FUMAÇA
E CINZAS
Reginaldo
Vasconcelos*
Se um brasileiro
ainda tivesse moral neste momento para pontificar sobre o football association, eu diria que os selecionados da Alemanha e da Holanda não
ganharam do Brasil nas semifinais e na disputa do terceiro lugar da Copa Mundi,
respectivamente, pois foi o Brasil que perdeu, em ambos os casos.
Um time ganha de
outro quando luta de forma esforçada para obter um resultado, sua a camisa,
vira o placar, enfim, demonstra que superou uma deficiência própria ou
desequilibrou uma igualdade, como fez
Rocky Balboa na película famosa. Não é isso que acontece quando se vence por
pura incompetência do rival.
A torcida empurrou o
time do Brasil para vencer, mal e porcamente, os primeiros jogos da Copa, com
muita dificuldade, aproveitando-se de falhas da arbitragem, contra as equipes menores de sua chave, para
em seguida revelar-se um time de várzea contra os portentos mundiais.
E não vigora aqui o
preceito basilar do espírito olímpico amadorístico, segundo o qual o que vale é
competir, e se possível vencer, o que presumiria perder um campeonato com
absoluto fair-play e altivez, com serenidade
e com modéstia.
Não. Aqui se tem uma
atividade milionária, profissional, em que os nacionais de cada país
representam em campo o seu povo como um todo – sua saúde, seu vigor, sua inteligência, sua
capacidade de prosperar e de vencer. Um resultado acachapante, neste caso,
denota o desmantelo político e moral de uma nação.
Mas vale notar que
não foram os jogadores brasileiros que perderam a Copa de maneira vergonhosa.
Os rapazes se mostraram interessados, prontos a dar o próprio sangue,
necessário fosse, para vencer cada partida. E choraram lágrimas de sangue ao defrontar
o desafio. A culpa é toda ela da conjuntura em que eles se inserem.
A falta de
entrosamento, de treino, de inteligência tática aplicada, para somar o valor de
cada qual em prol do grupo, foi isso o que nos levou a quase perder tudo nos
primeiros jogos, e por fim perder o restinho que restava, de maneira fragorosa.
Não se tinha uma equipe em campo, mas um
grupo de talentos desconjuntados entre si.
E o cronista faz aqui
a retratação do que considerou em um artigo anterior, quando imaginou que as
lágrimas dos meninos do selecionado brasileiro, durante a execução do Hino e
antes dos chutes diretos a gol que definiram uma partida, pudessem ser de
raiva, de júbilo, frutos de vigorosos sentimentos.
Qual nada, tinha razão o vulgo quando viu naquilo um pranto de fraqueza e insegurança, de quem sabia que não poderia com aquele piano que a Nação encomendara e lhes cobrava, até o fim da jornada desportiva. Intuíam os jogadores brasileiros que a equipe não estava à altura do desafio tenebroso de salvar a honra nacional com as chuteiras.
Qual nada, tinha razão o vulgo quando viu naquilo um pranto de fraqueza e insegurança, de quem sabia que não poderia com aquele piano que a Nação encomendara e lhes cobrava, até o fim da jornada desportiva. Intuíam os jogadores brasileiros que a equipe não estava à altura do desafio tenebroso de salvar a honra nacional com as chuteiras.
Porém, na ordem geral
das coisas, tudo começa pequeno e vai crescendo: a tragédia é a única exceção.
Esta sempre nasce gigante, e depois vai encolhendo, à medida que o tempo passa
e que os atingidos por ela vão absorvendo a realidade, vão superando a angústia,
vão aprendendo a viver com as consequências – até que tudo esteja convertido nas cinzas da história e na fumaça da lembrança.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário