No Ceará, cidade
inundada para construção de barragem volta a aparecer devido à seca
Antigos moradores, removidos de Jaguaribara em 2001, revivem lembranças
POR THAYS LAVOR – Jornal o globo - rio de
janeiro
04/01/2015
7:00 / ATUALIZADO 04/01/2015 8:01
Antigo morador olha ruínas da cidade |
FORTALEZA— "Sem chuva na terra descamba janeiro, depois fevereiro,
e o mesmo verão. Meu Deus, meu Deus... Em um caminhão ele joga a família,
chegou o triste dia já vai viajar. Meu Deus, meu Deus. A seca terrível que tudo
devora, lhe bota pra fora da terra natal...". A letra da música
"Triste Partida", de Luiz Gonzaga, traduz bem a história do povo de
Jaguaribara, município do interior do Ceará, removido de suas casas em 2001
para a construção da maior barragem do Nordeste, o Castanhão.
A cidade, localizada perto do Rio Jaguaribe, foi inundada por uma causa
maior: prover água para 60% do Ceará e conter as enchentes do baixo Jaguaribe.
Porém, hoje, o reservatório, que comporta 6,7 bilhões de metros cúbicos de água,
está com 25,7% de sua capacidade, segundo a Companhia de Gestão de Recursos
Hídricos do Estado (Cogerh).
A seca trouxe à tona as ruínas da velha Jaguaribara, e, com elas, as
lembranças e a dor de um povo que não pediu para sair de sua terra natal. A saudade
dói nos expatriados. Mesmo com a cidade ressurgida, eles não podem mais voltar.
— Passa muita coisa na cabeça, ao ver as ruínas da cidade onde a gente
nasceu, o local da igreja, a praça... Nas barreiras do Jaguaribe, muitas
infâncias passaram, tomaram banho de rio, pescaram, pegaram rouxinol, essa era
nossa vida. Hoje, não temos mais nada disso. Já, já aparece o Jaguaribe, daí
vem a tristeza maior — diz o funcionário público Francisco Isac da Silva, de 63
anos.
Durante a visita as ruínas da velha Jaguaribara, O GLOBO registrou a
volta de alguns pescadores para a cidade antiga. Lá, alojados em casas de
taipa, eles passam os dias na certeza de ver ressurgir o velho Jaguaribe, onde
muitos pescavam antes da inundação da cidade.
Foram atingidos quatro municípios com o reservatório: um total de 15 mil
pessoas, sendo 7,6 mil de Jaguaribara.
— Nesses 12 anos já morreu muita gente, que não dá pra contar, a maioria
de tristeza, a tal da depressão... Quando nos mudamos para a cidade nova, as
pessoas não tinham aquele sentimento de pertence. Até os gatos ficaram perdidos
dentro da cidade, sem saber das casas, pois não estavam mais no mesmo lugar,
nem eram as mesmas, até os animais perderam a identidade" - conta Jesus
Carneiro Freitas, de 42 anos.
Segundo o agricultor Raimundo Moreira Pessoa, de 79, a antiga
Jaguaribara vivia da agropecuária e pesca. Já a atual tem como base da economia
a piscicultura. Os moradores, porém, dizem que os peixes estão morrendo e a
terra não serve para plantar.
Para muitos, o sentimento é de revolta. Em 1985, quando foi anunciada a
construção do Castanhão, especialistas em recursos hídricos apontaram outras
alternativas, sem a necessidade de sacrificar o povo de Jaguaribara. Eles
criticaram a construção na cota 100, alegando a rápida evaporação da água.
Segundo o especialista Cássio Borges, o Castanhão tem uma evaporação de
20 metros cúbicos por segundo, ou seja, por dia evaporam-se 1,728 milhão de
metros cúbicos.
Borges defendia a construção de uma barragem menor, com os mesmo benefícios.
— Uma barragem na cota 80, e com 1,2 bilhão de metros cúbicos, a
evaporação seria extremamente menor e a vazão regularizada seria a mesma: 10
metros cúbicos por segundo. Não seria preciso desalojar ninguém - diz Borges.
A barragem foi projetada para ter usos múltiplos, inclusive o controle
de cheias. Mas o principal era garantir o abastecimento de cerca de 60% da
população do Ceará.
Segundo a Cogerh, o Castanhão abastece 15 redes municipais e vários
distritos ao longo do Rio Jaguaribe e o Eixão das Águas. A principal
beneficiada é Fortaleza. Apesar de estar às margens do Castanhão, Jaguaribara é
uma das cidades que decretou situação de emergência devido à seca. A Cogerh
informou que, se a estiagem se estender, os projetos de irrigação serão
prejudicados e haverá campanha de racionamento.
Thays
Parabéns pela Matéria. Não foi
dito que o Açude Castanhão, construído no Rio Jaguaeribe pela Construtora Andrade
Gutierrez foi previsto, inicialmente, para irrigar 70.000 hectares da Chapada
do Apodi, o que exigiria um bombeamento de 110 metros de altura topográfica.
Por isso o DNOS, com sede no Rio
de Janeiro (extinto no Governo Collor de Mello) o porjetou para acumular 6,7
bilhões de M3 de Água, na vã expectativa de reduzir este bombeamento
para a altura de 60 metros.
No Conselho Estadual do Meio
Ambiente, quando foi discutida a sua viabilidade da obra, técnica, econômica e
ambiental, os seus defensores e promotores diziam que aquele açude iria
beneficiar, não só o Ceará, como o Nordeste. Mentiam para os Conselheiros, ou
era mesmo incompetência? Ou havia outros interesses inconfessáveis por trás
desse empreendimento? A pergunta agora é: Quem se responsabilizará por este
crime, cometido contra a população ordeira e indefesa da cidde de Jaguaribara?
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