sábado, 7 de junho de 2014

ARTIGO (VM)

TRÊS LAPSOS DE ENTENDIMENTO
Vianney Mesquita*

Na primeira vez que me enganares, a culpa será tua; na seguinte, será minha. (Anônimo).


As significações equívocas, antes ocorrentes mais em circunstâncias de uso da língua no universo coloquial, sem o escopo de socializar conhecimento, tampouco de lecionar, encontram-se também, hoje, nos espaços de emprego da linguagem culta, em que se codificam, por exemplo, feitos e fatos científicos a se propagarem em livros ou quaisquer suportes de informação.

Exibem-se inumeráveis exemplos desses logros elocutórios até em legislações e documentos de órgãos oficiais do Brasil, fato a se deplorar, pois conduzem o leitor à arapuca do erro, desabilitando nosso código glossológico perante os demais do ecúmeno linguístico, nomeadamente deste exercitado nos Estados Lusofônicos – o Português.

Reportamo-nos a três eventos que a nós nos parece oportuno trazer à balha, pelo emprego genérico e indiscriminado em textos de lições escolares, dispostos legais, pronunciamentos formais, discursos e comunicações científicos e literários, peças de Doutrina e Jurisprudência, Bioestatística governamental et reliqua.

Alternativa

Consoante expressamos, em razão do largo e inadequado uso da dicção alternativa e suas variações cognatas, com acepções distintas daquelas que realmente conotam, impende tomar-se em consideração a ideia de que alternativa provém de alter (Latim) = outro, outra.

Por conseguinte, existe, tão-só, UMA alternativa.

Diz-se, em Português correto, a alternativa é esta, de sorte a não se cogitar em (cogita-se em) diversas alternativas, num “leque” de alternativas (Proh pudor!), porquanto, por definição, o vocábulo corresponde à Sucessão de duas coisas reciprocamente exclusivas, isto é, uma opção entre duas coisas.

Efetivamente, pois, a opção – não sendo uma coisa – será a outra (alter), a alternativa.

Opção será, pois, a alternativa para eliminar as construções frasais equivocadas, feitas, amiúde, a contrapelo das regras da Língua, desprezando, in casu, a procedência glossológica da palavra.

Nascer morto

Quiçá inglória seja nossa luta em objeção a expressões desse jaez. Todo o Mundo, até o escrevinhador da língua culta, como adiantamos há pouco, suporta, aceita e aplica palavras e expressões sem qualquer consistência glotológica. Pouco se lhe dá se está ou não depauperando a língua do Prof. Dr. Djalma Pinto.

Muita vez, são expressas até antíteses violentíssimas, como na consagrada (miserável consagração!) – e universalizada nas línguas românicas – dicção NASCER MORTO, utilizada pela Bioestatística, até em mensagens de lavra e responsabilidade estatais, no Brasil.

Se NASCER significa, conceitualmente, começar a ter vida exterior, vir à luz, enxergar a luz, como pode alguém NASCER MORTO? Nascer, então, é o mesmo que morrer?

Diga-se, por conseguinte, a mulher pariu um feto sem vida, delivrou um corpo morto, ou algo semelhante. NASCER, por conseguinte, foi, é e será, indefinidamente, o antônimo perfeitíssimo de morrer.

Lamentavelmente, com alternativa, ainda alimentamos expectativa; com relação a nascer morto, entretanto, parece estar a “guerra” definivamente perdida, a não ser, entre nós do Ceará.

Entre xis e ípsilon ou de xis a ípsilon?
Eis a derradeira demonstração de emprego atrapalhado de expressões, na indicação, notadamente em trabalhos universitários, de intervalos de duas grandezas ou coisas.

É necessário enxergar-se a grande diferença bem visível nas duas dicções, no caso, exempli gratia, de se apontar intervalo etário.

Ao se expressar a ideia de que as pessoas ouvidas na pesquisa revelaram nas respostas idades de 28 a 40 anos, evidentemente, se depreende que os números lindeiros, as idades-limite inferior e superior, onde estão contidos 28 e 40, são 27 e 41 anos, isto é, aqueles que têm ENTRE 27 e 41 anos, na realidade contam DE 28 A 40 anos.

Muitas vezes, os pesquisadores expressam que as crianças do seu experimento, por exemplo, nasceram entre 2011 e 2012, tal significando dizer que ainda não nasceram, porquanto, ENTRE 2011 E 2012, nada existe.

Então, rematando o caso, ENTRE os anos de 1927 e 1946, estão os períodos DE 1928 a 1945, não, como é constante e equivocamente apontado. ENTRE e E (aditiva) são intervalos de fora, e não devem ser contados, ao passo que DE-A hão de ser considerados.

De tal sorte, DE XIS A ÍPSILON # de ENTRE XIS E ÍPSILON.


*Acadêmico ocupante titular da Cadeira número 37, cujo patrono é Estêvão Cruz.  

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