PARTICIPAÇÃO
POPULAR
Rui Martinho Rodrigues*
A democracia direta é o sonho recorrente dos
“esclarecidos”. É promessa de ser sujeito das decisões políticas e dos destinos
da pólis. É forma “superior” de organização política. Inoperância, arbítrio,
violência e irracionalidade das multidões nas experiências históricas? Tudo
isso é esquecido.
Formas tantas vezes fracassadas e abandonadas devem ter
sérios problemas, como vulnerabilidade de assembleias à intimidação, à
cooptação, ao domínio das claques. Nada disso é lembrado. Consultas
plebiscitárias, tão usadas por Hitler e Mussolini, passando ao largo do
Legislativo, são havidas como lídima expressão democrática.
Confunde-se a participação em grupos organizados com
democracia direta, apesar da rima entre organização e dominação. A eleição de
representantes por eleitores solitários, sem a tutela dos vaqueiros da boiada
cidadã, é anátema. Os defeitos da democracia direta são evidentes, porque
integrantes do mundo real. Comparada à “maravilhosa” democracia direta,
imaginária ou dourada pela distância de um passado remoto, a democracia
representativa é massacrada.
Assembleias são o paraíso de pelegos e claques. Quando um
conselho tenta desenhar um cavalo retrata um camelo. Grande é a competência dos
conselhos, quando se trate de paralisar uma administração, multiplicando
reuniões e transformando-as num inferno, com agressividade e desrespeito.
Conselheiros, ainda que sejam incapazes, são capazes de tudo.
Colegiados formados por dirigentes de organizações da
sociedade civil aparelhada são vendidos como democracia direta. Tais líderes,
com despudor, se dizem dirigentes. Não são representantes. Logo, a boiada
cidadã é dirigida. Cai o mito do cidadão que é sujeito ativo das decisões
políticas. A indagação sherlokiana ajuda a compreender o culto à democracia
direta e aos conselhos. A quem interessa o crime? Aos vaqueiros da boiada
cidadã, com a promessa messiânica de redenção da humanidade.
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