TRÊS LAPSOS DE ENTENDIMENTO
Vianney Mesquita*
Na primeira vez que me
enganares, a culpa será tua; na seguinte, será minha. (Anônimo).
As significações
equívocas, antes ocorrentes mais em circunstâncias de uso da língua no universo
coloquial, sem o escopo de socializar conhecimento, tampouco de lecionar,
encontram-se também, hoje, nos espaços de emprego da linguagem culta, em que se
codificam, por exemplo, feitos e fatos científicos a se propagarem em livros ou
quaisquer suportes de informação.
Exibem-se inumeráveis
exemplos desses logros elocutórios até em legislações e documentos de órgãos
oficiais do Brasil, fato a se deplorar, pois conduzem o leitor à arapuca do
erro, desabilitando nosso código glossológico perante os demais do ecúmeno
linguístico, nomeadamente deste exercitado nos Estados Lusofônicos – o
Português.
Reportamo-nos a três
eventos que a nós nos parece oportuno trazer à balha, pelo emprego genérico e
indiscriminado em textos de lições escolares, dispostos legais, pronunciamentos
formais, discursos e comunicações científicos e literários, peças de Doutrina e
Jurisprudência, Bioestatística governamental et reliqua.
Alternativa
Consoante expressamos,
em razão do largo e inadequado uso da dicção alternativa e suas variações cognatas, com acepções distintas daquelas
que realmente conotam, impende tomar-se em consideração a ideia de que alternativa provém de alter (Latim) = outro, outra.
Por conseguinte,
existe, tão-só, UMA alternativa.
Diz-se, em Português
correto, a alternativa é esta, de
sorte a não se cogitar em (cogita-se em) diversas alternativas, num “leque” de alternativas (Proh pudor!), porquanto,
por definição, o vocábulo corresponde à Sucessão de duas coisas reciprocamente exclusivas,
isto é, uma opção entre duas coisas.
Efetivamente, pois, a
opção – não sendo uma coisa – será a outra (alter),
a alternativa.
Opção será, pois, a alternativa para eliminar as construções frasais equivocadas,
feitas, amiúde, a contrapelo das regras da Língua, desprezando, in casu, a procedência glossológica da
palavra.
Nascer morto
Quiçá inglória seja
nossa luta em objeção a expressões desse jaez. Todo o Mundo, até o
escrevinhador da língua culta, como adiantamos há pouco, suporta, aceita e aplica
palavras e expressões sem qualquer consistência glotológica. Pouco se lhe dá se
está ou não depauperando a língua do Prof. Dr. Djalma Pinto.
Muita vez, são
expressas até antíteses violentíssimas, como na consagrada (miserável
consagração!) – e universalizada nas línguas românicas – dicção NASCER MORTO,
utilizada pela Bioestatística, até em mensagens de lavra e responsabilidade
estatais, no Brasil.
Se NASCER significa,
conceitualmente, começar a ter vida exterior, vir à luz, enxergar a luz, como
pode alguém NASCER MORTO? Nascer,
então, é o mesmo que morrer?
Diga-se, por
conseguinte, a mulher pariu um feto sem vida, delivrou um corpo morto, ou algo
semelhante. NASCER, por conseguinte, foi, é e será, indefinidamente, o antônimo
perfeitíssimo de morrer.
Lamentavelmente, com alternativa, ainda alimentamos
expectativa; com relação a nascer morto, entretanto,
parece estar a “guerra” definivamente perdida, a não ser, entre nós do Ceará.
Entre xis e ípsilon ou de xis a ípsilon?
Eis a derradeira
demonstração de emprego atrapalhado de expressões, na indicação, notadamente em
trabalhos universitários, de intervalos de duas grandezas ou coisas.
É necessário
enxergar-se a grande diferença bem visível nas duas dicções, no caso, exempli gratia, de se apontar intervalo
etário.
Ao se expressar a
ideia de que as pessoas ouvidas na pesquisa revelaram nas respostas idades de
28 a 40 anos, evidentemente, se depreende que os números lindeiros, as
idades-limite inferior e superior, onde estão contidos 28 e 40, são 27 e 41
anos, isto é, aqueles que têm ENTRE 27 e 41 anos, na realidade contam DE 28 A
40 anos.
Muitas vezes, os
pesquisadores expressam que as crianças do seu experimento, por exemplo,
nasceram entre 2011 e 2012, tal significando dizer que ainda não nasceram,
porquanto, ENTRE 2011 E 2012, nada existe.
Então, rematando o
caso, ENTRE os anos de 1927 e 1946, estão os períodos DE 1928 a 1945, não, como
é constante e equivocamente apontado. ENTRE e E (aditiva) são intervalos de
fora, e não devem ser contados, ao passo que DE-A hão de ser considerados.
De tal sorte, DE XIS A
ÍPSILON # de ENTRE XIS E ÍPSILON.
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