VITÓRIA DE PIRRO
Reginaldo Vasconcelos*
Fogo amigo, simulação, jogo sujo, juízo complacente –
enfim, tudo aquilo que tem ocorrido no cenário político nacional, contra o qual o povo protesta nas ruas, se refletiu no feio jogo de futebol do Brasil contra
a Croácia, que abriu esta Copa do Mundo.
Começamos com uma manobra voluntarista precipitada de um
jogador brasileiro que terminou ajudando a conclusão do primeiro tento da
Croácia, atuando assim, inadvertidamente, contra o próprio patrimônio.
Depois a cena vergonhosa do outro que se atirou no chão
para imputar a jogador adversário uma conduta que este não teve, e impor ao time dele uma penalidade indevida, num triste exemplo de deslealdade
desportiva.
Fazendo-se de míope, o árbitro da partida marcou o pênalti
injusto, quando de qualquer ângulo se podia perceber a encenação grosseira – tipo
de manobra contra a qual qualquer juiz de futebol minimamente experiente estaria
prevenido.
Por fim, o “homem gol” da Seleção Brasileira desfere uma
cotovelada intencional contra o rosto de um jogador da Croácia, e diz depois à
imprensa que não viu a vítima, que o ato foi acidental. Ora, qualquer idiota
que veja a cena no vídeo nota que Neymar mirou o rosto do outro antes de
levantar o cotovelo contra ele.
Eu sei que para os padrões nacionais tudo isso é
normalíssimo – e esse é o grande mal da mentalidade brasileira, o mesmo vezo
desonesto que há na política nacional. Não. Isso não é normal. Mentira, desonestidade, golpe baixo, bravata, caixa dois, lavagem de dinheiro, sonegação, abuso de poder, abuso de direito, captação de sufrágio, tudo isso é imoral.
Essa trilha de falhas morais que se verificou nessa
partida parece ter o mesmo caráter do liame espúrio que perpassou os Poderes da República,
a partir do mero rompante de um “jogador” precipitado, que terminou prejudicando a si e ao “time” – e então se aparelharam órgãos, dissimularam fatos, tentaram de toda
maneira evitar que houvesse inquéritos, julgamento e prisões, contra o trabalho profícuo de meia dúzia de abnegados e heroicos justiceiros.
Contou certa vez o jogador Zico sobre a dificuldade que
teve, enquanto treinador no Japão, para convencer os jogadores japoneses a aproveitarem
a distração do árbitro para aproximar a barreira humana do batedor de falta
direta.
Os nipônicos se recusavam a fraudar as regras. E é por isso
que aquele conjunto de ilhas vulcânicas, arrasado na Segunda Grande Guerra, perseguido por terremotos e tsunamis, ao fim de cada revés volta a ser uma grande potência mundial em muito pouco tempo: disciplina, trabalho honesto, amor à verdade, mérito genuíno.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário