
Paulo.
O colapso ameaça da Grande
São Paulo. Anuncia-se a proibição da irrigação. A indústria não funcionará do
mesmo jeito sem d'água. A atividade econômica diminuirá. Queda na arrecadação de
tributos, majoração de preços e desemprego se somarão e retração do mercado,
quando estamos iniciando um ajuste das finanças públicas.
A seca “sudestina” castiga
a Grande Belo Horizonte e a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O impacto
certamente será sentido por toda a economia brasileira. E não sabemos se 2016
será chuvoso.
Também estamos tendo
dificuldades no setor de eletricidade. Temos seca, planejamento insuficiente,
baixos investimentos e péssima gestão. Principalmente no setor de eletricidade,
que foi prejudicado pelo estímulo dado ao consumo, na forma de represamento dos
preços; agravado pela política de “modicidade tarifária”, que afastou
investimentos; pela opção por hidrelétrica a fio dágua, sem nenhum
reservatório; e pelas obras nunca concluídas. O impasse é preço da demagogia.
A preocupação ambiental
deu lugar ao uso de combustíveis fósseis, a mais agressiva de todas as fontes
de eletricidade.
Prever para prover é a
inspiração de todo planejamento. Não faltaram previsões. Estudos anunciaram
antecipadamente as dificuldades de geração de energia.
Conceda-se ao setor de
abastecimento humano a atenuante de quem vive afogado em prioridades, sendo
desafiado a investir pesado na prevenção de uma seca sem precedente,
estatisticamente improvável.
No setor de eletricidade o
estímulo ao consumo, pelo preço artificialmente baixo; o desestímulo aos
investimentos; a opção pelas usinas a fio, cuja capacidade á meio sazonal, por
falta de reservatório, tudo isso afasta a atenuante da seca inusitada. Ainda
que tivéssemos chuva estaríamos usando combustível fóssil.
O desmatamento das
nascentes e da mata ciliar foi completamente ignorado. E
o setor elétrico é mais rico que o de abastecimento.
Reflorestamento,
reutilização da água, usinas com reservatório, realismo tarifário e estímulo ao
investimento têm agora a oportunidade gerada pelo impasse... se fecharmos a
porta depois de roubados.
*Rui
Martinho Rodrigues
Professor
– Advogado
Historiador
- Cientista Político
Presidente
da ACLJ
Titular
de sua Cadeira de nº 10
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