domingo, 20 de julho de 2014

ARTIGO (RV)

A BÊNÇÃO MUNDIAL DE FRANCISCO I
Reginaldo Vasconcelos*

Depois da Copa do Mundo de Futebol do "mineiraço", do encontro dos Brics em Fortaleza, e antes mesmo que nos venham as esperadas Olimpíadas, falta o "hermanito" Papa Chico agendar sua segunda visita ao Brasil.

Na Copa nos saímos muito mal, e logo depois da festejada reunião dos emergentes a letra "R" da sigla é acusada de patrocinar o abate militar de um avião comercial, com a morte de quase trezentos civis inocentes, de várias nacionalidades, inclusive dezenas de cientistas que trabalhavam contra a AIDS.

Talvez a bênção do Papa, durante a primeira viagem ao Brasil, não tenha sido forte o bastante para proteger o país anfitrião, pois a sua visita foi o único dos três eventos brasileiros sem vexame internacional no final, ou logo em seguida. 

Que Francisco é virtuoso, e que a sua benção deve ser forte, a gente sabe. Mas há o grande receio é de que ele revele a distorção conhecida como “excesso de virtude”, um dos fatores do fundamentalismo político e religioso, vezo que assola a região bíblica do Planeta.

Um sacerdote tem função pastoral para com ricos e pobres, para com humildes e poderosos, para com crentes e agnósticos, para com fiéis e gentios – assim como o médico, que não pode discriminar os pacientes, nem mesmo para distinguir policial e bandido, ao aplicar a medicina. Quem quer resolver problemas políticos e socioeconômicos deve seguir outras carreiras. 

Se o religioso acredita em Deus, como se supõe, ele há de admitir que todas as dores no mudo estão sob o controle divino, deixando o Pai Eterno a cada filho a oportunidade de exercitar a virtude, dentro de seu específico ministério vocacional. E a função do Papa, que pertence à seara mística, certamente não inclui promover a luta de classes.

O fato de ser o Papa dos pobres (que é virtuoso), degenerará totalmente, caso ele se converta no Papa contra os ricos (que seria excesso de virtude). Ele disse sonhar com “uma igreja pobre, para os pobres”. Pergunta-se: Por que não uma igreja rica para os pobres?

A pobreza não é o mérito dos pobres, nem é consequência da riqueza dos ricos; só se pode combater a pobreza enriquecendo os pobres, e não empobrecendo os ricos, nivelando por baixo a sociedade. Pensar o contrário é querer impor a paz romana. O Papa tem que defender a paz cristiana: a César o que é de César, a Deus o que é de Deus.

Idealmente, riqueza se produz, e se reproduz, e se multiplica, e se difunde socialmente. A riqueza não se transfere ou distribui gratuitamente. Tudo se resolve, do ponto de vista quântico, pela educação, pela pesquisa científica, pela evolução tecnológica, pela expansão econômica  enfim, pela mobilidade social das pessoas, na via meritocrática. Não aritmeticamente, pelo garrote ideológico. As teorias em contrário já se exauriram pela frustração da experiência.

Enfim, tomara que Francisco I seja mesmo voltado aos desvalidos, pugnando pela caridade dos homens e pela previdência social mais ampla no concerto das nações  – mas não no sentido de reverenciar e manutenir a pobreza como virtude. Tomara que ele seja atencioso com os pobres, mas preocupado em tirá-los da pobreza. Pobreza é condição negativa eventual, a ser revertida pela universalização das oportunidades de progresso, de evolução intelectual, de empreendedorismo. A pobreza não é classe social estanque a ser mantida; não e causa ideológica a ser defendida como dogma.

Por outro lado, é equivocado o senso comum de que a Igreja precisa se modernizar, sob pena de continuar perdendo adeptos. O Prof. Rui Martinho Rodrigues, um dos grandes polímatas desta terra, defende que uma religião existe para perpetuar sua dogmática, sua liturgia, seus conceitos místicos, seus preceitos morais, assim como vem fazendo o budismo há milênios.

Religião não tem que fazer o que fazem hoje os políticos, os artistas e as empresas em geral, que para se venderem mais às massas imensas vão rebaixando a qualidade intelectual da sua produção e a mensagem moral da sua propaganda, visando o nível cultural mais tosco, reinante na base ampla da pirâmide social  em vez de investir em bom-senso e em bom-gosto. 

É notar que os movimentos internos que mais prosperam na Igreja Católica são os de renovação carismática, moralmente mais rígidos e mais conservadores, e que o êxodo dos católicos vai exatamente na direção de religiões evangélicas ou orientais mais rigorosas.

De fato, tudo faz crer que os que têm sede de fé não se satisfazem com a frouxidão moral, de modo que, pelo contrário, a relativização de seus velhos preceitos são a causa do caos que a Igreja Católica vive hoje, com a perda massiva de adeptos.

Ademais, seria também equivocado tentar recuperar a hegemonia religiosa aderindo aos líderes de massas que pugnam pela gratuita distribuição de benesses pelo Estado, sem indicar a evolução política, moral, cultural e tecnológica da sociedade, para a reprodução da riqueza e o natural compartilhamento dos bens da vida, de forma justa e meritória.

O problema do mundo não é a liberdade individual de criar, de inventar, de empreender e de enriquecer com probidade, produzindo empregos, gerando tributos, e criando confortos, a partir do conhecimento tecnológico e do trabalho organizado. 

A falta de ética,  a  desumanidade, a ausência de espírito público, a corrução  eis a causa do drama humano, em qualquer regime econômico e em qualquer forma de governo. Infelizmente houve desonestos em todos os tempos e sempre haverá por todas as latitudes do Planeta  ricos e pobres, capitalistas e comunistas, crentes e agnósticos, católicos e pagãos. 
  
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ 

Nenhum comentário:

Postar um comentário