PERFIL DE UM ESCRITOR (2 de 2)
Renato Casimiro*
Está bem entendido que
o título Arquiteto a Posteriori, de
Vianney Mesquita, não conduz a um rótulo que o próprio autor rejeita para
classificar seus escritos. Desmontar e remontar uma obra, uma contribuição, não
é do seu espírito, senão o da análise sincera do texto, sem o necessário vexame
da biopsia indesejada. Efetivamente, há o viés da louvação – muitas vezes até
justificado apenas por conveniências à luz de questionada conduta entre ética e
razão. Hoje, por exemplo, são comuns e reprováveis, a quaisquer títulos, os
negócios que se montam em torno de marketing
para suportar sucessos questionáveis de obras literárias de valores
discutíveis, pelo mundo. E há o caminho enviesado da crítica abusada, dos
catadores de falhas e erros de toda sorte, guardas-civis
da ordem gramatical, no dizer de Gilberto Freyre, mencionado pelo autor.
Quero crer que Vianney Mesquita não se filie, com algum ranço, à possibilidade
de desmonte crítico sincero, como o que aconteceu, por exemplo, em obra gestada
nesta U.F.C., entre o novelista Durval Aires de Menezes e o crítico
F.S.Nascimento, que realizou um belo trabalho com sua Estrutura Desmontada. Parece não haver divergência na ideia de que
o relevante não é a técnica em si, mas a sinceridade com a qual se julga o
mérito da obra. O estilo é o homem, e
o seu é este de uma feição e afeição pela arquitetura da obra, como tal, sem o
desmonte, ao depois, como ele mesmo se refere.
Aliás, vossa senhoria
advertira em obra anterior – Fermento na
Massa do Texto – ao assinalar: Não
provamos, até agora, dos nomeados arquitetos a posteriori, conforme Sérgio
Milliet da Costa e Silva chama os críticos. Todas as apreciações de trabalhos
nossos – em livros, artigos de revistas, ou escritos outros têm tido a marca da
urbanidade, sem açoites violentos, nem servilismos compadrescos à guisa de
retribuição qualquer.
Isto, ao que me
parece, também foi testemunhado por outros ao apreciar-lhe nos escritos.
Batista de Lima, por exemplo, reconhece que o autor se esmera por [...] um vocabulário rico, uma frase lapidada
dentro das normas da língua culta, um ritmo agradável que sequestra o leitor do
começo ao fim. O intelectual, docente universitário e escritor, Gilmar de
Carvalho – com predicados semelhantes ao do há pouco mencionado autor de Janeiro da Encarnação – em momento
anterior, confirmara sua impressão mais forte, ao realçar o compromisso de
Vianney Mesquita com a palavra, ao fazê-lo em textos de profundidade e
elegância, especialmente em uma das suas áreas de domínio – a Comunicação.
Assim, professor
Vianney Mesquita, agradeço-lhe pela convocação. Digo mais que assimilada como
certa intimação que a admiração e o respeito, recíprocos, inspiram a nossa
convivência fraterna e até familiar. Foi com muito gosto que procurei ler sua
escrita mais recente, alargado pelo prazer de rever edições mais recuadas. De
outras lavras, não foi menos prazeroso me deixar viajar por entre essas linhas
de fino artesão da palavra, de frases e ideário que o vinculam ao necessário
dom patriótico de cuidado e zelo pelo vernáculo, para, por ele, cantar o
sentimento de sua nacionalidade exemplar. Conforme já nos advertia Alberto
Nepomuceno, Não tem pátria que não canta em
sua própria língua. E ao fazê-lo, sua linguagem nos encanta pela
diversidade do vocabulário, pelo polimorfismo de suas construções frasais e
pela elegância de um estilo comprometido com a beleza da expressão de seus
sentimentos. Como exemplo fiel destas preocupações, sabe perfeitamente como
estas são obrigações inadiáveis. Fê-lo, com certeza, e tão insistentemente, ao
modo da crítica necessária a esclarecer e a orientar, na penitência da revisão,
do analista, do professor, do editor, do patrocinador da emergência de novos
quadros, dos quais ainda vai muito depender este deitado em berço esplêndido com o qual nos referimos,
reservadamente, nos temores, os renovadores, novos e necessários caminhos da
Literatura.
Por fim, foi do que
li, gostei e recomendo sua leitura imediata e atenta. E se mais não aprendi, já
lhe peço vênia por esta manifesta franciscana indigência literária. Aquilo que
escreve nos faz muito bem, e aguardar que isto seja mais um livro é melhor
ainda.
Que este seja como um
daqueles ao qual se referia Dona Clotilde Queiroz ao dizer a sua filha, Rachel,
para que seja um destes que ficam em pé, sozinhos, em nossas estantes.
***
*Os dois segmentos de Perfil de um escritor, ora publicados,
configura o texto de apresentação do livro Arquiteto
a Posteriori, do Professor João VIANNEY Campos de MESQUITA, lançado na
Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, no dia
19 de setembro de 2014.
*Antônio Renato Soares de Casimiro
Docente da Universidade Federal do Ceará
Escritor
Engenheiro químico
Acadêmico Titular da Academia Cearense de Química
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