quinta-feira, 10 de julho de 2014

SEQUÊNCIA POÉTICA II

ODE AO BOTEQUIM
Luciano Maia
O botequim é esquina. Só a esquina o reconhece por inteiro.

Do norte, chegam os engravatados da bolsa, sem paletó
e consomem tagarelas as primeiras lapadas das seis horas.

A seu canto, o velho violonista que tangia a tarde, hesita.

Do sul, chega o cabeleireiro que leu Vinicius e se afeminou
por profissão. 

Do poente, chega o vereador antigo com a sua matreirice
mal disfarçada em sua cara de "tudo bem".

E do leste, eis que ainda chega o solitário, o sem-solução
calado em sua avidez de fogo líquido.

E do leste, eis que ainda chega o solitário, o sem-solução
calado em sua avidez de fogo líquido.

 - Boa noite, poeta.

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SEVANDIJA
Vianney Mesquita
Seguramente em erro o mau destino
Equivocadamente concedeu
A existência - enorme desatino!
À abjeta criatura que sou eu.

Incapaz de operar boas ações,
Fraco, infido, tratante e imoral,
Nas mais diferentes situações,
Tudo o que fiz foi para o bem do mal.

Nem de morrer, sequer, tenho coragem
E até a morte foge à minha imagem
Porque não faço jus ao lume eterno.

Decerto Satanás negue o decesso,
Pois se à geena eu tivesse acesso,
Congelaria o fogo do inferno.

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13 Graus
Karla Karenina
 Tá frio lá fora, meu amor.
Entra, que dentro de mim é só calor!
Tudo é calor no meu ser, lareira acesa.

Meu corpo incendeia, arde em brasa por causa de ti,
Vem, que esse fogo não te queima, não!
Ele só quer te esquentar, te aquecer
E acender a fogueira da minh'alma outra vez.

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DECRETO MAIOR
Vicente Alencar
Fica decretado,
por rigor da condição maior,
que brigas e desentendimentos,
entre duas pessoas que se amam,
estarão condenadas ao esquecimento.

Por ordem maior dos sentimentos,
não serão toleradas agressões,
e sim, maximizados todos os esforços
para que o amor não sofra danos nem arranhões.

Por completa decisão superior
anular-se-ão as discussões que, porventura, surgirem.
Acima de tudo,
os ressentimentos serão abolidos
evitando-se, assim, sofrimento
de ambas as partes.

Parágrafo único:
Que o amor seja o sentimento maior!

Paço do Entendimento,

dia do equilíbrio do ano do coração.

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AO POETA LUCIANO MAIA
Paulo Ximenes
Dentre os poetas nossos, alencarinos,
ao fogueio das estrofes mais vibrantes,
és o cearense-mor – poeta andante,
adeso à alma de um menino.

É volvendo o mundo, sem destino,
escreves versos tão elegantes!
(distantes dos poemas que assino)
em teu brilho de estrela viajante.

Das mil cidades por onde andaste
criptografadas em tua alma
fluem beleza, feitiço, história salva,
de cada povo, de cada dor, de cada arte.

E assim – da maneira com que me contaste
nas cidades míticas – tão alvas!
Conheci o mundo, inteiro, em parte
Sem sair de casa. Em minha calma.

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Prisioneiras
Concita Farias


A cadeia
Tem grades
Para aprisionar
Gente,
Que às vezes
Não devia presa
Ficar.
Gente
Que anda
Na rua,
Presa devia
Ficar.
E gente livre
Presa está
Dentro de si,
Consciência
A doer,
Medo de viver,
Medo de si
Sem liberdade

Ter.

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