A LIÇÃO DE CÍCERO
Paulo Maria de Aragão*
Um conselho para
os plantonistas do poder é o texto-debate que Marco Túlio Cícero
travou em Roma, 55 a.C., e até hoje atualíssimo: “O Orçamento Nacional deve ser equilibrado. As Dívidas Públicas devem
ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os
pagamentos a governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a Nação não quiser
ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver
por conta pública”.
A sucinta lição
resume um compêndio de política, economia e moralidade. Dita no senado romano
por Cícero, a máxima soa verdadeira e atual. Se o seu conteúdo fosse
materializado, o homem público respeitaria o cidadão pagador de tributos; e
nunca faria da máquina pública um indomável mamute que pisoteia os anseios
primários da coletividade: educação, saúde e segurança. Hoje, Euclides da Cunha
repetiria que "O sertanejo é, antes de tudo, um forte"? Talvez não
mais o exaltasse como o fez em Os Sertões, por vê-lo rendido ao ócio,
esquecido do trabalho pelas bolsas eleitoreiras.
A Presidente
assumiu o segundo mandato e anunciou a contenção de gastos, falando em redução
de benefícios trabalhistas e previdenciários. Por que não restringir o abusivo
número de 39 ministérios que custa ao tesouro público R$ 58 bilhões por ano?
Por que não fomentar o exercício da cidadania acabando com a maquiagem contábil
que leva o país ao descrédito e afugenta os investidores?
Apesar de sofrer na pele, “o povão não tá nem aí” -
escumalha humana que se envolve em aventuras pré-eleitorais, alienada pela
insensatez e pela ânsia de receber uns cruzeiros do candidato que serão gastos na
noite. Nunca na história deste país de "Macunaíma", o
herói sem nenhum caráter, personagem-síntese do homem brasileiro, tornou tão
real a obra-prima de Mário de Andrade.
A advertência de
Cícero permanece atualizada e se ele hoje vivo estivesse, poderia fazer
fortunas como consultor de grandes estadistas. Mas, na “Terra do Nunca”, "Eu não sei de nada", além de não tê-los, nada se saberia
informar sobre a corrupção e o equilíbrio do orçamento público.
* Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ
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