FÉ, ESPERANÇA E
CARIDADE
Reginaldo Vasconcelos*


Depois de perguntar ao “raizeiro” a indicação de cada um de seus produtos e a sua posologia costumeira, e percebendo nele tanta convicção em prescrever os seus “remédios do mato”, eu lhe inquiri de chofre, lhe fitando nos olhos, mostrando a minha pior fisionomia de delegado de polícia, se de fato aquelas meizinhas tinham o efeito anunciado.
Surpreendido e
capturado de repente pela dureza da minha súbita indagação, ele perlustrou com
a vista os tabuleiros, coçou a cabeça, e me deu a sua resposta mais franca: “Home... A pessoa tendo fé!... Né? (sic).
Em poucas palavras está
resumido, na resposta daquele caboclo, o espírito brasileiro. “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”,
diz Gilberto Gil em letra de música, glosando a brasilidade mais profunda, que
agora se reflete nos jogos da Copa do Mundo de Futebol Association.
Ora, ganhar os jogos e
vencer o campeonato mundial depende unicamente da habilidade dos atletas, de
seu vigor, de sua velocidade – bem como da perícia dos técnicos que organizam
os treinos e estabelecem as estratégias.
Mas o povo brasileiro
abandona esse pragmatismo lógico e se entrega a orações e simpatias, rezas e
superstições – não como simples lenitivos morais de cada um, ou como adjutórios
místicos, mas como componentes fáticos da lei de causa e efeito, que determina
os resultados – exatamente como no caso daquele vendedor de puçangas, que
coloca o fideísmo acima das propriedades químicas curativas das “garrafadas” e dos cataplasmas
que prescreve.
Por conta desse vezo, subliminarmente consciente de que o selecionado nacional não pode depender somente das manobras de um único jogador – o hábil, acrobático, veloz e sereno Neymar Júnior – o País interpreta que o choro do capitão do time e do goleiro possa interferir na cabala ou na macumba entrevistas na tal da “corrente prá frente”, de modo que isso possa prejudicar o resultado.

Enfim, para vencer a Copa
e atingir o campeonato é necessário apenas que a seleção tenha sido bem
escolhida e que esteja bem treinada, de modo a atuar de forma bem entrosada dentro
em campo, realizando dribles eficientes e corridas velozes, no caso dos atacantes, e com tenacidade e vigor, no caso dos homens da zaga. Feito isso, não há reza
que ajude nem há choradeira que atrapalhe.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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