Rui Martinho Rodrigues*
A vida política expressa, entre outros
fatores, a cultura de um povo; a sua organização jurídica e política; a
dinâmica da política em sentido estrito.
Mário de Andrade fez, com o Macunaíma,
uma caricatura do brasileiro, expressando a nossa irresponsabilidade e o nosso deboche.
Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil”, aludiu à figura do
“semeador”, referindo-se à falta de critério na condução da coisa pública, desde
os tempos de colônia.
Ainda Buarque de Holanda, em “Visões do paraíso”,
fala da licenciosidade sem limites, relacionando-a à crença segundo a qual não
haveria pecado abaixo da linha do equador, também nos primeiros tempos de
colônia. Cultura integra o que os historiadores chamam de longa duração.
A organização jurídica e política
brasileira é marcada por uma federação paradoxalmente centralizada; e pelo
Poder Executivo imperial, reinando absoluto sobre os demais poderes.
Estados e municípios pobres dependem
do governo central. Os vereadores dependem dos favores dos prefeitos para
elegerem-se. O governo central controla, via finanças, os prefeitos. Estes
controlam os vereadores, que fazem a ligação com as bases eleitorais. Também por
isso os governos são favoritos nas eleições, embora o povo esteja insatisfeito
com os serviços públicos. São as eleições a bico de pena, em edição revista e
atualizada.
A política é marcada pelo
presidencialismo de coalizão, o voto proporcional, o quociente eleitoral e a
transferência de votos para candidatos não sufragados. E mais: partidos sem
programas, cujos candidatos saem do bolso do colete dos donos das agremiações. Campanhas
eleitorais milionárias fecham com chave de ouro o quadro político, financiadas,
indiretamente, pelos cofres da “viúva”. Não nos admiremos, pois, da crise de
representação política que assola o País, nem do favoritismo governamental.
A disputa eleitoral de 2014 já está
posta. Candidatos e partidos indiferenciados pela ausência de programas dignos
de crédito – e pela falta de representação – esforçam-se por parecer mais
convincentes, exibindo as mesmas bandeiras e promessas.
A completa hegemonia da ideia do
estado provedor aboliu, sob certo aspecto, o debate programático. Temas
específicos, como reforma tributária e matriz energética são cuidadosamente
evitados. Políticos e marqueteiros não gostam de entrar em bola dividida.
O favoritismo governamental é, em
grande parte, explicado pela facilidade de financiamento e pelo uso da
“máquina” governamental. As alianças, por seu turno, não trazem novidade.
Pactos eleitorais entre forças heterogêneas não surpreendem os brasileiros. A
Aliança Liberal, que apoiou Getúlio Vargas em 1930, era a mistura de óleo e água, e a Nova
República nasceu sob o Governo Sarney, integrante do regime destituído.
A possibilidade de quebra da mesmice,
em 2014, se radica na substituição de uma eleição meio plebiscitária, por outra
mais personalista, quebrando a falsa dicotomia da política brasileira. É por
isso que a permanência de Marina Silva na pugna eleitoral causou tanta
preocupação aos candidatos e marqueteiros de plantão. Será isso um pulo de
gato?
*Rui Martinho Rodrigues
Professor - Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10
Professor - Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10
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