quarta-feira, 9 de julho de 2014

CRÍTICA LITERÁRIA (RC)

PERFIL DE UM ESCRITOR (2 de 2)
Renato Casimiro*

Está bem entendido que o título Arquiteto a Posteriori, de Vianney Mesquita, não conduz a um rótulo que o próprio autor rejeita para classificar seus escritos. Desmontar e remontar uma obra, uma contribuição, não é do seu espírito, senão o da análise sincera do texto, sem o necessário vexame da biopsia indesejada. Efetivamente, há o viés da louvação – muitas vezes até justificado apenas por conveniências à luz de questionada conduta entre ética e razão. Hoje, por exemplo, são comuns e reprováveis, a quaisquer títulos, os negócios que se montam em torno de marketing para suportar sucessos questionáveis de obras literárias de valores discutíveis, pelo mundo. E há o caminho enviesado da crítica abusada, dos catadores de falhas e erros de toda sorte, guardas-civis da ordem gramatical, no dizer de Gilberto Freyre, mencionado pelo autor. Quero crer que Vianney Mesquita não se filie, com algum ranço, à possibilidade de desmonte crítico sincero, como o que aconteceu, por exemplo, em obra gestada nesta U.F.C., entre o novelista Durval Aires de Menezes e o crítico F.S.Nascimento, que realizou um belo trabalho com sua Estrutura Desmontada. Parece não haver divergência na ideia de que o relevante não é a técnica em si, mas a sinceridade com a qual se julga o mérito da obra. O estilo é o homem, e o seu é este de uma feição e afeição pela arquitetura da obra, como tal, sem o desmonte, ao depois, como ele mesmo se refere.

Aliás, vossa senhoria advertira em obra anterior – Fermento na Massa do Texto – ao assinalar: Não provamos, até agora, dos nomeados arquitetos a posteriori, conforme Sérgio Milliet da Costa e Silva chama os críticos. Todas as apreciações de trabalhos nossos – em livros, artigos de revistas, ou escritos outros têm tido a marca da urbanidade, sem açoites violentos, nem servilismos compadrescos à guisa de retribuição qualquer.

Isto, ao que me parece, também foi testemunhado por outros ao apreciar-lhe nos escritos. Batista de Lima, por exemplo, reconhece que o autor se esmera por [...] um vocabulário rico, uma frase lapidada dentro das normas da língua culta, um ritmo agradável que sequestra o leitor do começo ao fim. O intelectual, docente universitário e escritor, Gilmar de Carvalho – com predicados semelhantes ao do há pouco mencionado autor de Janeiro da Encarnação – em momento anterior, confirmara sua impressão mais forte, ao realçar o compromisso de Vianney Mesquita com a palavra, ao fazê-lo em textos de profundidade e elegância, especialmente em uma das suas áreas de domínio – a Comunicação.

Assim, professor Vianney Mesquita, agradeço-lhe pela convocação. Digo mais que assimilada como certa intimação que a admiração e o respeito, recíprocos, inspiram a nossa convivência fraterna e até familiar. Foi com muito gosto que procurei ler sua escrita mais recente, alargado pelo prazer de rever edições mais recuadas. De outras lavras, não foi menos prazeroso me deixar viajar por entre essas linhas de fino artesão da palavra, de frases e ideário que o vinculam ao necessário dom patriótico de cuidado e zelo pelo vernáculo, para, por ele, cantar o sentimento de sua nacionalidade exemplar. Conforme já nos advertia Alberto Nepomuceno, Não tem pátria que não canta em sua própria língua. E ao fazê-lo, sua linguagem nos encanta pela diversidade do vocabulário, pelo polimorfismo de suas construções frasais e pela elegância de um estilo comprometido com a beleza da expressão de seus sentimentos. Como exemplo fiel destas preocupações, sabe perfeitamente como estas são obrigações inadiáveis. Fê-lo, com certeza, e tão insistentemente, ao modo da crítica necessária a esclarecer e a orientar, na penitência da revisão, do analista, do professor, do editor, do patrocinador da emergência de novos quadros, dos quais ainda vai muito depender este deitado em berço esplêndido com o qual nos referimos, reservadamente, nos temores, os renovadores, novos e necessários caminhos da Literatura.

Por fim, foi do que li, gostei e recomendo sua leitura imediata e atenta. E se mais não aprendi, já lhe peço vênia por esta manifesta franciscana indigência literária. Aquilo que escreve nos faz muito bem, e aguardar que isto seja mais um livro é melhor ainda.
Que este seja como um daqueles ao qual se referia Dona Clotilde Queiroz ao dizer a sua filha, Rachel, para que seja um destes que ficam em pé, sozinhos, em nossas estantes.

***

*Os dois segmentos de Perfil de um escritor, ora publicados, configura o texto de apresentação do livro Arquiteto a Posteriori, do Professor João VIANNEY Campos de MESQUITA, lançado na Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, no dia 19 de setembro de 2014.



*Antônio Renato Soares de Casimiro
Docente da Universidade Federal do Ceará
Escritor 
Engenheiro químico
Acadêmico Titular da Academia Cearense de Química

Nenhum comentário:

Postar um comentário