AMÁLGAMA,
de Cristiane
Almada
Vianney
Mesquita*
Cristiane Almada,
Amada,
amalgamada, numa gama de amor.
Amor
que gama, se funde e flama,
José
Bento Monteiro Lobato, já ao tempo de sua notável produção literária, deplorava
o desgaste do vocábulo poeta,
decerto em razão da munificência emprestada pelo Movimento de Fevereiro de 1922
– a Semana da Arte Moderna: Que surrada
andas tu, pobre palavra, e quão longe do sentido íntimo, pelo abuso de te
vestirem quantos por aí medem versos nos dedos para uma periódica postura nas
revistas!
Evidentemente,
assistia razão ao enorme Escritor e patriota, em decorrência da supercopiosa
produtividade de versos de gosto desabrido e estro somenos derramados por todos
os quadrantes do País.
Se
vivesse hoje († 1948), a decepção se teria proporcionado, por certo, haja vista
a pletora poética de má qualidade no ativo fixo de nossa Literatura, somente
perdendo feio, felizmente, para o metro de boa essência, bem mais substancioso
no recheio literário contabilizado no Brasil.
A
fim de sossegar um pouco os cuidados de Lobato, me faz surpresa a novel poetisa (este é o único feminino de
poeta) Cristiane Almada, com a estreia do seu Amálgama, onde esparge inspiração, ao empregar tropos e expedientes
figurais dispostos pela Língua de Reginaldo Vasconcelos, com vistas a
demonstrar o engenho e a estética de suas estâncias, admiravelmente adversas à
mesmice da vala comum.
O
traçado das suas estrofes é inteligente, nalgumas passagens sobra cristalino;
noutras circunstâncias, porém, parece cifrado ao leitor menos perspicaz, o
qual, ao insistir na demanda de descodificá-lo, sem dúvida obterá sucesso, pois
lábil dissimulação estilística.
Sua
temática é genérica, indeterminada, gravita, porém, em particular, como é
costumeiro, à órbita do amor, divisa de todos os versejadores da Terra. A arte
da qual se reveste, contudo, é demonstrativa não apenas do depurado influxo,
mas também de seus haveres intelectivos e perspicácia elocutória, conducentes a
uma poesia revestida da especiosidade própria dos versos bem consoados empós
colhidos do interior anímico.
Cristiane Almada, com toda a convicção, não é barda comezinha, nas palavras e na expressão inspirativa, mas poetisa ilusória do leitor, pois, se o poeta não ilude – sugere Giacomo Leopardi (1798-1837) – não conduz esse nome; e falar em poesia pensante é igual a referir-se a animal falante.
Eis, por conseguinte, à disposição do
público este conjunto de bons versos para deleite do espírito e floração da
alma, num tempo tão difícil, de cataclismos, tsunamis e conflitos de toda
ordem, não apenas no terreno secular, como também, principalmente, na
circunscrição dos eventos espirituais.
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