AINDA PÃO E
CIRCO
Paulo
Maria de Aragão*
A prevaricação, a crueldade e a dissolução acabaram
com as antigas glórias de Roma. Quando a imoralidade invade a classe
governante, influencia as camadas inferiores da sociedade. A devassidão dos
costumes redunda em devassidão dos princípios. Predominam os sentimentos baixos
e esmagam a força moral do caráter.
Roma deve a sua decadência à corrupção e aos desmandos. Com efeito, a
Senhora do Mundo sofreu a invasão de tribos selvagens saídas das florestas da
Europa Central, ao tempo que ricos viviam imersos em deleites voluptuosos, os
pobres arrastavam a existência na miséria e na mendicidade.

imperador e exclamavam: “Ave Caesar, morituri te salutant”. Davam as feras princípio à sua obra, que os gladiadores terminavam. O entretenimento durava até a noite, retirando-se o espectador ébrio de sangue.
No Brasil,
guardados os exageros, por séculos há o predomínio da roubalheira, da
corrupção, de políticos impudentes, de juízes vendilhões e de marginais que
hoje se escondem por trás da falta de compromisso democrático. Raros homens
íntegros se atrevem a participar dos negócios governamentais. As decisões são
tomadas para atender promessas oficiosas de campanha. Não é de hoje a espúria
distribuição de cargos para garantir alianças partidárias e apoio parlamentar.
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Revista Veja |

Diferentemente
da antiga Roma, revela o óbvio ululante: numa distância de tempo inimaginável, impossível
seria fazer um comparativo entre a queda daquele império e a nossa
realidade, não obstante serem ambas laceradas pela corrupção. Aquele império
viveu período áureo; o Brasil, nem no monárquico, nem no republicano, o
conheceu.
Longe do vasto
império romano, nem mesmo hoje, poder-se-ia comparar o Brasil com a atual
república italiana. Esta ocupa o 24º lugar no ranking dos países mais desenvolvidos do mundo, com o índice de
qualidade de vida entre os dez primeiros e a educação básica em altíssimo
nível.

Segundo os
passos da história, sábio é quem aprende com o erro dos outros, qualidade
essencial para os governantes. Oxalá o Brasil não incorresse nas mesmas causas
da crise que provocou a queda do império romano. Apesar de indesejáveis, há
tempos, algumas delas são exercitadas, como o estratagema do “pão e circo”.
Isso ocorre, sobremodo na época eleitoral, quando a população carente e
desinformada aflui aos forrós regados a cerveja e acaba esquecendo os graves
problemas sociais, reduzindo as chances de protesto.
(*) Paulo Maria de
Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular
da Cadeira nº 37 da ACLJ
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