MARCONDES ROSA DE SOUSA
Homo faber da Modernidade
Vianney Mesquita*
A terra, quando não lavrada, produz
abrolhos e espinhos, embora seja muito fértil. A igual acontece com a
inteligência dos homens. (Santa Teresa de Jesus, Santa Teresa d’Ávila, nascida
Teresa Sanchez de Cepeda y Ahumada. *Gotarrendura, 28.03.1515; +Alba de Tormes,
04.10.1582) .
O intelectual,
filósofo, diplomata e psicólogo francês Henri Bergson (*Paris, 18.10.1859;
+04.01.1941) cunhou a dicção Homo faber,
posteriormente massificada pela filósofa tedesca, de origem judaica, Hannah
Arendt. Mencionada expressão, em
língua do Lacio, correspondente a Homem
artífice.
Com isso, tencionou o
“Descartes da Psicologia” designar, primeiramente, o homem posto em meio à
Natureza, perante a qual havia de alevantar, ele próprio, os utensílios
absolutamente necessários para sua manutenção.
Para o Autor de Ensaios sobre os dados imediatos da
Consciência e detentor do Prêmio Nobel de Literatura, versão 1927, esta
ação edificadora, correlata à unidade de ideia Vita activa, em Arendt, constitui a própria causa da evolução
intelectiva, differentia specifica do
ser humano em relação aos animais inferiores (anima nobili – anima vili, nas experiências científicas), nomeadamente
por via da linguagem.
Consoante o nosso
autor de Matéria e Memória, a
reflexão, na sua origem, adida à vontade e à inteligência, constitui faculdade
utilitária, da qual o homem conservava um distintivo de rigidez e aspereza,
evidentemente abstraindo as fulgurações do pensamento e a agressão de valores
que as pessoas artífices foram transferindo, via gerações, como desdobre
sofisticado dos seus já não mais “grosseiros
utensílios” com os quais sustinham a própria vida.
O Homo faber bergsoniano, ao contornar dificuldades e conformar
problemas em soluções para uma vida melhor – no começo e paulatinamente se
moldando à Natureza e a esta controlando – aportou à Modernidade no curso da
história.
Descansa, agora, o homem artífice, não somente na manufatura
de instrumentos para sua manutenção, como também assoberbado com a convivência,
o mais harmoniosamente possível, dos seus semelhantes, ante a extraordinária
evolução assunta pela Humanidade como rebento da sua indústria intelectual, não
mais rude e deseixada da aspereza mencionada pelo Filósofo de A Evolução Criadora – Henri Bergson.
Sabe a descendência
inteira do Homo faber, diferentemente
do Homo sapiens, o
fato de ser imperioso não apenas estar em dia com o estado d’arte de todas as
coisas, mas também há de ter a visão prospectiva para amanhar bem a terra do
futuro que a receberá brevemente. Deve estar, por conseguinte, atualizada e na
vanguarda do seu tempo.
Dos bilhões e bilhões
de descendentes do Homo faber, há um
em particular, a quem me refiro, como 1) diligente na manufatura dos seus
utensílios, 2) hábílimo no acompanhamento de sua evolução e 3) cuidadoso no
preparo da seara no aguardo do amanhã.
Esse Homem artífice é o autor de Educação – Insistências e Mutações,
professor, por excelência, Marcondes Rosa de Sousa.
Sei que é sobejante,
beira o trivial, apresentar este advogado, professor e cronista ao Ceará culto,
que o conhece e aprecia, em decorrência das suas qualidades de intelectual
preparado para ser docente, em especial pela via da extensão humana – divisada
nos anos 1960/70 pelo canadiano Marshal McLuhan – dos meios de propagação
coletiva.
Não há de ser de todo
inócuo, entretanto, referir ao fato de que Marcondes Rosa de Sousa é, no Estado
do Ceará, referência terciária de preparo intelectual, bem acima de média,
homem de vita activa (evocando Hannah
Arendt) e pós-moderna, porquanto costuma ver ao longe o desdobramento das
ocorrências, ao raciocinar sobre os ciclos da história para extrair ilações, as
quais, nas mais das vezes, se confirmam.
Reconhecidamente um
professor destro na seara da Língua Portuguesa, já deixou história e escola nas
duas academias por cujas cátedras transitou ao curso de três dezenas de anos ou
um pouco mais – as Universidades Federal do Ceará e Estadual do Ceará – no
momento jubilado por tempo de serviço em ambas as instituições.
Fora da Cadeira,
dedicou vigorosamente o talento à cultura e à educação do Estado, máxime na
área da Comunicação, pois dirigiu a Rádio Universitária-FM e a então TV
Educativa do Ceará – Canal 5, com descortino e sabedoria, veiculando, no curso
de alguns anos, um comentário, todos os dias, pela mencionada emissora de
rádio, com invejável audiência, tudo isto sem falar nas funções de elevada
assessoria em diversos exercícios na Administração Superior da Universidade
Federal do Ceará, incluindo o cargo de pró-reitor de extensão por dois
períodos.
Marcondes Rosa de
Sousa advogou com sucesso, em banca da qual se desfez para se dedicar com
exclusividade ao magistério superior e ao jornalismo de colaboração, na
qualidade de educador e causídico.
Durante algum tempo,
exerceu, no plano de Secretário de Estado, a Presidência do Conselho de
Educação do Ceará, onde desenvolveu um trabalho paradigmático no âmbito das
políticas educacionais da nossa Unidade Federada, sendo, ipso facto, constantemente convidado a ministrar aulas e proferir
conferências a respeito de temas educacionais – e de outros, porque sua
formação eclética o permite – em várias cidades brasileiras.
Sua crônica
multivariada e copiosa, veiculada nos jornais de Fortaleza – cuja amostra-tipo
configura o teor de Educação: Insistência
e Mutações – privilegia assuntos de alevantado interesse social, de sorte
que o tenho como estalão de professor, que faz do desenvolvimento da sociedade,
pela educação de qualidade, cultura, tecnologia e artes, seu labor de espírito,
como verdadeiro Homo faber da
Pós-Modernidade, agora Animal laborans.
Guardo a honra e a
sorte de haver sido seu escolar, na Universidade Federal do Ceará, de Marcondes
Rosa de Sousa, exemplar de pessoa e componente da fina flor da intelectualidade
cearense.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Escritor e Jornalista
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