sexta-feira, 13 de junho de 2014

CRÔNICA (RV)

VITÓRIA DE PIRRO
Reginaldo Vasconcelos*

Fogo amigo, simulação, jogo sujo, juízo complacente – enfim, tudo aquilo que tem ocorrido no cenário político nacional, contra o qual o povo protesta nas ruas, se refletiu no feio jogo de futebol do Brasil contra a Croácia, que abriu esta Copa do Mundo.

Começamos com uma manobra voluntarista precipitada de um jogador brasileiro que terminou ajudando a conclusão do primeiro tento da Croácia, atuando assim, inadvertidamente, contra o próprio patrimônio.

Depois a cena vergonhosa do outro que se atirou no chão para imputar a jogador adversário uma conduta que este não teve, e impor ao time dele uma penalidade indevida, num triste exemplo de deslealdade desportiva.

Fazendo-se de míope, o árbitro da partida marcou o pênalti injusto, quando de qualquer ângulo se podia perceber a encenação grosseira – tipo de manobra contra a qual qualquer juiz de futebol minimamente experiente estaria prevenido.

Por fim, o “homem gol” da Seleção Brasileira desfere uma cotovelada intencional contra o rosto de um jogador da Croácia, e diz depois à imprensa que não viu a vítima, que o ato foi acidental. Ora, qualquer idiota que veja a cena no vídeo nota que Neymar mirou o rosto do outro antes de levantar o cotovelo contra ele.

Eu sei que para os padrões nacionais tudo isso é normalíssimo – e esse é o grande mal da mentalidade brasileira, o mesmo vezo desonesto que há na política nacional. Não. Isso não é normal. Mentira, desonestidade, golpe baixo, bravata, caixa dois, lavagem de dinheiro, sonegação, abuso de poder, abuso de direito, captação de sufrágio, tudo isso é imoral.
Essa trilha de falhas morais que se verificou nessa partida parece ter o mesmo caráter do liame espúrio que perpassou os Poderes da República, a partir do mero rompante de um “jogador” precipitado, que terminou prejudicando a si e ao “time” – e então se aparelharam órgãos, dissimularam fatos, tentaram de toda maneira evitar que houvesse inquéritos, julgamento e prisões, contra o trabalho profícuo de meia dúzia de abnegados e heroicos justiceiros.     

Contou certa vez o jogador Zico sobre a dificuldade que teve, enquanto treinador no Japão, para convencer os jogadores japoneses a aproveitarem a distração do árbitro para aproximar a barreira humana do batedor de falta direta.


Os nipônicos se recusavam a fraudar as regras. E é por isso que aquele conjunto de ilhas vulcânicas, arrasado na Segunda Grande Guerra, perseguido por terremotos e tsunamis, ao fim de cada revés volta a ser uma grande potência mundial em muito pouco tempo: disciplina,  trabalho honesto, amor à verdade, mérito genuíno.


*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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