ODE AO BOTEQUIM
Luciano Maia
O botequim é
esquina. Só a esquina o reconhece por inteiro.
Do norte,
chegam os engravatados da bolsa, sem paletó
e consomem
tagarelas as primeiras lapadas das seis horas.
A seu canto, o
velho violonista que tangia a tarde, hesita.
Do sul, chega o
cabeleireiro que leu Vinicius e se afeminou
por profissão.
Do poente,
chega o vereador antigo com a sua matreirice
mal disfarçada
em sua cara de "tudo bem".
E do leste, eis
que ainda chega o solitário, o sem-solução
calado em sua
avidez de fogo líquido.
E do leste, eis
que ainda chega o solitário, o sem-solução
calado em sua
avidez de fogo líquido.
- Boa noite,
poeta.
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SEVANDIJA
Vianney Mesquita
Seguramente
em erro o mau destino
Equivocadamente
concedeu
A
existência - enorme desatino!
À
abjeta criatura que sou eu.
Incapaz
de operar boas ações,
Fraco,
infido, tratante e imoral,
Nas
mais diferentes situações,
Tudo
o que fiz foi para o bem do mal.
Nem
de morrer, sequer, tenho coragem
E
até a morte foge à minha imagem
Porque
não faço jus ao lume eterno.
Decerto
Satanás negue o decesso,
Pois
se à geena eu tivesse acesso,
Congelaria
o fogo do inferno.
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13 Graus
Karla Karenina
Entra,
que dentro de mim é só calor!
Tudo
é calor no meu ser, lareira acesa.
Meu
corpo incendeia, arde em brasa por causa de ti,
Vem,
que esse fogo não te queima, não!
Ele
só quer te esquentar, te aquecer
E
acender a fogueira da minh'alma outra vez.
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DECRETO MAIOR
Vicente Alencar
Fica decretado,
por rigor da
condição maior,
que brigas e
desentendimentos,
entre duas pessoas
que se amam,
estarão condenadas
ao esquecimento.
Por ordem maior dos
sentimentos,
não serão toleradas
agressões,
e sim, maximizados
todos os esforços
para que o amor não
sofra danos nem arranhões.
Por completa decisão
superior
anular-se-ão as
discussões que, porventura, surgirem.
Acima de tudo,
os ressentimentos
serão abolidos
evitando-se, assim,
sofrimento
de ambas as partes.
Parágrafo único:
Que o amor seja o
sentimento maior!
Paço do
Entendimento,
dia do equilíbrio do
ano do coração.
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AO POETA LUCIANO MAIA
Paulo Ximenes
ao fogueio das estrofes mais vibrantes,
és o cearense-mor – poeta andante,
adeso à alma de um menino.
É volvendo o mundo, sem destino,
escreves versos tão elegantes!
(distantes dos poemas que assino)
em teu brilho de estrela viajante.
Das mil cidades por onde andaste
criptografadas em tua alma
fluem beleza, feitiço, história salva,
de cada povo, de cada dor, de cada arte.
E assim – da maneira com que me contaste
nas cidades míticas – tão alvas!
Conheci o mundo, inteiro, em parte
Sem sair de casa. Em minha calma.
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Prisioneiras
Concita Farias
A cadeia
Tem grades
Para
aprisionar
Gente,
Que às vezes
Não devia
presa
Ficar.
Gente
Que anda
Na rua,
Presa devia
Ficar.
E gente
livre
Presa está
Dentro de
si,
Consciência
A doer,
Medo de
viver,
Medo de si
Sem
liberdade
Ter.
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