A
LITERATURA HÁ DE SER PEDAGÓGICA
Vianney
Mesquita*
Escrever
é uma ociosidade atarefada (J.W. GOETHE).
Há poucos dias,
conversava com a escritora coestaduana, compatrícia natural de Palmácia,
Iolanda Campelo de Andrade (Minha
Palmácia de ontem etc), acerca de assuntos literários.
Ela confessou-me o
fato de lhe assaltar certo embaraço no momento de variar a linguagem, com
receio de tornar mais custosa para seus leitores a decodificação de suas
ideias, porquanto desconhecedores de vocabulário diverso daquele ordinariamente
empregado nas suas composições de prosa e poesia.
Com ela, então,
refleti no fato de que o enriquecimento do texto não obscurece o
estilo. Contrario sensu, a elocução resta bem mais rica – e, evidentemente – superior sob o prisma pedagógico,
porquanto acresce ao leitor cabedais que ele não possuía.
Dirijo-me, neste passo, ao escritor
estagiário, ainda visitante do ofício de escrever. Caso necessário, recorra,
produtor de textos, ao dicionário, e busque o sinônimo mais próximo do que quer
conotar, pois nem todas as significações são perfeitas, sugestionando-lhe(1)
cotejar o Dicionário de Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa, de Francisco Fernandes.
Nem sempre, verbi gratia, um "mas" substitui exatamente um "no
entanto". Isto na língua prosa, pois, na poesia, tem liberdade quase
absoluta, permisso, placet, munificência,
exceto para errar as letras, como sexo e "séquisso", perpetrando
deslizes contra a ortografia oficial. Claro que isso, jamais!
De início, pode
proceder como eu, há pouco, ao empregar, de propósito, a palavra liberdade,
reforçando-a com três sinônimos – placet,
permisso e munificência – sem ser redundante,
apenas enfática – foi o que expressei, e continuo falando, para a Escritora
minha conterrânea.
No curso da vida de
literata, pouco tempo, se continuar escrevendo muito, pode abandonar a técnica,
pois já produziu um leitor mais rico, bem aprestado, com fausto vocabular (olhe
de novo a repetição de rico sem
tautologia) em recepção de suas mensagens, acostumado ao seu estilo, mediante o
qual foi nivelado por cima, nas leituras, onde, com certeza, houve aprendizado.
Aliás, é esta uma das
funções da literatura – para a qual o literato há de atentar – a boa
literatura, que Iolanda Andrade já exercita em seus textos de prosa e de pés
harmonizados, e até consoando, com o expediente dos poetas consagrados, as
palavras em rimas encadeadas desde o título e com o emprego de tropos, figuras
de linguagem (exempli gratia, como em Palmácia em Eficácia, que é belíssimo).
Na sequência das
produções, já poderá substituir vocábulos e unidades de ideias – especialmente,
verbos e nomes. Seu leitor já não vai se espantar, mas, garanto, se for
consulente atilado, de inteligência alumiada, não atropelará a palavra e a
frase, sem saber de que se trata, pois, decerto, demandará as obras
lexicográficas – dicionários, enciclopédias, glossários e assemelhados – a fim
de inteirar-se da ideação escrita.
Na necessidade de
aclarar mais a ideia, em desdobramento não cabível no curso do escrito,
valha-se das notas de rodapé, um meio sempre acatado pelo público ledor de
qualidade. Ali pode estender o raciocínio até aonde tencionar.
De efeito, guardo a
maior convicção de que, dentro em breve, sua produção, que já é muito boa, vai
se abonançar de predicados estilísticos para aliciar, no bom sentido, sempre
mais e mais consultantes, os quais lhe guardarão fidelidade com a leitura de
todos os seus escritos.
Impende exprimir o fato
de que estas constituem vantagens não muito possuídas, por exemplo, por três
homens da Palmácia de meu tempo, um honorário e dois patrícios: meu pai,
Vicente Pinto de Mesquita (nasceu em Fortaleza), seu tio (da Iolanda), Djalma
Sampaio de Andrade, e meu parente, José Carlos Campos. Fazia gosto ouvir os três
conversando na bodega do Seu Djalma,
onde havia mais livros do que mercadorias, ou seja, tomavam porre de livros
para a ressaca ser de cultura.
Seu Mesquita conhecia a literatura clássica europeia – França, Inglaterra,
Portugal, Rússia – leitor, por exemplo, do escocês Archibald Joseph Conin (A.J.
Cronin), e compositor de sonetos e acrósticos (2) de muito boa qualidade.
Djalma e Carlos Campos não ficavam atrás.
Com sinceridade, fico
na expectativa desta ocorrência, suponho, em período menor do que o esperado,
porquanto, de sobejo, nossa Escritora possui arte, engenho e habilidade,
suficientes para deixá-la eternamente no portal da cultura da nossa Terra, onde
já habita sobranceira.
(1) O vocábulo
SUGESTIONAR foi aqui aplicado, de estudo, para demonstrar a fecunda polissemia
da Língua Portuguesa, pouco comum, pelo menos no Brasil, no sentido de sugerir,
inspirar, lembrar.
(2) Acróstico de
Vicente Pinto de Mesquita, para meu irmão, Prof. Dr. Teobaldo Campos Mesquita
(UFC e UVA), quando criança.
Teobaldo, Deus te dê
Energia e mansidão.
Ora, pois a oração
Bênção constante há de
ser.
Adora, sempre, o
Senhor
Leva alegre a tua cruz
Deslumbrar-te-ás de amor,
Oh! Quão belo é teu
viver.
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