domingo, 11 de janeiro de 2015

ARTIGO (VM)


A LITERATURA HÁ DE SER PEDAGÓGICA
Vianney Mesquita*

Escrever é uma ociosidade atarefada (J.W. GOETHE).

Há poucos dias, conversava com a escritora coestaduana, compatrícia natural de Palmácia, Iolanda Campelo de Andrade (Minha Palmácia de ontem etc), acerca de assuntos literários.

Ela confessou-me o fato de lhe assaltar certo embaraço no momento de variar a linguagem, com receio de tornar mais custosa para seus leitores a decodificação de suas ideias, porquanto desconhecedores de vocabulário diverso daquele ordinariamente empregado nas suas composições de prosa e poesia.

Com ela, então, refleti no fato de que o enriquecimento do texto não obscurece o estilo. Contrario sensu, a elocução resta bem mais rica e, evidentemente  superior sob o prisma pedagógico, porquanto acresce ao leitor cabedais que ele não possuía.

Dirijo-me, neste passo, ao escritor estagiário, ainda visitante do ofício de escrever. Caso necessário, recorra, produtor de textos, ao dicionário, e busque o sinônimo mais próximo do que quer conotar, pois nem todas as significações são perfeitas, sugestionando-lhe(1) cotejar o Dicionário de Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa, de Francisco Fernandes.

Nem sempre, verbi gratia, um "mas" substitui exatamente um "no entanto". Isto na língua prosa, pois, na poesia, tem liberdade quase absoluta, permisso, placet, munificência, exceto para errar as letras, como sexo e "séquisso", perpetrando deslizes contra a ortografia oficial. Claro que isso, jamais!

De início, pode proceder como eu, há pouco, ao empregar, de propósito, a palavra liberdade, reforçando-a com três sinônimos – placet, permisso e munificência – sem ser  redundante, apenas enfática – foi o que expressei, e continuo falando, para a Escritora minha conterrânea.

No curso da vida de literata, pouco tempo, se continuar escrevendo muito, pode abandonar a técnica, pois já produziu um leitor mais rico, bem aprestado, com fausto vocabular (olhe de novo a repetição de rico sem tautologia) em recepção de suas mensagens, acostumado ao seu estilo, mediante o qual foi nivelado por cima, nas leituras, onde, com certeza, houve aprendizado.

Aliás, é esta uma das funções da literatura – para a qual o literato há de atentar – a boa literatura, que Iolanda Andrade já exercita em seus textos de prosa e de pés harmonizados, e até consoando, com o expediente dos poetas consagrados, as palavras em rimas encadeadas desde o título e com o emprego de tropos, figuras de linguagem (exempli gratia, como em Palmácia em Eficácia, que é belíssimo).

Na sequência das produções, já poderá substituir vocábulos e unidades de ideias – especialmente, verbos e nomes. Seu leitor já não vai se espantar, mas, garanto, se for consulente atilado, de inteligência alumiada, não atropelará a palavra e a frase, sem saber de que se trata, pois, decerto, demandará as obras lexicográficas – dicionários, enciclopédias, glossários e assemelhados – a fim de inteirar-se da ideação escrita.

Na necessidade de aclarar mais a ideia, em desdobramento não cabível no curso do escrito, valha-se das notas de rodapé, um meio sempre acatado pelo público ledor de qualidade. Ali pode estender o raciocínio até aonde tencionar.

De efeito, guardo a maior convicção de que, dentro em breve, sua produção, que já é muito boa, vai se abonançar de predicados estilísticos para aliciar, no bom sentido, sempre mais e mais consultantes, os quais lhe guardarão fidelidade com a leitura de todos os seus escritos.

Impende exprimir o fato de que estas constituem vantagens não muito possuídas, por exemplo, por três homens da Palmácia de meu tempo, um honorário e dois patrícios: meu pai, Vicente Pinto de Mesquita (nasceu em Fortaleza), seu tio (da Iolanda), Djalma Sampaio de Andrade, e meu parente, José Carlos Campos. Fazia gosto ouvir os três conversando na bodega do Seu Djalma, onde havia mais livros do que mercadorias, ou seja, tomavam porre de livros para a ressaca ser de cultura.

Seu Mesquita conhecia a literatura clássica europeia – França, Inglaterra, Portugal, Rússia – leitor, por exemplo, do escocês Archibald Joseph Conin (A.J. Cronin), e compositor de sonetos e acrósticos (2) de muito boa qualidade. Djalma e Carlos Campos não ficavam atrás.

Com sinceridade, fico na expectativa desta ocorrência, suponho, em período menor do que o esperado, porquanto, de sobejo, nossa Escritora possui arte, engenho e habilidade, suficientes para deixá-la eternamente no portal da cultura da nossa Terra, onde já habita sobranceira.

(1) O vocábulo SUGESTIONAR foi aqui aplicado, de estudo, para demonstrar a fecunda polissemia da Língua Portuguesa, pouco comum, pelo menos no Brasil, no sentido de sugerir, inspirar, lembrar.

(2) Acróstico de Vicente Pinto de Mesquita, para meu irmão, Prof. Dr. Teobaldo Campos Mesquita (UFC e UVA), quando criança.

Teobaldo, Deus te dê
Energia e mansidão.
Ora, pois a oração
Bênção constante há de ser.
Adora, sempre, o Senhor
Leva alegre a tua cruz
Deslumbrar-te-ás de amor,
Oh! Quão belo é teu viver.

*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

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