TUDO DOMINADO
Reginaldo Vasconcelos*
Pugna o nosso confrade Vianney Mesquita, no artigo acima, que os manifestantes brasileiros (essa nova classe nacional), por mais
justas as suas reivindicações, abstenham-se de protestos públicos ao longo da
Copa do Mundo, propondo a pactuação de uma trégua, certamente em prol do bom nome do nosso
país perante o mundo.
Incapacitado de fazê-lo no mais alto código idiomático
vernáculo em que discorre o Vianney, ainda que pobremente me expressando quero
dar “tratos à bola” nesse tema futebolístico – sem fazer esforço para fugir ao trocadilho.
Ora, para não cair do salto e trair o apelo populista
eleitoral que pratica, o próprio Governo
Federal anda dizendo que todas as manifestações populares são legítimas e
normais. Desse modo, fica-se sem saber exatamente se a imensa militância
do partido oficial tem participação nelas, se teve e perdeu o controle, ou se
seria a direita, constituída pelas tais “elites” e pelas ditas “forças do
atraso” que as estariam estimulando.
Na verdade, manifestações legítimas seriam instâncias
coletivas da sociedade organizada ao Poder Legislativo e ao Pode Judiciário, por
meio das ações civis públicas, dos dissídios provocados por sindicatos, das
audiências promovidas por casas parlamentares, essas, sim, ações próprias da
perfeita normalidade democrática.
Greves generalizadas, paredismo violento, quebra-quebras, queima
de ônibus, interrupção de vias, tumultos públicos, confrontos com a polícia,
isso está longe de espelhar o sadio exercício do direito de expressão do povo,
para sinalizar na verdade escaramuças de guerra civil, consectárias de uma grave
crise institucional já instalada e arraigada por diversos setores da República.
A Administração Pública fracassa porque os serviços
essenciais não funcionam a contento; grassa a corrupção à luz do dia, desviando
bilhões; a politicagem impera a olhos vistos; os órgãos oficiais de repressão
ao crime são fortemente reprimidos; o Judiciário é moroso e injusto; a imprensa
livre é constantemente ameaçada de censura.
Sim, para significar que o Poder Público brasileiro não
pretende recorrer à violência estatal para calar a voz do povo como se faz nas
ditaduras, os governantes se omitem e se expressam sob profunda reserva mental,
abonando a baderna, enquanto a cidadania sofre com a consequente revolta ante os
desmandos do Governo.
Ainda assim propõe e espera o nosso mestre Vianney que
durante a Copa de futebol as hostilidades se interrompam, o que me parece
impossível de ocorrer. Isso por duas razões objetivas, que a seguir comentarei.
Primeiro porque o povo está revoltado especialmente com as
despesas astronômica com os estádios, com verbas do erário, sabendo ainda das
graves suspeitas de que eles tenham sido feitos de forma superfaturada. Em segundo
lugar porque a Copa será a grande oportunidade de denunciar ao mundo as mazelas
brasileiras, tendo em vista que internamente “está tudo dominado”.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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